Jovens: «Quando o caminho não é em linha reta parece que perdemos tempo», mas essa é «uma conceção errada» – Adriana Abreu

Conquistar a liberdade interior deu à jovem de 22 anos a capacidade para contrariar o calendário de vida, estudar Medicina e entrar na vida religiosa

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 12 jul 2023 (Ecclesia) – Adriana Abreu, estudante de Medicina e aspirante à vida religiosa, diz que os jovens devem desconstruir o significado de “calendário de vida” e entender que o tempo “é dado para ser administrado” com “liberdade interior” e não como escravidão.

“O calendário de vida é uma conceção muito errada; é nestas desconstruções que Deus nos vai construindo. É preciso deixar-se desconstruir, deixar cair essas formalidades que nos escravizam – não temos de fazer tudo certo, tudo de seguida. É preciso ter liberdade interior para furar esses esquemas. Há muito a tentação de pensar que estamos a perder tempo quando o caminho não é em linha reta, mas isso não é verdade”, conta à Agência ECCLESIA.

A jovem de 22 anos, sentindo um forte apelo à vida contemplativa, suspendeu, no 1º ano de formação médica, a matrícula para viver nove meses numa ordem religiosa; passados alguns anos olha para essa experiência como um tempo de “muita beleza”.

Foi uma experiência muito feliz. Guardo desse tempo o gosto pelo silêncio. A vida contemplativa mostrou-me a importância do silêncio e de trabalhar pelo mundo. Percebi que apesar de ser uma vida muito bela, ainda não estava no sítio certo. Foi preciso meter marcha atrás e enveredar por outro caminho. Sinceramente foram tempos muito belos e se voltasse atrás, faria o mesmo caminho”, recorda.

Adriana Abreu terminou agora o 4.º ano de Medicina e é junto da congregação Apresentação de Maria que caminha, sendo aspirante à vida religiosa há cerca de cinco meses.

“Houve luta, algum combate, claro, eu gosto de coisas muito certas e programadas e isto da vida religiosa era algo novo. Comecei o meu discernimento e nessa altura acreditava que era chamada à vida contemplativa, onde estive nove meses, depois de terminar o 1º ano na Faculdade mas havia qualquer coisa me puxava cá para fora, parecia que estava a recusar alguma coisa a Deus. Voltei, então, para a Faculdade e de uma forma simples e orgânica encontrei as irmãs da Apresentação de Maria”, detalha.

Hoje, esta jovem de 22 anos, original da paróquia de São Sebastião, na diocese de Setúbal, sabe que será feliz no serviço, independentemente do lugar e das tarefas confiadas.

“A minha vida faz sentido se for entregue. Seja qual for o meu caminho no final, vai ser no serviço que me vou encontrar a mim e Deus; é no lugar do serviço que Deus quer morar comigo”, reconhece.

Adriana Abreu decidiu estudar medicina impulsionada pelo estudo da sua irmã dentista e hoje entende esta formação como “ um lugar de serviço”: “É também uma forma de morrermos para dar vida aos outros. Tenho descoberto áreas que me cativam muito: estar em contacto com o paciente em fim de vida é algo que me toca muito. No fundo é onde a ciência, a medicina e a espiritualidade se tocam mais. É um lugar duro mas de muita beleza”.

No verão de 2022 Adriana foi voluntária na iniciativa que os Silenciosos Operários da Cruz desenvolvem, no Santuário de Fátima, há 14 edições, para oferecer férias a pessoas com deficiência e às suas famílias.

Se as pessoas soubessem o que ali se passa não ia haver espaço para tantos voluntários. É um lugar de profundo encontro com Deus. Depois de as crianças e os jovens dormirem, geralmente os pais ainda ficavam acordados e os voluntários também. Era de uma beleza extrema o que ali se passava: as conversas, a profundidade a que se chegava, às vezes rezávamos com os pais e via-se que ficavam muito agradecidos e tocados com a nossa entrega, mas mal sabem eles quem nos entrega mais. É uma experiência transformadora. Não é um voluntariado a dar festinhas e beijinhos, exige de nós, mas tudo o que é bom, belo e verdadeiro, exige de nós”, traduz.

“É preciso baixarmo-nos, estar ao nível da humanidade, misturarmo-nos. Jesus não olha de cima para baixo, mas ao nosso lado. De vez em quando pomo-nos em bicos de pés, e devemos cultivar a humildade, é preciso ir abaixo – não como humilhação, mas como caminho da humildade”, reforça.

O caminho de descoberta da Igreja de Adriana Abreu, vinda de uma família não praticante, vai estar no centro da conversa emitida esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando posteriormente disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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Agência ECCLESIA

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