Papa presidiu a comemoração dos Mártires e Testemunhas da Fé do século XXI





Roma, 14 set 2025 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje a perseguição aos cristãos, no século XXI, falando numa celebração ecuménica que evocou mais de 1600 “novos mártires” de várias confissões, no contexto do Jubileu promovido pela Igreja Católica.
“Infelizmente, apesar do fim das grandes ditaduras do século XX, ainda hoje não acabou a perseguição aos cristãos; pelo contrário, em algumas partes do mundo, aumentou”, disse, na homilia da comemoração dos “Mártires e Testemunhas da Fé do século XXI, que decorreu na Basílica de São Paulo fora de muros, em Roma.
A cerimónia inclui leituras bíblicas, antes da reflexão de Leão XIV, a proclamação das bem-aventuranças, intenções de oração e a apresentação da história de vida dalgumas testemunhas de fé, como a irmã Leonella Sgorbati, morta na Somália em 2006, ou um grupo de cristãos evangélicos mortos por terroristas em 2019, no Burquina Faso.
Esta celebração ecuménica acontece, simbolicamente, na festa litúrgica da Exaltação da Santa Cruz, com 24 delegados de várias Igrejas e comunidades cristãs.
“Muitos irmãos e irmãs, ainda hoje, por causa do seu testemunho de fé em situações difíceis e contextos hostis, carregam a mesma cruz do Senhor: como Ele, são perseguidos, condenados, mortos”, advertiu o pontífice.
O Papa começou por saudar os representantes das Igrejas Ortodoxas, das antigas Igrejas Orientais, das comunhões cristãs e das organizações ecuménicas, convidadas para esta celebração.
“Estamos convencidos de que o martyria (testemunho) até à morte é ‘a comunhão mais verdadeira que possa existir com Cristo que derrama o seu sangue e, neste sacrifício, aproxima aqueles que outrora estavam’”, indicou Leão XIV, citando São João Paulo II.
Onde o ódio parecia permear todos os aspetos da vida, estes audaciosos servos do Evangelho e mártires da fé demonstraram de forma evidente que o amor é mais forte que a morte”.
A 7 de maio de 2000, durante o Grande Jubileu, o Coliseu de Roma acolheu representantes das Igrejas e comunidades eclesiais de todo o mundo para uma celebração ecuménica pelas” Testemunhas da Fé” do século XX.
Mais de 25 anos depois, Leão XIV evocou os mártires do século XXI, afirmando que Cristo “tomou sobre si o ódio e a violência do mundo, para compartilhar o destino de todos aqueles que são humilhados e oprimidos”.
Representantes de várias confissões cristãs acenderam uma lâmpada, ao ler a história dos mártires contemporâneos, depositando-a junto ao altar.
“São mulheres e homens, religiosos e religiosas, leigos e sacerdotes, que pagam com a vida a fidelidade ao Evangelho, o compromisso com a justiça, a luta pela liberdade religiosa onde ela ainda é violada, a solidariedade com os mais pobres”, indicou o Papa.
Leão XIV destacou a importância de celebrar estes “corajosos testemunhos de fé”, num Ano Santo dedicado ao tema da esperança.
“É uma esperança cheia de imortalidade, porque o seu martírio continua a difundir o Evangelho num mundo marcado pelo ódio, pela violência e pela guerra; é uma esperança cheia de imortalidade, porque, apesar de terem sido mortos no corpo, ninguém poderá silenciar a sua voz ou apagar o amor que deram; é uma esperança cheia de imortalidade, porque o seu testemunho permanece como profecia da vitória do bem sobre o mal”, precisou.
O Papa apresentou os mártires como símbolo de uma “esperança desarmada”.
“Eles testemunharam a fé sem nunca usar as armas da força e da violência, mas abraçando a força frágil e mansa do Evangelho”, acrescentou.



A homilia evocou figuras como a irmã Dorothy Stang, “empenhada na causa dos sem-terra na Amazónia”.
A missionária norte-americana foi assassinada no dia 12 de Fevereiro de 2005, com seis tiros, na cidade de Anapu, sudoeste do Pará, onde defendia os direitos dos trabalhadores rurais e projetos de desenvolvimento sustentável na região; tinha 73 anos de idade e morava no Brasil há 30 anos.
“Quando aqueles que se preparavam para matá-la lhe perguntaram se estava armada, ela mostrou-lhes a Bíblia, respondendo: ‘Esta é a minha única arma’”, relatou o Papa.
“Penso no padre Ragheed Ganni, sacerdote caldeu de Mossul, no Iraque, que renunciou à luta para testemunhar como se comporta um verdadeiro cristão. Penso no irmão Francis Tofi, anglicano e membro da Melanesian Brotherhood, que deu a vida pela paz nas Ilhas Salomão”, acrescentou.
Leão XIV assumiu a intenção de “preservar a memória” destas figuras, juntamente com os irmãos e irmãs das outras Igrejas e comunidades cristãs.
“Não podemos, não queremos esquecer. Queremos recordar. Fazemo-lo, certos de que, tal como nos primeiros séculos, também no terceiro milénio o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”, sustentou.
Desejo, portanto, reiterar o compromisso da Igreja Católica em guardar a memória dos testemunhos da fé de todas as tradições cristãs. A Comissão para os Novos Mártires, junto do Dicastério para as Causas dos Santos, cumpre essa tarefa, colaborando com o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos.”
No final da sua intervenção, o Papa evocou um menino paquistanês, Abish Masih, morto num atentado contra a Igreja Católica, que tinha escrito no seu caderno: “tornar o mundo um lugar melhor”.
“Que o sonho desta criança nos incentive a testemunhar com coragem a nossa fé, para sermos juntos fermento de uma humanidade pacífica e fraterna”, concluiu.
Segundo os números adiantados pelo Vaticano, o grupo dos novos mártires, mortos no século XXI, incluem 314 testemunhas da fé da Améria, 43 da Europa, 277 no Médio Oriente, 357 na Ásia e Oceânia, 634 na África e 110 mortos durante as missões, em várias partes do mundo.
O Jubileu, com raízes no ano sabático dos judeus, consiste num “perdão geral, uma indulgência aberta a todos, e na possibilidade de renovar a relação com Deus e o próximo”.
Esta indulgência implica obras penitenciais, incluindo peregrinações e visitas a igrejas.
O Papa Bonifácio VIII instituiu, em 1300, o primeiro Ano Santo – com recorrência centenária, passando depois, segundo o modelo bíblico, cinquentenária e finalmente fixado de 25 em 25 anos.
O atual Ano Santo começou com a abertura da Porta Santa, na Basílica de São Pedro, na vigília do último Natal, pelo Papa Francisco.
OC