Jubileu 2025: Proposta de perdão da dívida tem de passar pelas multinacionais, diz colaboradora do Papa

Irmã Alessandra Smerilli, secretária do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, participou em conferência da UCP

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lisboa, 09 jan 2025 (Ecclesia) – A secretária do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé) disse hoje à Agência ECCLESIA que a proposta de perdão das dívidas dos países pobres, no Jubileu 2025, tem de passar também pelas “multinacionais”.

“Não basta apelar aos Estados para dizerem que têm de perdoar a dívida, é preciso falar com as grandes multinacionais, é preciso perceber como podemos agir para que nenhum país seja oprimido”, referiu a irmã Alessandra Smerilli.

A colaboradora do Papa, que está em Lisboa a convite da Universidade Católica Portuguesa (UCP), considera que “é preciso criatividade” para responder ao desafio lançado por Francisco, neste Ano Santo.

“Em comparação com as grandes campanhas do ano 2000, do último Jubileu, alguma coisa mudou: as dívidas muitas vezes são entre nações e nações, não só multilaterais, e não só de Estados, são dívidas com grandes privados, com multinacionais, por isso a criatividade é necessária para perceber com quem é preciso falar”, precisou.

O Papa insistiu hoje no perdão da dívida de países pobres e nos pedidos de justiça ecológica, num encontro com embaixadores dos cinco continentes, no Vaticano.

“Apelo às nações mais ricas para que perdoem as dívidas dos países que nunca as poderiam pagar. Não se trata apenas de um ato de solidariedade ou de magnanimidade, mas sobretudo de um ato de justiça, marcada também por uma nova forma de iniquidade da qual estamos hoje cada vez mais conscientes: a dívida ecológica, particularmente entre o Norte e o Sul”, referiu o discurso dirigido aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé.

Para a irmã Alessandra Smerilli, este conceito de “dívida ecológica” precisa de “ser explorado”.

“Muitas nações, nalgumas partes do mundo estão endividadas economicamente também porque foram exploradas e estão a sofrer as consequências de uma crise ecológica que não provocaram, por isso somos nós que estamos em dívida para com elas”, sustenta.

A responsável inaugurou a conferência ‘Integral Human Development: Pathways to the Common Good’ (Desenvolvimento Humano Integral: Caminhos para o Bem Comum) organizada pela Católica Doctoral School (CADOS).

‘Desenvolvimento Humano Integral’ é um conceito cunhado pelo Papa Paulo VI na sua encíclica ‘Populorum Progressium’ (O desenvolvimento dos povos, 1967), na qual indicava a necessidade de ” promover todos os homens e o homem todo”.

“O desenvolvimento não é apenas económico, não é apenas as dimensões materiais de uma pessoa, mas é também espiritual, relacional. Não é de uma única pessoa, mas de todas as pessoas, sem excluir ninguém”, sublinha a irmã Alessandra Smerilli, economista.

Foto: Agência ECCLESIA/OC

A secretária do Dicastério responsável por este setor assinala que a reflexão do Papa Francisco, nos últimos anos, sublinhou a preocupação com a “Casa Comum”, foco da sua encíclica ecológica e social ‘Laudato si’ (2015).

A religiosa italiana elogiou o programa de pós-doutoramento da UCP por abordar a realidade “concreta” do país.

“Corremos o risco de falar de grandes conceitos, de problemas globais, mas depois não conseguimos olhar para situações reais”, indicou.

Não podemos falar de desenvolvimento se não olharmos para todas as dimensões e, necessariamente, tudo isto tem de ser interdisciplinar: o economista tem de falar com o especialista em saúde, com o urbanista, com aqueles que lidam com a educação”.

A Universidade Católica Portuguesa promove entre hoje e sábado a conferência final do segundo programa de pós-doutoramento em Desenvolvimento Humano Integral, num evento que visa a apresentação dos resultados da investigação.

OC

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