Jubileu: Encontro de «influencers católicos» reforça atenção da Igreja a nova fronteira de missão

Padre Miguel Neto, da Diocese do Algarve, sublinha necessidade de passar da lógica instrumental a uma «verdadeira evangelização» do mundo digital

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Carlos Borges, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 28 jul 2025 (Ecclesia) – O Vaticano recebe entre hoje e amanhã um inédito Jubileu dos Missionários Digitais e Influenciadores Católicos, que reforça a atenção da Igreja Católica a uma realidade em permanente mutação.

“A minha grande preocupação tem a ver com os discursos de ódio, os posicionamentos incorretos e acho que a Igreja, em vez de estar a usar as ferramentas do digital, o ambiente digital para a sua evangelização, há de evangelizar verdadeiramente o mundo digital”, disse à Agência ECCLESIA o padre Miguel Neto, sacerdote da Diocese do Algarve que está a preparar a defesa de uma tese de doutoramento em comunicação, centrada no clero português e “competências digitais”.

O encontro, no contexto do Ano Santo, reúne mais de mil participantes, vindos de 58 países.

“Quis ver quem são as pessoas de carne e osso que estão por trás dos influencers digitais católicos e tentar perceber como é que a Igreja pode, já não apenas utilizar o mecanismo digital, porque acho que temos de dar um passo em frente, que é evangelizar o mundo digital”, refere o padre Miguel Neto.

Para o sacerdote português, este passo exige “formação e disponibilidade” dos agentes católicos.

“Até este momento, demos muita importância à componente técnica, à imagem e é importante. Agora, acho que a Igreja precisa de cuidar da mensagem e do conteúdo”, indica.

O entrevistado sublinha o lema deste evento jubilar, ‘Uma Igreja sem fronteiras’, como forma de superar a “fragmentação” entre os ambientes físico e digital.

O padre Miguel Neto aponta como caminho “menos intensidade, menos concentração de atividades num curto período, mas maior contínuo de evangelização e de comunicação da mensagem do Evangelho”.

“Acho que é o maior desafio da Igreja, no mundo digital, é criar uma linha comum de pensamento e de vivência cristã”, acrescenta.

Segundo o Vaticano, este Jubileu é para “todos aqueles que evangelizam no ambiente digital, compartilhando a mensagem do Evangelho em redes sociais, blogs, canais e aplicativos”.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Entre as participantes está a irmã Xiskya Valladares (Nicarágua), cofundadora de ‘IMisión’ e integrante do grupo de trabalho sobre “missão no ambiente digital”, criado pelo Papa Francisco após a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo, em 2023.

A religiosa disse à Agência ECCLESIA que este é um momento “importante” para os que desenvolvem a sua missão no ambiente digital, que exige “conteúdos e uma presença que não são os mesmos de qualquer influenciador, mas que têm valores e um sentido católico”.

“Um influenciador católico ou um missionário digital é uma pessoa que se preocupa em transmitir a fé, contagiar a fé nos ambientes digitais, não apenas àqueles que já acreditam, mas sobretudo e especialmente àqueles que não vão às igrejas, que não estão nas paróquias”, precisa.

A especialista identifica desafios “importantes”, como a linguagem ou o conhecimento técnico, alertando para a tentação do “protagonismo” e da “manipulação”.

O programa de dois dias inclui conferências, workshops, momentos musicais, painéis de partilha, trabalhos em grupo e várias atividades paralelas.

Após a Missa de abertura, os peregrinos reuniram-se no Auditório da Conciliação para a inauguração do Jubileu, na presença do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, de D. Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, e de Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação.

O arcebispo Fisichella disse aos participantes que “o mundo de hoje não ouve influenciadores, ouve testemunhas, e se ouve influenciadores, é porque são testemunhas”.

“Sejam, então, testemunhas, capazes de revelar o valor do silêncio”, recomendou.

Paolo Ruffini, por sua vez, convidou a mudar a relação entre influenciadores e seguidores de acordo com o paradigma de Jesus, procurando “dar um significado profundo à palavra amizade”.

O cardeal Parolin dirigiu-se aos peregrinos para destacar que “falar de missão digital não significa reduzir a evangelização a uma questão técnica ou de comunicação, mas sim reconhecer que o digital faz parte da forma como cada vez mais pessoas pensam, sentem, pesquisam e se relacionam”.

CB/OC

Igreja/Comunicação: Vaticano promove inédito Jubileu dos Missionários Digitais

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