JMJ Lisboa 2023 – É impossível esquecer

Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Isabel Figueiredo, Diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

A primeira semana de agosto de 2023 dificilmente será apagada da memória de todos os que a viveram. Uns mais do que os outros, é bem verdade. Existirá sempre uma diferença enorme entre quem prepara e organiza uma Jornada Mundial da Juventude e quem a usufruí plenamente, enquanto peregrino ou família de acolhimento, duas realidades identitárias de cada Jornada.

Pessoalmente estou do lado da longa, dolorosa e entusiasmante preparação. Quando o seu anúncio ainda se falava à porta fechada, quando os primeiros nomes de possíveis responsáveis estavam escritos numa simples folha de papel; quando não havia sede, nem dinheiro e não se sabia com quem contar; quando as equipas não se conheciam e tudo era distante e desconhecido; quando a pandemia nos paralisou e adiou; quando se tomaram as primeiras decisões e nos  apercebemos dos erros e  das falhas; e  mesmo quando escutámos a experiência de quem tinha passado pelo mesmo, mesmo assim, não vislumbrámos o que nos esperava.

Percebi com clareza que a organização de um encontro desta dimensão, feito a pensar num todo, mas a partir de cada parte traz consigo o melhor e o pior de cada um, de cada comunidade, não enquanto comunidade paroquial, mas sim, aquele estar comunitário que congrega apenas alguns; senti na pele, o que nos tinham dito: só com oração, com fé, com esperança e caridade é possível ultrapassar as dificuldades, as tensões, as invejas, as maledicências, as fragilidades que saltam perante algo que em tudo nos ultrapassa. Ao mesmo tempo, caminham lado a lado, o bom e o belo, a humildade e a força, a coragem e a determinação, o perdão e a esperança.

Haverá sempre a tentação de se pensar que uma Jornada Mundial da Juventude, “propriedade” da Igreja Católica e concretamente da Igreja Local que a organiza, se pode preparar e fazer acontecer por dentro e para dentro, cumprindo as “nossas” regras. A experiência disse que não. A preparação e realização de uma JMJ faz-nos sair, obriga-nos a ir ao encontro do mundo, interroga-nos, divide-nos até ao momento em que percebemos com clareza que precisamos de todos. De todos sem exceção – os que partilham a nossa Fé e os que estão totalmente distantes. Os que ocupam lugares de decisão e os que estão no fim de todas as linhas de serviço. Não é a Igreja Local que se move. É o país que acolhe.

Olhando para trás, concluo que essa será uma das maiores riquezas desta ideia genial de reunir milhares e milhares de jovens, de forma regular, por todo o mundo, a partir de um simples convite: venham conhecer Jesus. Venham e vejam. Venham e vejam como eles se amam. Venham e vejam como é possível explodir de alegria porque nos encontramos na rua, como é possível ouvir um silêncio absoluto num tempo de adoração. Venham e vejam como pouco importa o cansaço, a fome, a sede. Venham e vejam como é possível abrir a casa a estranhos e dar-lhes o que temos de melhor. Venham e vejam como se anulam as diferenças culturais e sociais. Venham e vejam como é possível que tantos, mas tantos voluntários permaneçam nos seus postos de trabalho, sem conseguirem ver nada do que se passa, ao longo de uma semana extraordinária. Venham e vejam o que Jesus continua a provocar na humanidade.

Passado um ano, percebo como é grande a diferença entre quem participou, assistiu, acompanhou aquela primeira semana de agosto e quem viveu por dentro a Jornada. Em relação aos primeiros, há sempre um brilho, um entusiasmo, uma saudade que nos comove. Em relação aos segundos, e falo por mim, acredito que ainda não passou o tempo suficiente para limpar o coração e a memória de tudo o que não correspondeu à expectativa de Deus…

Mas como aprendemos, um cristão triste é um triste cristão e sei que Deus me pede alegria e gratidão. E nesta gratidão, vão passando pela minha memória os nomes e as caras de pessoas decisivas no extraordinário encontro que foi a JMJLisboa2023.

Mas permito-me referir apenas o Papa Francisco, por quem todos sentimos uma imensa gratidão. Acompanhou-nos desde o primeiro dia, rezou por nós, falou para nós, chegou e suportou o calor e o cansaço sempre com a mesma alegria e disponibilidade. Que nos deixou palavras claras, exigentes e cheias de amor e compaixão. Nesta referência abarco toda a nossa Igreja, bispos, padres, religiosas e religiosos, leigos e leigas, mais jovens e menos jovens.

Agradeço também à organização das Jornadas no Panamá, que vieram até nós, que partilharam tudo o que viveram, na ajuda fraterna de quem se sente irmão em Cristo. Assim como a equipa do Dicastério Leigos, Família e Vida, que tutela a JMJ e que esteve sempre presente, de forma discreta e segura.

Nas responsabilidades que assumi, há um sentimento de gratidão imensa a todos os voluntários que comigo trabalharam, de forma tão generosa e disponível, assim como as entidades públicas, desde a Presidência da República, ao MNE, à Camara de Lisboa, de Loures de Oeiras e Cascais, ao Grupo de Projeto, à RTP, às Forças de Segurança… todos foram incansáveis, educados e generosos, permitindo que laços de trabalho se mantenham até hoje, como laços de amizade.

Haverá sempre contas que se fazem apenas no céu. Somos demasiado frágeis na nossa humanidade para percebermos tudo o que se passa à nossa volta, mas sei e sinto que as contas da JMJLisboa2023 são claramente positivas, que irradiam a alegria e o espanto de quem se descobre amado por Jesus e que o mais importante será sempre o que se passou no coração de cada peregrino, naquela primeira semana de agosto de 2023.

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Agência ECCLESIA

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