No pontificado de João Paulo II, a catequese assumiu o lugar que lhe compete na missão da Igreja. O magistério catequético de João Paulo II não só foi abundante como fundamental e essencial para configurar o lugar e concepção da catequese na actividade e missão evangelizadora da Igreja. Os eixos mais significativos deste magistério encontram-se registados nos seguintes documentos: – Catechesi Tradendae (16 de Outubro de 1979) – Depois da Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi” do Papa Paulo VI (8 de Dezembro de 1985) sobre o significado, alcance, conteúdo, vias, destinatários e obreiros da Evangelização como um processo com etapas, impunha-se um texto matricial sobre a catequese como momento essencial do processo evangelizador. É neste contexto que surge a Catechesi Tradendae. Esta Exortação Apostólica define com lucidez a finalidade da catequese, entendida como direito e dever da Igreja e como tarefa prioritária, de responsabilidade comum e diferenciada; clarifica o lugar da catequese na actividade pastoral e missionária da Igreja; precisa os conteúdos fundamentais a não descurar; aponta os destinatários, as vias, os meios, métodos e pedagogias da actividade catequética; configura a especificidade de cada um dos agentes no exercício desta tarefa. – Redemptoris Missio (7 de Dezembro de 1990) – Este documento, não sendo explicitamente sobre a catequese, assume para esta um peculiar relevo porquanto reflecte e dá orientações sobre a actividade missionária e pastoral da Igreja. O primeiro anúncio (o kerigma) é um pressuposto (já desenvolvido ou a desenvolver pela catequese) essencial a toda a catequese orgânica e sistemática. – Catecismo da Igreja Católica (11 de Outubro de 1992) – O Catecismo é um texto que contribui de modo decisivo para a renovação da catequese, nos seguintes aspectos enunciados no nº 30 do Directório Geral da Catequese: no que toca ao próprio conceito de catequese como catequese de iniciação (pela estrutura e pela organicidade interna); no que se refere à orientação de fundo, o conceito de «Revelação» entendida de modo mais orgânico e integral (Bíblia, Tradição, Magistério e vida da Igreja); no que diz respeito à finalidade da catequese, visando promover a comunhão com Jesus Cristo; em relação ao conteúdo da catequese, o Catecismo suprime todas as lacunas doutrinais no que se refere à verdade sobre Deus e sobre a pessoa, sobre o pecado e a graça e sobre os novíssimos. O Catecismo, pela sua estrutura, alimenta e suscita uma relação íntima, complementar e necessária entre as várias dimensões da fé: a profissão de fé, a celebração da fé pelos Sacramentos, a opção pelos valores do Reino no quotidiano (Mandamentos); oferece critérios para o necessário discernimento teológico no que se refere à pedagogia catequética como pedagogia original da fé; promove e defende a articulação entre “texto de referência” e “inculturação da fé”. O Catecismo é também uma referência para o modo de propor ou fazer a catequese: a catequese é catecumenado, é catequese de iniciação cristã. A catequese não é simples “lição de religião”, mas o processo de incorporação na comunidade que vive, celebra, testemunha e reza a fé. O Catecismo reclama da catequese que incorpore no seu actuar as dimensões fundamentais e essenciais da existência eclesial e cristã. O Catecismo é um texto “normativo” (vinculativo) para a elaboração de catecismos locais: nacionais ou diocesanos. A elaboração destes instrumentos terá de ter em conta a reflexão catequética, a orientação catequética e a comunhão eclesial que o Catecismo sugere, exige e reclama. – Tertio Millennio Adveniente (10 de Novembro de 1994) – Esta Carta Apostólica oferece um itinerário catequético em ordem à preparação e celebração do grande Jubileu do ano 2000. Este projecto oferece os conteúdos fundamentais da catequese em articulação com a celebração dos sacramentos de iniciação cristã e com as atitudes e valores morais fundamentais. Este documento torna-se modelar para a configuração de qualquer projecto catequético porque explicita que a catequese tem de ser catequese de Iniciação Cristã, isto é, catequese que possibilita um itinerário de conversão e de crescimento na fé; um itinerário de fé como exercício de vida cristã; um itinerário de fé como formação orgânica, sistemática e básica da fé cristã; um itinerário de fé como um caminho a percorrer em diversas etapas. – Directório Geral da Catequese (15 de Agosto de 1997) – Como recorda o Cardeal Darío Castrillón Hoyos, na Apresentação e Prefácio à edição típica do Directório, este propõe-se, “fornecer «os princípios teológico-pastorais fundamentais, inspirados no Concílio Ecuménico Vaticano II e no Magistério da Igreja, aptos para orientar e coordenar a acção pastoral do ministério da palavra» e, de forma concreta, a catequese. O intuito fundamental era e é o de oferecer reflexões e princípios, mais do que aplicações imediatas ou directrizes práticas. Este caminho e método é adoptado sobretudo pelas seguintes razões: só se poderão evitar defeitos e erros em matéria catequética na medida em que, desde o início, se compreender correctamente a natureza e os fins da catequese, assim como as verdades e os valores que devem ser transmitidos. – Novo Millennio Ineunte (6 de Janeiro de 2001) – Esta Carta Apostólica conclusiva do grande Jubileu do Ano 2000, oferece um programa e algumas prioridades pastorais para o terceiro milénio. Para a catequese, revestem particular importância “algumas prioridades pastorais” em ordem a “levar o anúncio de Cristo às pessoas, plasmar as comunidades, permear em profundidade a sociedade e a cultura através do testemunho dos valores evangélicos” (n.º 29). Este documento não propõe simplesmente um conjunto de conteúdos (a santidade, a oração, a Eucaristia dominical, o sacramento da Reconciliação, o primado da graça, a escuta da Palavra e o anúncio da Palavra) mas oferece algumas orientações e indicações pedagógicas concretas. – Ecclesia in Europa (28 de Junho de 2003) – Esta Exortação Apostólica Pós-Sinodal apresenta os desafios e sinais de esperança para a re-evangelização da Igreja na Europa. A grande novidade desta exortação apostólica, no que toca à evangelização, é a caracterização dos desafios para a Evangelização na Europa. Diante destes desafios há que “voltar a Cristo, fonte de toda a esperança”. Este movimento faz-se anunciando, celebrando e servindo o Evangelho da esperança. A Europa precisa duma “nova evangelização”, porque “se o evangelho a anunciar é idêntico em todos os tempos, são diversos os modos como tal anúncio pode ser realizado. Por conseguinte, cada um é convidado a: “proclamar” Jesus e a fé nele, em todas as circunstâncias; “atrair” os outros à fé, adoptando modos de vida pessoal, familiar, profissional e comunitária conformes ao Evangelho; “irradiar” alegria, amor e esperança ao seu redor, para que muitos, vendo as suas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus (cf. Mt 5, 16) e acabem “contagiados” e conquistados; tornar-se “fermento” que transforma e anima a partir de dentro toda a expressão cultural” (nº 48). A todos estes documentos deve juntar-se ainda as Catequeses sobre o Credo proferidas nas Audiências papais das quartas-feiras. Estas oferecem conteúdos doutrinais mas também conteúdos catequéticos fundamentais. Estes documentos testemunham a vitalidade, firmeza e organicidade interna do magistério catequético de João Paulo II, no que toca aos conteúdos e às linhas fundamentais da teologia catequética, entendida como ciência teológica metódica e sistemática no proceder que atende e cuida o despertar, a iniciação e a maturidade na fé por uma série de princípios e critérios. A Catequese deste início de terceiro milénio é fruto da fecundidade do magistério de João Paulo II. Pe. João Ribeiro Director do Secretariado da Educação Cristã da diocese do Porto