Jogos Olímpicos nada alteram

Expectativas goradas para quem acreditava que a realização dos Jogos Olímpicos em Pequim ia favorecer uma abertura e um clima de maior diálogo entre os cristão e o governo chinês. Esta é a perspectiva do Pe. Manuel Augusto, Director da revista «Além-mar». “A China apostou muito nos Jogos Olímpicos mas não como ocasião de abertura”, explica à Agência ECCLESIA, apenas como “afirmação cultural e política”. O Pe. Manuel Augusto dá conta da abertura da China ao mundo, mas não “de forma a que o mundo entre na China”, destaca. A esperança de muitos cristãos na China estava depositada nos Jogos Olímpicos para que esta ocasião mostrasse “uma certa abertura, mesmo que de modo indirecto”. Também a Igreja fora da China esperava “que esta ocasião oferece-se oportunidade para contactos e uma certa afirmação da comunidade cristã”, indica o director da publicação missionária. Antes da inauguração dos Jogos Olímpicos “assistimos a um fechamento maior com as autoridades a apertarem o controlo nas actividades religiosas”. Por outro lado, os Jogos Olímpicos “não trouxeram oportunidade para os cristãos terem visibilidade”, indica. O governo de Pequim apertou o controle “para que os Jogos Olímpicos não fossem utilizados como ocasião para manifestações”. O Pe. Manuel Augusto sublinha, no entanto, a atitude diplomática e protocolar do governo ao convidar as religiões para a inauguração do evento desportivo. Apesar do diferendo pessoal com o Cardeal Joseph Zen, Bispo de Hong Kong, “é importante sublinhar que a Igreja católica foi convidada”. O Bispo Auxiliar de Hong Kong, D. John Tong Hon, esteve presente na inauguração do evento desportivo. O atrito “regista-se fundamentalmente no conceito de liberdade religiosa”, aponta. “De forma realista”, o que se pode esperar é que o diálogo “continue”. Uma expressão que “já vinha de trás entre o governo e a Santa Sé”. O Pe. Manuel Augusto indica que os Jogos Olímpicos terão um efeito positivo para mostrar à China que as nações não são inimigas da China. “Quando insistem na questão da liberdade e dos direitos fundamentais, fazem-no numa base positiva de fraternidade”. Se a China perceber “que não tem inimigos em todo o lado, é positivo”. O Pe. Manuel Augusto rejeita o cenário de “uma revolução a nível religioso”. “Não como fruto dos Jogos Olímpicos e este é um processo muito lento”, reconhece. Os chineses devem “rever a sua atitude perante as religiões”. No contexto confuccionista a religião está sujeita ao poder político, uma realidade oposta ao que a Igreja católica preconiza. O sacerdote espera que o diálogo entre a Santa Sé e a China conduza a um entendimento sobre o posicionamento da Igreja na vida social chinesa. Uma vez que o entendimento “é lento”, o Pe. Manuel Augusto opta por destacar os passos de diálogo por parte da Santa Sé e da China. Bento XVI dirigiu, em 30 de Junho de 2007, uma carta aos católicos da China “e esta não foi abertamente rejeitada”, afirma, indicando este como um sinal positivo. Outro passo significativo é a “constituição da Comissão de personalidades para reflectir sobre a Igreja na China”. “Todas as palavras que, de vez em quando o Papa faz sobre a China são fundamentais”. Do lado da China, o Pe. Manuel Augusto sublinha o facto “de não terem havido reacções negativas nem à carta nem a estes passos que a Santa Sé tem dado. Há uma atenção da parte chinesa a uma abertura que possibilite o diálogo”. Os frutos desse diálogo “são seguramente lentos”, sobretudo para se chegar ao entendimento desejado pela Santa Sé no que respeita à ordenação dos bispos e à reorganização da Igreja no país asiático. Os Jogos Olímpicos são apenas uma “marca do desportivismo”. O Pe. Manuel Augusto acredita que prever consequências a partir do evento desportista “é fruto da nossa boa vontade”. Os Jogos “aproximam as nações, do ponto de vista desportivo e da cultura, e nesse aspecto podem ser uma preparação para uma aproximação noutras áreas”, pois favorecem o “espírito da liberdade”, indica. “Mas alterar o quadro de relações entre o cristianismo e o governo chinês não vão alterar nada”.

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Agência ECCLESIA

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