José Dias: Um cristão que incarnou os documentos conciliares

Quando já passaram 50 anos sobre o II Concílio do Vaticano “é entristecedor verificar que ainda há tanta gente que tem na sua cabeça uma imagem de Igreja piramidal”, escreveu José Dias da Silva (1942-2013), num blogue onde colocava as suas ideias centradas na fidelidade ao Evangelho.

Quando já passaram 50 anos sobre o II Concílio do Vaticano “é entristecedor verificar que ainda há tanta gente que tem na sua cabeça uma imagem de Igreja piramidal”, escreveu José Dias da Silva (1942-2013), num blogue onde colocava as suas ideias centradas na fidelidade ao Evangelho.

Temos uma pirâmide com o “Papa no vértice recebendo ordens «do alto» e dimanando-as por aí abaixo: do papa para os bispos, dos bispos para os padres”. Esta imagem “clássica dura e perdura porque os católicos não estudam, não reflectem os documentos do Magistério, não aprofundam os seus conhecimentos, contentando-se com a sua limitada catequese de infância com dezenas de anos”, lamentava o Zé Dias (era desta forma que gostava que os amigos o tratassem)

Bastariam alguns textos para perceber que a Igreja comunhão “é a ideia central e fundamental dos documentos do Concílio” (Sínodo de 1985). “O centro, portanto, não é o Papa, mas a Eucaristia, Jesus Cristo: nada se pode antepor a Jesus Cristo nem mesmo o Papa”, escreveu.

No dia 15 de Julho, depois de um longo e grande calvário de sofrimento, faleceu, em Coimbra, José Dias da Silva que durante décadas foi “um dos principais pontos de referência dos cristãos” de norte a sul do país, escreveu o jornal «Correio de Coimbra» na edição de 18 julho.

A sua preocupação era ser coerente com a fé em Jesus, que o animava, e com aquilo que lia da Bíblia e do pensamento social da Igreja, que conhecia – atrevo-me a dizer – como poucos. Recordo uma entrevista que concedeu à Agência ECCLESIA, na Quaresma de 2007, nesse texto o Zé Dias relata a experiência da sua doença que, “aparentemente aumentou-me mais a fé”, disse.

Natural de Souto do Brejo (Pampilhosa da Serra), onde nasceu a 15 de março de 1942, Zé Dias frequentou os seminários da Figueira da Foz e de Coimbra, onde, durante oito anos, consolidou a sua formação humana e religiosa. Descobriu que a sua vocação não era o sacerdócio e licenciou-se em Físico-Química, na cidade do Mondego. Conciliou, com lucidez, a fé e a ciência. A reflexão sobre as consequências sociais e políticas do evangelho foi uma das suas grandes paixões e os seus escritos eram um manancial que ajudavam a descodificar e a viver os documentos conciliares.

Foi o responsável pelo módulo de Doutrina Social da Igreja na Escola de Leigos da diocese de Coimbra, além de ter orientado e participado em dezenas de cursos e encontros. Colaborador do Instituto de Estudos Teológicos, publicou os livros «Viver o Evangelho Servindo a Pessoa e a Sociedade – Introdução à Doutrina Social da Igreja» (ed. Gráfica de Coimbra) e «Memórias de um Tempo Futuro», que reúne crónicas publicadas na revista Além-Mar, (Missionários Combonianos), e no jornal «Correio de Coimbra».

Em todos os escritos e intervenções, mesmo nas conversas pessoais que mantinha, vinha ao de cima a sua profundidade bíblica e teológica, aliada às preocupações sociais. Num dos textos que escreveu no blogue, José Dias colocava o dedo na ferida: “A fragilidade do cristianismo provém, em grande parte, do analfabetismo religioso” e “este analfabetismo dos cristãos – e aqui não falo só dos leigos – inclui a própria catequese clássica desajustada aos tempos de hoje e facilitadora de uma leitura ideológica do Evangelho, mas sobretudo refere-se à doutrina conciliar e à Doutrina Social da Igreja”.

 LFS

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Agência ECCLESIA

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