Vaticanista destaca «marcas essenciais» do futuro beato, para lá do «fascínio» das teorias da conspiração
Lisboa, 03 set 2022 (Ecclesia) – O jornalista Octávio Carmo salienta que o pontificado de João Paulo I foram “33 dias muito marcantes”, com marcas que continuam e uma mensagem atual, mas “é inquestionável” que o atrativo para quem não conhece é a morte repentina.
“Ele foi alguém que soube falar de coisas muito profundas, de uma maneira muito simples e acho que isso é uma das marcas que fica do seu pontificado, que fica da sua vida, e fica como exemplo agora que é beato da Igreja Católica”, explica o chefe de redação da Agência ECCLESIA, no Programa 70×7, deste domingo.
Octávio Carmo realça que João Paulo I “foi um grande homem de Igreja”, que ao longo da vida procurou servi-la o melhor possível com uma noção, “quase comovente dos seus limites”, e também da força que vem da missão que “é chamado a exercer”.
O vaticanista português recorda que quando Albino Luciani (1912-1978) foi nomeando Patriarca de Veneza tem um “discurso significativo”, onde diz que “não passa de pó e que aquilo que é importante é a história da diocese, do patriarcado”, e o que aquela comunidade tem para fazer; quando foi eleito Papa nas suas mensagens coloca-se “sempre” em humildade, o seu lema episcopal.
Quando foi escolhido bispo da região norte da Itália, do Venetto, escolheu como lema episcopal “apenas uma palavra”, ‘Humilitas’ – Humildade, que “é uma marca que fica ao longo de toda a sua vida”, e a simplicidade, a proximidade dos mais desfavorecidos, “a atenção a franjas da sociedade que estavam colocadas de fora de um processo de desenvolvimento muito rápido, mas que não chegou a todos”, são marcas essenciais.
Neste contexto, para o jornalista destaca-se também a “capacidade de diálogo, de confronto sem abdicar das suas convicções” de Albino Luciani, sendo capaz de chegar a todos e falar a todos.
“Às vezes, confundindo a sua simplicidade com simplismo, e isso não faz parte do percurso de vida de Albino Luciani. Ele foi alguém que soube falar de coisas muito profundas, de uma maneira muito simples e isso é também uma das marcas que fica do seu pontificado, fica da sua vida, e fica como exemplo agora que é beato da Igreja Católica”, realçou.
João Paulo I ficou conhecido pelo “Papa do sorriso”, e Octávio Carmo considera que isso “monopolizou muito a atenção sobre o que era esta figura”, o percurso que ele fez como padre e bispo, como Patriarca de Veneza, “que é uma responsabilidade significativa na Itália”, e os seus dias como pontífice.
O Papa João Paulo I vai ser beatificado este domingo (4 de setembro), a Missa da penúltima etapa para a declaração da santidade, pela Igreja Católica, vai ser presidida por Francisco, na Praça de São Pedro, a partir das 10h30 (menos uma hora em Lisboa), no Vaticano.
Para o chefe de redação da Agência ECCLESIA, e vaticanista, é muito interessante, agora que a beatificação permite “olhar com mais calma para Albino Luciani”, perceber que “há muitos sinais” de que a vida deste homem acaba por ser inspiração para o Papa Francisco.
“Há uma história de quando ele era patriarca de Veneza costumava andar com o traje eclesiástico, mas sem as vestes cardinalícias, a pé, pela cidade, de transportes públicos, faz-nos lembrar o que era o cardeal Bergoglio, em Buenos Aires. Efetivamente, o despojamento do pontificado de tudo aquilo que possa descentrar a atenção do essencial é uma marca que continua no Papa Francisco”.
Octávio Carmo afirma que “é inquestionável” que o grande atrativo para quem não conhece João Paulo I, “e até para quem não é católico”, é a morte repentina deste Papa, e não o seu pontificado e ação.
“Apesar do fascínio que todas as teorias da conspiração têm, ainda hoje com o Papa Bento XVI e a sua renúncia continuam a persistir, quando se fala da Igreja Católica não podemos deixar que isto seja uma sombra sobre a figura de um grande homem”, explica.
Segundo o vaticanista, para além do pensamento, posições e ação de João Paulo I, o seu pontificado teve “33 dias muito marcantes” também pelo impacto que a sua morte permitir uma “mudança significativa na eleição do sucessor”, para o Colégio Cardinalício “há uma espécie de sinal” e a sucessão dos Papas “não pode continuar eternamente a ser feita dentro do cardinalato italiano”.
“Acredito que sem esta morte, no contexto que ela se deu, tão dramático e difícil de entender, ainda hoje tão difícil de assumir, quase como se o colégio cardinalício tivesse levado um puxão de orelhas, é que permite que haja uma mudança tão radical. Mas insere-se numa linha de ação e de pensamento e de maneira de estar que tinha sido aberta por São João Paulo I”, desenvolveu.
O Programa ‘70×7’, deste domingo, dia 4, é dedicado à vida de João Paulo I, pelas 17h30, na RTP2, onde Octávio Carmo destaca o momento desta beatificação para a Igreja Católica, que vive um sínodo, “em termos eclesiais depois do Vaticano II é o grande momento de debate, de auscultação e mobilização das comunidades católicas”, e para a sociedade “tentar retomar o que foi o seu ensinamento” de procurar o encontro, o diálogo, a cooperação e “nunca tentar impor as convicções pela força sobre os outros”.
CB
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