A décima nona edição das Jornadas Teotonianas, organizadas pelo arciprestado de Monção, terminaram com uma homenagem ao seu patrono com a execução do “Hino a São Teotónio” e uma conferência sobre a vida e obra do primeiro santo português. No último dia desta versão minimalista do fórum cultural em que se tornou a iniciativa, o Grupo Coral Deu-la-Deu executou, em primeira audição, o “Hino a São Teotónio”, com música de Joaquim Santos e letra de Januário Santos. Segundo João Manuel Duque, que dirige o coral de Monção, trata-se de uma obra de sabor popular conjugada com boa arte, o que a torna num «hino valioso». Depois, José Paulo Abreu, professor de História da Igreja na Faculdade de Teologia de Braga, foi maestro de uma “sinfonia do tempo” que, para sublinhar a vida e obra de São Teotónio e a extensão da influência da sua acção, começou pelo aparecimento da vida monacal no Oriente. Os traços do retrato de Teotónio apresentam-no como homem que influenciou pelo seu testemunho de vida, que pode ser resumida no título de “bom samaritano”, fruto da sua humildade, oração fervorosa, asceta e místico, honesto nos costumes e detentor de uma linguagem cuidada. Nascido na valenciana freguesia de Ganfei, em 1090, o primeiro santo português foi formado em Coimbra e Viseu. Na primeira cidade, depois de visitas à Terra Santa, adere aos Cónegos Regrantes e acaba por ser eleito «por unanimidade » prior de uma das casas que mais influência há-de exercer na da vida dos primórdios da nacionalidade. A sua autoridade era tal que admoestou o Rei D. Afonso Henriques pelo facto de ter feito escravos “moçárabes” capturados durante campanhas militares, tendo obtido a sua libertação. O mosteiro implantado no meio da cidade, algo inédito à época e na tradição dos monges, habitualmente em lugares retirados, rapidamente se tornou num alfobre de bispos para as dioceses que se iam fundando e de cronistas recrutados pela realeza. Mas, Santa Cruz de Coimbra distingue-se pela sua acção pastoral e assistencial, tendo mesmo um hospital. No terreno intelectual, os “Crúzios”, como são também designados, estão na origem dos estudos universitários, fruto do mosteiro se ter tornado num dos principais centros de produção de manuscritos, ter criado uma enorme biblioteca, tendo instalado uma tipografia. Santa Cruz de Coimbra, à imagem da grandeza do prior Teotónio, mantém-se durante muito tempo como “cabeça” de 20 mosteiros, quase todos no Norte do país, oferecendo inovação em diversos sectores da vida. No encerramento destas Jornadas Teotonianas e diante da figura do seu conterrâneo, D. José Augusto Pedreira – Bispo de Viana do Castelo – reiterou que a Igreja de hoje tem de continuar a aposta na «formação dos leigos», para fazer chegar a mensagem do Evangelho. Esta sessão marcou, ainda, a despedida do arcipreste de Monção, o padre Avelino Felgueiras Marques, que agora deixa a iniciativa «nas mãos dos mais novos».