João Paulo II, 25 anos depois

Nota pastoral de D. Manuel Clemente recorda primeira visita do Papa polaco ao nosso país e a mensagem em defesa dos trabalhadores Ao passarem vinte e cinco anos sobre a memorável visita do Papa João Paulo II ao Porto, facto único nos anais da Cidade Invicta, julgo oportuno retomar o essencial do seu discurso então proferido, ligando-o às actuais circunstâncias locais e regionais. Têm sido reconhecidas e analisadas as dificuldades sociais e económicas da região, em especial no que toca às empresas e ao desemprego de muitos trabalhadores. Igualmente se verificam novos surtos emigratórios, em busca do trabalho que aqui escasseia. Reconhecem-se abandonos da escolaridade, atrasos na qualificação técnica e lacunas na formação especializada, precisamente onde mais urgentes elas se tornam para o desenvolvimento. Sentem-se desencantos e desmotivações, por vezes muito precoces, em relação às perspectivas de vida, com reflexos negativos no campo da constituição e sustento da vida familiar e da disponibilidade para a participação social criativa. As boas notícias são poucas nestes campos interligados e envoltas num tom geral de apreensão sobre as capacidades da região e do país. É certo que uma visão mais atenta do que se passa com muitos concidadãos nossos e nas suas vidas pessoais, associativas e institucionais, nos faz reconhecer que também não faltam compromissos e gestos solidários. Como se destaca e louva o trabalho generoso de tantas instituições – em grande parte ligadas à Igreja Católica -, no atendimento e ajuda às diferentes necessidades, ao longo da vida de pessoas e famílias. Também se sublinham os estudos e propostas concretas para a ultrapassagem positiva das dificuldades presentes, provenientes de instituições académicas, administrativas, autárquicas e sócio-profissionais, além dos contributos de valiosas reflexões pessoais. É neste contexto que lembro o ponto essencial do discurso do Papa João Paulo II no Porto, há um quarto de século: a dignidade da pessoa humana, como referência constante da análise que se faça e da solução que se procure em qualquer situação social e económica. Dirigindo-se directamente aos trabalhadores, o Papa dizia-o assim: “A dignidade da própria pessoa que trabalha há-de ser a base e o critério a ter presente, quando se trata da avaliação de qualquer espécie de trabalho manual ou intelectual”. A consequência efectiva deste critério reside em que os intervenientes no processo de desenvolvimento, mesmo quando se tenha de proceder a grandes alterações, deslocações e até substituições e dispensas no quadro das empresas e serviços, devem pensar em alternativas viáveis para todos os eventualmente afectados, tendo em conta, aliás, as respectivas idades e famílias, além de outras circunstâncias pessoais. E, neste ponto, as autoridades públicas, primeiras zeladoras do bem comum, têm certamente de apoiar os particulares, quer empregadores quer empregados. Para mais, o trabalho, sendo certamente um meio de justa e digna subsistência, é também o caminho próprio da realização humana, devendo ser encarado como um bem social de primeira ordem. Garantir trabalho, promover a habilitação escolar e profissional, desenvolver a formação contínua – convencendo delas os próprios trabalhadores, para si e para os seus filhos – e obviar à ociosidade forçada, tudo são garantias de uma sociedade realmente desenvolvida. Longe de serem um dispêndio mais para quem tenha de gerir os recursos públicos ou privados, são o melhor investimento social e económico a médio e longo prazo e caracterizam uma sociedade saudável, a nível local, regional ou nacional e até europeu. Assim continuava o Papa, referindo-se especificamente ao emprego e ao desemprego: “Por isso, a consideração dos valores subjectivos e sociais do trabalho requer que em toda a comunidade política seja reconhecida não só a importância do trabalho mas o próprio direito ao trabalho, tudo se tente no sentido de eliminar o desemprego e o sub-emprego”. Estou certo de que os portuenses e portugueses recordam com gosto a inolvidável visita do Papa João Paulo II, há vinte e cinco anos. E que as palavras que então nos deixou iluminarão muitos dos que, nas circunstâncias actuais da sociedade e da economia, não desistem de criar um futuro em que a humanidade geral e de cada um seja o primeiro valor a garantir e promover. Uma sociedade em que caibamos realmente todos. Porto, 15 de Maio de 2007 + Manuel Clemente, Bispo do Porto Recordando a visita de 1982 O Papa no Sameiro João Paulo II beijou Portugal há 25 anos O silêncio de João Paulo II em Fátima Padre por causa de João Paulo II As viagens de João Paulo II a Fátima

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