VP – De tudo o que foi e fez João Paulo II, ao longo do seu Pontificado, qual a característica, acção ou situação que mais lhe marcou? Marcelo Rebelo de Sousa, Professor – Fé. Sentido de futuro. Capacidade de sofrimento redentor. Fé sem falhas, a determinar a radicalidade da sua vivência cristã. Sentido de futuro na visão do mundo, da paz, da crise dos sectores económicos e sociais, do vazio de valores e da exigência de um apelo ético, com coerência que mobiliza jovens, mesmo onde e quando estes se poderiam dizer afastados das suas poucas exigências comportamentais. Capacidade de sofrimento redentor, redignificando esse sofrimento, a doença, os doentes e a própria morte, caminho de redenção e de eternidade. Daniel Serrão, Professor – Admiro o enorme esforço que o Papa fez para aproximar o Papado das pessoas reais, não apenas os católicos e cristãos, mas as pessoas de todo o mundo. E esse esforço tão maravilhoso e primoroso que se revelou agora os seus resultados nas cerimónias fúnebres. Foi um acontecimento que atravessou o mundo inteiro. João Paulo II conseguiu ser um Papa que estava connosco, como se estivesse em nossa casa, como nós o conhecêssemos pessoalmente. Ele soube colocar-se à frente de todos os Chefes mundiais e à frente de todos os meios de comunicação globais. José Hermano Saraiva, Professor – O que mais me impressionou foi a força humana daquele homem. Deu realmente um exemplo espantoso de coragem na luta pelos seus ideiais. Quanto a esses ideais não vi que, ao longo do século passado, alguém fizesse tanto pela paz e pela aproximação como ele. Não houve Organizações Internacionais, não houve partido políticos, não houve ideologias que fossem tão constantes, tão coerentes e tão permanentes à defesa da paz e à condenação completa da guerra. Não basta defender a paz, pois claro que pela paz somos todos. Preciso é saber que a guerra é um crime e João Paulo II assumiu essa posição. Manuel Braga da Cruz, Professor, Reitor da Universidade Católica – João Paulo II: Um Papa que mudou a história do mundo e da Europa, e aproximou os povos, as religiões e os cristãos, deixando atrás de si um rasto imperecível de santidade. João César das Neves, Professor da UCP – O mais tocante na pessoa de João Paulo II era ver um homem que foi sempre ele mesmo, no seguimento fiel a Cristo, sem ligar a elogios ou medos, sem temer o poder ou as dificuldades. Tinha sempre os olhos fixos no Céu. Aura Miguel, Jornalista – Tenho que considerar a minha experiência pessoal e a que mais me marcou foi aquela que diz respeito aos encontros pessoais tidos com ele, mais concretamente à que se referiu à da Via-Sacra. Como é sabido, em 2001, o Papa convidou 14 jornalistas para cada um escrever uma estação da Via-Sacra, a ser feita no Coliseu de Roma, em Sexta-feira Santa. A que me calhou foi a da Crucifixão. Foi o momento mais importante da minha vida em relação ao Papa. Isto pareceu de tal maneira desproporcionado, pois ele melhor do que ninguém sabia escrever e meditar sobre a Via-Sacra. Foram 18 anos a seguir o Pontificado e ressaltou a relação humana que procurou ter com as pessoas – sempre se interessou pelo testemunho de cada uma delas – e era inimaginável que confiasse uma parte do seu Pontificado, como era a Via-Sacra, nas mãos dos jornalistas. Foi um momento muito comovente e estou-lhe muito grata por ter sido uma das escolhidas. Irene Vilar, escultora – Penso em relação a mim e não às outras pessoas. Gravei para sempre no meu coração a interpelação: «NÃO TENHAIS MEDO!», pois ao longo da minha vida, quantas e quantas vezes, eu tive medo de seguir Cristo. A gente tem medo porque é uma responsabilidade muito grande, por vezes hesitamos em segui-l’O. Portanto, essa expressão de não ter medo é bonita e adapta-se um pouco à minha vida espiritual. Agustina Bessa-Luís, escritora – O que achei mais marcante foi o sentido ecuménico que ele deu à vida e ao futuro. Ligou, enfim, mais as pessoas; ligou os continentes, de maneira que abriu um caminho que outros contiveram. Mário Cláudio, escritor – Foi, indiscutivelmente, o trabalho pela paz; não só pelo eclodir duma paz que julgávamos longínqua, mas também pela manutenção dessa própria paz. Trata-se, de facto, de um Pontificado inesquecível, não apenas no que representou em termos de progresso para o mundo em todos vivemos, como também por ter operado o milagre difícil de fazer intervir a caridade – uma das maiores virtudes humanas – em relação àqueles que não se sentiam inteiramente dentro do seio da Igreja. Manoel de Oliveira, cineasta– A figura de João Paulo II é uma figura extraordinária, das tais figuras que aparecem de tempos em tempos. Retive, sobretudo, em particular, duas coisas que ele disse. A primeira foi: «as Religiões são diferentes formar de orar ao mesmo Deus». Isto dá uma reconciliação e um entendimento mútuo entre todas elas. Aliás, as religiões do Médio Oriente derivam da mesma base cristã. A segunda é muito rica e muito simples: «Não tenham medo». São extraordinárias estas duas referências. Ruy de Carvalho, actor de teatro – Foi coragem e coerência. Considero João Paulo II um grande homem e um grande Sacerdote. Espero que o sucessor dele possa continuar a obra que ele fez. Foi um homem que dentro da Igreja abriu muitos caminhos. Deixou alguns fechados com algumas reclamações, mas nem todos se podem abrir. Não foi ele que tinha que abrir, era a Igreja, não é verdade? Ele tinha que fazer o que os outros também pensavam, mas resolveu muitas questões importantes como o ecumenismo. Assim se viu quando ele morreu, quem estava lá para o homenagear. Todas as Igrejas estavam praticamente representadas. Foi um dos grandes homens do séc. XX e também do séc. XXI. Giovanni D’Amore, tenor – Para mim ficará na história de todos os Pontificados destes últimos séculos, porque fez algo único: conseguir juntar todas religiões; destronou todas as barreiras, entre as quais o “Muro de Berlim”; abriu o diálogo entre potências; derrubou as hierarquias do comunismo nos Países do Leste; viajou como um verdadeiro Apóstolo. Foi um S. Pedro, foi a reencarnação de Cristo. Deu as costas à Cruz, o seu calvário, até ao último minuto. Ofereceu a sua doença e o seu sofrimento à humanidade inteira, o que faz com que paremos, reflictamos e continuemos aquela que é a mensagem de João Paulo II. Paco Bandeira, músico e cantor – Reconheço a aproximação aos mais desfavorecidos; a tentativa conseguida da abertura do mundo à comunicação e sua presença a alertar os mais pobres e seus direitos; a condenação às guerras, nomeadamente as que os americanos fizeram ao Iraque; foi, de facto, a sua aproximação a Cristo. Sublinho isto pela razão de não ter nada que deixar em testamento, porque não tinha bens. Foi realmente o único Papa de que eu tenho conhecimento, até à altura que eu li sobre Papas, que cumpriu na sua totalidade. Inclusive, deu-nos o exemplo do sofrimento, da humildade, do perdão. Fez-se e foi precisamente o que se aproximou mais de Jesus Cristo. Júlio Isidro, realizador de TV – Como ninguém conseguiu quase que fazer o impossível: juntar, na vida e na morte, religiões que pareciam antagónicas e às quais ele foi buscar fontes e pontes de contacto e de aproximação. Acho que foi efectivamente o aspecto mais notável. Uniu o mundo através de religiões diferentes. Fernando Santos, treinador de futebol – João Paulo II é uma figura da Humanidade, pela maneira como se apresenta a ela. Naturalmente que para nós crentes, como para mim, é mais do que isso. É claramente um Apóstolo de Jesus, que ao longo do seu Pontificado soube ser e agir com muita clareza, com muita serenidade, com muito sentido de diálogo e ser semente de esperança no mundo. Foi um homem da paz. Vítor Hugo, treinador de Hóquei – A sensação que tenho e que fico é que terá sido um dos Papas mais interventivos durante o seu ministério. Era um verdadeiro embaixador da Paz, a ponto, de facto, de andar por todo o mundo, em locais bem diferentes, sendo bem reconhecido pelo que fez. Foi um Papa “todo-terreno”, bastante interventivo, sobretudo, num momento em que julgo de alguma crise na Igreja. Foi a grande sustentação da Igreja actual. Eugénio da Fonseca, Presidente da Cáritas – O nosso Santo Padre marcou pela sua coragem em enfrentar os desafios que lhe eram colocados, não só como Pastor da Igreja Universal, mas também daqueles que eram inerentes ao mundo. Associada a esta coragem impressiona a capacidade de diálogo que demonstrou juntando aqueles influíam nos destinos do mundo. Teve um papel importante na posição geoestratégica do mundo, abrindo muitos países à liberdade e apelando a muitos outros para valores humanos, como a justiça social e a atenção aos mais pobres. Julgo que não tivemos até hoje um Magistério papal tão rico em Doutrina Social, como o legado que João Paulo II nos deixa.