Liliana Marques Pimentel, Diocese de Coimbra
O que temos vivido nos últimos dias no nosso país tem sido absolutamente inacreditável, não deixa ninguém indiferente, crentes ou não crentes, católicos ou não católicos!
Durante estes dias a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa já ganhou, na opinião pública, a imagem real da sua dimensão e é uma presença diária nos meios de comunicação social em todo o mundo. No entanto, e apesar dessas notícias correrem o risco de se tornarem efémeras, há outras que vão ficar para sempre e que, provavelmente, nem serão notícia. Se retirarmos dos noticiários os assuntos relacionados com a JMJ Lisboa 2023, o que vemos são notícias relacionadas com a guerra num impasse angustiante, os custos com a habitação a aumentar, a esperança dos jovens a esfumar-se nos sonhos para as suas vidas, enquanto fazemos zapping entre “casos e casinhas”. Temos muitos motivos para não ver o verdadeiro contributo que este evento trouxe, mas creio, com toda a certeza, que não será assim. Esta JMJ tem tudo para ser um verdadeiro concentrado de esperança que todos precisamos, e na altura ideal! O Papa Francisco sabe disto muito bem, olha para esta JMJ com entusiasmo de que não tenho memória em outras edições.
A Igreja, em Portugal, e um pouco por todo o Mundo, tem de ter a coragem de fazer surgir mais “fazedores” de esperança e “executores” da mesma que, a exemplo do que o Papa Francisco pede, tenham o desejo de preferir “hospitais de campanha” a uma igreja sentada ou fechada. São várias as mensagens que o Papa Francisco nos trouxe durante estes dias, apelou para “não termos medo de nos sentir inquietos, de pensar que tudo o que possamos fazer não basta. Neste sentido e dentro de uma justa medida ser descontente é um bom antídoto contra a presunção da autossuficiência e do narcisismo”. E continua dizendo como devemos fazer: “À universidade que se comprometeu a formar as novas gerações, seria um desperdício pensá-la apenas para perpetuar o atual sistema elitista e desigual do mundo com o ensino superior que continua a ser um privilégio de poucos (…). Se quem recebeu um ensino superior não se esforça por restituir aquilo de que beneficiou, significa que não compreendeu profundamente o que lhe foi oferecido”.
Em Portugal, o caminho de preparação desta JMJ trouxe um novo impulso às organizações juvenis nas paróquias e dioceses. A partir de formas mais tradicionais ou de outras mais experimentais, os jovens tiraram o “fato da primeira comunhão”, uniram-se para levar esta notícia a mais pessoas e foram protagonistas. Ousaram fazer diferente, fortalecendo (ou criando) os contactos com as comunidades civis locais e, mesmo nas paróquias onde cresce a desertificação populacional, juntaram-se a outras para quebrar fronteiras e superar as dificuldades.
A peregrinação dos símbolos da JMJ (Cruz peregrina e o ícone da Nossa Senhora) foram o pretexto e conseguiram estar em cada canto do nosso país, transportados a pé, de barco ou até de avião. Estas estruturas juvenis locais apontam a uma nova organização pastoral de muitas dioceses e paróquias e, se forem motivadas pelos seus responsáveis, serão a nova realidade da Igreja em Portugal. Não aproveitar este impulso, será um retrocesso muito significativo na forma de ser Igreja.
Depois de uma pandemia e tudo o que isso gerou, Portugal foi chamado novamente a mostrar uma respostas conjunta e, para isso, conta com todos: inscritos, não inscritos, com fé ou sem fé… todos estão a ser tocados por esta “onda” e são convocados para serem um instrumento desta mudança. Há que continuar! “Devemos reconhecer a urgência dramática de cuidar da casa comum. (…) Não podemos contentar-nos com simples medidas paliativas ou com tímidos e ambíguos compromissos”.
Liliana Marques Pimentel
Comissão Diocesana Justiça e Paz de Coimbra