Jubileu: Papa confia aos jovens missão de construir «mundo mais humano» (c/fotos)

Encontro de Leão XIV com peregrinos dos cinco continentes, em clima de festa, abordou importância da fé e de relações verdadeiras

Roma, 02 ago 2025 (Ecclesia) – O Papa desafiou hoje jovens católicos dos cinco continentes a um compromisso solidário e de fé, para a construção de um mundo “mais humano”.

“Refleti sobre o vosso modo de viver e procurai a justiça para construir um mundo mais humano. Servi os pobres e dai assim testemunho do bem que sempre gostamos de receber do nosso próximo. Adorai Cristo no Santíssimo Sacramento, fonte da vida eterna. Estudai, trabalhai e amai segundo o exemplo de Jesus, o bom Mestre que caminha sempre ao nosso lado”, disse Leão XIV, na vigília de oração do Jubileu dos Jovens, que reuniu centenas de milhares de peregrinos na esplanada de Tor Vergata, arredores de Roma.

O Papa ouviu questões de três jovens, em nome da multidão, sobre os temas da amizade, coragem e fé.

“Quanto precisa o mundo de missionários do Evangelho, que sejam testemunhas de justiça e paz! Quanto precisa o futuro de homens e mulheres que sejam testemunhas de esperança! Queridos jovens, esta é a tarefa que o Senhor Ressuscitado confia a cada um de nós”, declarou.

Leão XIV chegou ao local em helicóptero e passou entre a multidão, em veículo aberto, saudando os jovens, durante largos minutos.

“As relações com outras pessoas são indispensáveis para cada um de nós, a começar pela razão de que todos os homens e mulheres do mundo nascem filhos de alguém. A nossa vida começa com um vínculo e é através de vínculos que crescemos”, indicou o pontífice, numa intervenção em espanhol, italiano e inglês.

O Papa sublinhou que a cultura desempenha um “papel fundamental”, como código para entender-se a si mesmo e ao mundo.

“Buscando apaixonadamente a verdade, não apenas recebemos uma cultura, mas transformamo-la através das escolhas de vida. A verdade, com efeito, é um vínculo que une as palavras às coisas, os nomes aos rostos. A mentira, pelo contrário, separa estes aspetos, gerando confusão e mal-entendidos”, acrescentou.

A resposta à questão sobre a amizade abordou o impacto da internet e das redes sociais nas relações humanas, que se podem tornar “confusas, ansiosas ou instáveis”.

“Estes instrumentos tornam-se ambíguos quando dominados por lógicas comerciais e interesses que destroem as nossas relações em milhares de fragmentos”, assinalou.

Leão XIV alertou para os “algoritmos”, que dizem o que cada um “deve ver, pensar” e quem devem ser os “amigos”.

“Quando o instrumento domina o homem, o homem torna-se um instrumento: sim, um instrumento do mercado e, por sua vez, uma mercadoria. Só relações sinceras e laços estáveis fazem crescer histórias de vida boa”, alertou.

Queridos jovens, procurai o bem uns dos outros. Gostar do outro em Cristo, saber ver Jesus nos outros: a amizade pode, verdadeiramente, ver o mundo, a amizade é um caminho para a paz.”

Este foi o segundo encontro dos jovens com o Papa, neste evento do Ano Santo: na terça-feira, Leão XIV passou de surpresa, em carro aberto, na Praça de São Pedro, para saudar os participantes no final da Missa de boas-vindas.

O antigo superior geral da Ordem de Santo Agostinho citou esta figura da Igreja, bispo dos séculos IV-V, para apontar ao desejo de “vida boa” que existe no coração humano.

Santo Agostinho, recordou, “passou por uma juventude tempestuosa, porém não se conformou, não silenciou o clamor do seu coração”.

“A amizade com Cristo, que está na base da fé, não é apenas uma ajuda entre muitas outras para construir o futuro, é a nossa estrela polar”, sustentou, considerando que o vínculo com Jesus torna as relações “sinceras, generosas e verdadeiras”.

Sobre a questão da liberdade, a resposta papal apontou à necessidade de “escolher alguém”, indicando que a “escolha por excelência” tem a ver com a própria vida.

“Queridos jovens, aprende-se a escolher através das provações da vida e, antes de tudo, lembrando que fomos escolhidos. Tal memória deve ser explorada e educada. Recebemos a vida gratuitamente, sem a escolher”, afirmou.

Leão XIV apresentou o “amor de Deus” como fundamento da liberdade”.

“O encontro com Jesus corresponde às expectativas mais profundas do nosso coração, porque Ele é o Amor de Deus feito homem”, acrescentou.

Pedindo “escolhas radicais e cheias de significado”, o Papa referiu que “o matrimónio, a ordem sagrada e a consagração religiosa expressam a doação de si mesmo, livre e libertadora”.

Leão XIV apontou como segredo da felicidade a capacidade de “dar a vida pelos outros”.

O Papa liderou uma pequena procissão, carregando a cruz do Jubileu, na qual foi acompanhado por um grupo de sete jovens, dos vários continentes, ao som do hino deste Ano Santo, dedicado à esperança.

Na resposta à questão sobre fé e espiritualidade, Leão XIV lembrou que, “para convocar este Ano Jubilar, o Papa Francisco publicou um documento intitulado Spes non confundit, que significa a esperança não engana”.

A cada passo, enquanto buscamos o que é bom, peçamos-lhe: fica connosco, Senhor. Fica connosco, porque sem ti não podemos fazer o bem que desejamos. Tu queres o nosso bem; na verdade, Tu és o nosso bem. Quem te encontra também quer que os outros te encontrem, porque a tua palavra é uma luz mais brilhante do que qualquer estrela, que ilumina até a noite mais escura.”

 

Leão XIV lembrou duas joves que faleceram durante o encontro jubilar, a espanhola Maria, de 20 anos, e a egípcia Pascale, de 18 anos.

“Escolheram vir a Roma para o Jubileu dos Jovens e a morte chegou nestes dias. Rezemos juntos por elas, também pelos seus familiares, os seus amigos e comunidades. Que Jesus Ressuscitado as acolha na alegria e na paz do seu Reino”, disse, pedindo ainda orações por um jovem espanhol que se encontra internado.

O Papa citou os seus antecessores, em várias ocasiões, e recordou que “Bento XVI gostava de dizer que quem acredita nunca está sozinho”.

“A minha oração por vós é que possais perseverar na fé, com alegria e coragem! E podemos dizer: obrigado Jesus por nos teres amado, por nos teres chamado. Fica connosco, Senhor”, concluiu.

Depois do momento de diálogo com o pontífice, a vigília prossegue com adoração eucarística, antes de novo momento musical.

Os peregrinos começaram a acorrer à área de Tor Vergata a partir do início da manhã; durante a tarde, a animação desde o palco decorreu em três sessão diferentes, inspiradas nos temas das perguntas ao Papa, com projeções em vídeo, testemunhos e atuações de vários artistas.

Estima-se que cerca de um milhão de participantes passem a noite no local, onde Leão XIV vai presidir à Missa, pelas 09h00 de domingo.

O Jubileu dos Jovens conta com 11 527 participantes portugueses, a maior delegação num evento do género, no estrangeiro.

OC

Jubileu: E se pudesse fazer uma pergunta ao Papa? Peregrinos vão questionar Leão XIV sobre amizade, coragem e fé

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