Jovens migrantes no centro da Peregrinação de Agosto

Frei Francisco Sales Diniz, director daOCPM, explica objectivos das iniciativas centradas nas migrações A Mobilidade Humana é tema da peregrinação internacional de Agosto ao Santuário de Fátima, que hoje tem o seu início, e recolhe a atenção da Igreja ao longa desta Semana Nacional das Migrações. O tema escolhido para a Semana Nacional das Migrações, os Jovens Migrantes, vem na sequência do apelo lançado por Bento XVI no Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. “No contexto das actuais migrações, são os jovens que protagonizam os grandes movimentos na procura de espaço para construir a sua vida com mais dignidade”, explica ao Programa ECCLESIA, o Frei Francisco Sales Diniz, director da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) que coordena a Semana. Ao celebrar a semana de migrações “a Igreja portuguesa procurou estar em sintonia com a Igreja universal, acolhendo o lema do Papa”. Esta é uma realidade percebida tanto em Portugal, como nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. “Os jovens são os protagonistas das migrações. E são em especial as mulheres que emigram”, esclarece o director da OCPM, acrescentando que as mulheres estão muitas vezes expostas a redes de tráfico humano. “Chegam-nos notícias por vezes de trabalho quase escravo”, aponta o director da OCPM apontando uma lacuna “nas estruturas sociais, através da legislação, e nas estruturas eclesiais que não estavam preparadas para acolher e acompanhar estas situações”. A juventude ganha uma vulnerabilidade especial. “É uma fase da vida mais generosa e mais aberta e não criam as defesas próprias de viver em sociedade”. O contexto da migração é de “luta e por isso é um contexto mais exposto à exploração”. Esta é uma realidade que o Frei Sales aponta como essencial na ajuda “às comunidades em Portugal também porque devemos lembrar-nos das comunidades portuguesas no estrangeiro, em particular às segundas e terceiras gerações que, nascendo no estrangeiro não deixam de ser portuguesas pois vivem a nossa cultura, e também precisam ser apoiadas”. Melhores recursos Bento XVI aponta na sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que “quem sai dos países de origem é a juventude dotada de melhores recursos intelectuais enquanto que nos países que recebem os imigrantes estão em vigor normativas que dificultam a sua inserção”. Esta é uma realidade sentida também em Portugal, “em especial de jovens que chegam dos países nórdicos, com cursos superiores e especializações”. Portugal é dos países que apresenta maior dificuldade “a nível legislativo em reconhecer os conhecimentos”. O Frei Sales adianta que o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural – ACIDI – está “junto das associações de imigrantes a tentar agilizar esta questão”. Recentemente a comunicação social divulgou os valores que as universidade cobram pelo reconhecimento de competências, onde ficou patente que “as pessoas que têm já experiência laboral na área, são obrigadas a repetir formação que frequentaram anos antes”. O Director da OCPM afirma que em Portugal não se está aproveitar a mão-de-obra especializada, “em áreas que estão em falta em Portugal e podiam ser uma mais-valia para o nosso país”. A burocracia é uma entrave. “Encontramos músicos, médicos, professores, economistas a trabalhar nas obras”. O Frei Sales afirma que o imigrante tem dificuldade na primeira abordagem. “É preciso criar uma base de confiança para descobrir a sua formação, pois o imigrante tem medo de que o patrão descubra a sua formação e seja despedido”. Trata-se de ir ao encontro e ajudar a pessoas “a perder os seus medos e a reconhecer os seus direitos para conquistar o seu espaço”. Quanto aos portugueses que partem para outros países, a situação repete-se. No entanto o Frei Sales aponta que “faltam estatísticas sobre a emigração”. A abertura de fronteiras da União Europeia quebrou barreiras entre os países europeus “e a emigração para França ou Espanha muitas vezes não é considerada como tal, pois são todos cidadãos europeus”. O director da OCPM adianta que muitos jovens portugueses que saem são “quadros superiores que não encontram espaço em Portugal para trabalhar. Quem emigra tem de se sujeitar ao que encontra e começar por um trabalho muito diferente dos seus estudos”. Frei Sales indica ser necessária uma reflexão “por parte do Estado sobre o porquê da saída de tantas pessoas de Portugal”. A informação que chega à OCPM sobre os números da emigração “é assustadora” e, neste momento, “superior à imigração”. No entanto, Portugal “actualmente é porta de entrada para a União Europeia e sítio de passagem para muitos imigrantes”. A emigração sazonal de trabalho é outra realidade a que a OCPM está atenta, pois “o aliciamento das pessoas dá azo ao desconhecimento de direitos e regalias que conduzem a situações de escravatura”. Existem muitos portugueses a viver em zonas de fronteira com o objectivo de trabalhar em Espanha, por exemplo. E estas são realidades a considerar “sempre na dinâmica das migrações e da mobilidade humana”, sublinha o Frei Sales. Acompanhamento integral O factor económico e a procura de melhores condições do vida são determinantes, mas a preocupação da OCPM é fazer um acompanhamento integral, nomeadamente no aspecto religioso. Desde a sua fundação, em 1962, que a OCPM começou a estruturar as chamadas “missões portuguesas no estrangeiro para acompanhar as comunidades portuguesas”. O Frei Sales aponta boas estruturas em alguns países com a presença de sacerdotes e outros agentes pastorais. “Na Suíça há 24 paróquias portuguesas”, mas as comunidades são igualmente muito expressivas na Alemanha e em França “onde existem mais”. O Frei Sales fala de comunidades de língua portuguesa, pois “às comunidades portuguesas juntam-se os africanos e os brasileiros”. Registam-se também muitos sacerdotes e religiosos brasileiros e africanos a colaborar nas comunidades tanto na Europa, como no Canadá ou Austrália. A dimensão religiosa para quem está fora do seu país de origem “representa muito”. Quando se olha o fenómeno das migrações, a religiosidade das pessoas “prende-as à sua terra natal, mas é também uma questão de segurança”. Frei Sales indica que os emigrantes portugueses “agarram-se a todas as tradições e devoções e quem parte procura unir-se à Igreja e ao grupo religioso da mesma língua como forma de integração e apoio”. Devoção mariana Nossa Senhora de Fátima está presente em todas as comunidades. “Todos os emigrantes celebram a sua devoção mariana e quando regressam a Portugal de férias, não há emigrante que não passe em Fátima”. Por isso, a Peregrinação Internacional de Agosto, em Fátima, é dedicada aos emigrantes. “Começou por ser para os emigrantes, mas actualmente é a peregrinação dos migrantes, onde tentamos acolher quer os migrantes portugueses quer também os estrangeiros que estão em Portugal”. Esse é também o motivo porque, todos os anos, há uma comunidade específica “no coração da peregrinação”. Este ano será a comunidade africana de língua portuguesa em Portugal que terá maior destaque. Também por isso, quem preside à peregrinação é D. Zacarias Kamwenho, Arcebispo de Lubango, Angola. A peregrinação está inserida na Semana Nacional das Migrações, promovida pela OCPM que coordena a nível nacional inúmeras actividades distribuídas pelos Secretariados Diocesanos das Migrações. “Foi distribuído pelas dioceses todo o material de «marketing» da semana acompanhado de algumas indicações celebrativas, em especial para o dia 17, dia em que encerra a semana” e que “consideramos ser o dia do emigrante em Portugal”. Em Fátima, a Peregrinação começa hoje com uma conferência de imprensa onde se “pretende veicular uma mensagem de sensibilização sobre as questões das migrações”. Estarão presentes em Fátima D. Zacarias Kamwenho, um representante da capelania dos africanos em Portugal e D. António Vitalino, Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana. Frei Sales manifesta a vontade de, através da comunicação social, “reflectir sobre os problemas da comunidade africana em Portugal”, isto apesar de os africanos estarem presentes em Portugal há vários anos. As próprias celebrações dos dias 12 e 13 “terão a marca da mobilidade”. D. António Vitalino preside à cerimónia desta noite e dia 13, amanhã, será D. Zacarias Kamwenho a presidir à celebração. O Frei Sales recorda que ao longo dos anos que tem acompanhado as comunidades emigrantes no estrangeiro “tenho encontrado muitas celebrações marianas”. Algumas muito recentes “mas que já deixam marca”, acrescenta. As primeiras gerações são as responsáveis por levar na sua bagagem o culto mariano, mas que, posteriormente, se espalha nas gerações mais novas “que chegam a ser os organizadores das celebrações”. Fenómenos interessantes da ligação a Portugal e das gerações entre si. “Os jovens migrantes protagonistas da esperança, como realça a mensagem do Papa, evidencia que apesar de terem nascido no estrangeiro, as segundas e terceiras gerações mostram a sua ligação ao país de origem”, evidencia o director da OCPM.

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Agência ECCLESIA

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