Homilia do Bispo de Viseu na Eucaristia da Meia-noite Estamos hoje aqui em volta de uma criança que nasceu. O nascimento de uma criança é sempre um acontecimento importante. Uma criança é sempre muito importante para todos, pois ela anuncia e significa valores indispensáveis a todos os homens e a todo o mundo: paz, amor, simplicidade, alegria, verdade, vida. Por isso, Jesus dizia que escandalizar uma criança era um crime enorme e horrendo. Além disso, com o nascimento de uma criança vem fora a criança que habita em nós; a criança que somos e que recordamos com saudade, sempre que a esquecemos e a traímos, com a negação ou a traição dos valores apontados. Precisamos muito de crianças e precisamos de festejar o nascimento de cada criança, sempre como um dom de Deus Pai e Criador. Por isso é que não dispensamos o Natal: cristãos ou não cristãos; crianças, jovens ou adultos… Até os mais velhinhos… Todos paramos para celebrar o Natal. E aqui estamos nós, nesta noite, a celebrar o Natal do Deus que Se fez Menino e que nasceu para nós. É o Natal de uma verdadeira criança que, hoje, até é novidade nascer, tão raros são os nascimentos. Hoje, há muita gente que prefere só meninos de barro e é por isso que o Natal ainda é bem acolhido por todos, porque consola sempre ver os meninos de barro, uma vez que já quase não existem dos verdadeiros – os de carne, os que nascem, choram, sorriem… Estes precisam de uma Mãe e de uma família, bens que hoje também não abundam… Os meninos de barro, os descartáveis depois da Quadra, esses não pedem nem exigem nada… apenas são ornamentais… Esses aprecem, embora somente nesta Quadra, mas ainda aparecem… No entanto, nós sabemos, Jesus, que Tu continuas a teimar nascer e sabemos que, apesar de seres rejeitado, continuas a querer nascer. Tu queres nascer e nós precisamos que nasças, que continues a vir, que venhas por Tua conta, tal qual costumas fazer, pois vens por amor e este é sempre gratuito e não programado. Porém, hoje, como outrora, continuas desconcertante. Por isso, hoje, como outrora, muitos não Te aceitam, pois, numa Festa, espera-se sempre alguém importante, que possa dar-nos o que precisamos, responder-nos ao que queremos saber e Tu vens como criança, como pobre, como velhinho, como doente, como estrangeiro, como refugiado, como drogado, como sem abrigo, como um “sem lei”, tantas vezes… Vens na face dos homens, os mais diversos e os mais irreconhecíveis e, por isso, não Te conhecemos, não Te aceitamos e não Te acolhemos… Porém, é contrastante a atitude dos homens do mundo de hoje: por um lado, esperam-Te porque só Tu tens respostas capazes para os profundos problemas actuais; por outro lado, rejeitam essas respostas, pois elas passam por mudar atitudes e estilos de vida. Apesar de tudo: Vem, Senhor Jesus! Desperta a criança que vive em nós. Faz-nos desejar e cumprir a verdade, o amor, a paz, a simplicidade, a alegria, a vida, libertando-nos de todos os jugos que nos oprimem e nos escravizam. Ilumina as nossas trevas com a Tua luz para Te vermos sempre que vens a nós, mesmo nas formas e nas pessoas mais irreconhecíveis. Abre os nossos ouvidos para escutarmos todos os dias o canto dos Anjos e orienta os nossos passos para nos cruzarmos com os caminhos dos pastores e de todos os simples e para Te encontrarmos nos presépios de todas as famílias e de todos os homens. Hoje é Natal! “Hoje nasceu o Salvador, Jesus Cristo, Senhor”. Cumpriram-se todas as Promessas de Deus. Precisam de cumprir-se, também, todas as esperanças e todas as necessidades dos homens. Para isso, Jesus precisa de lugar: no coração do mundo e no coração dos homens. Ele é o «Conselheiro admirável, o Deus forte, o Pai eterno, o Príncipe da paz». Porquê fechar-Lhe as estalagens se Ele vem para nós, para estabelecer e consolidar o direito e a justiça? Porquê impedir a Sua vinda se Ele vem resgatar-nos de toda a iniquidade e preparar um povo purificado? Vem, Senhor Jesus! Continua a vir como criança para que todas as crianças que querem nascer encontrem em Ti um irmão que as acolha e lhes permita viver e crescer na paz e no amor… Continua a nascer e a despertar a criança que, em nós, dorme e se esquece de sorrir e de viver e de dar a mão a todos os irmãos que Tu envias como os próximos que precisam e esperam o nosso amor. Parabéns, Jesus! É o Teu Natal! No Teu Natal, saúdo todas as crianças e todas as pessoas do mundo, não esquecendo os mais pobres, os mais doentes, os mais sós, os mais tristes, os refugiados, os desprezados e excluídos do amor e da vida… Saúdo todos aqueles que, como Tu, não têm lugar para nascer ou para viver… No Teu Natal, Jesus, desejo a todos um Feliz e Santo Natal. Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra a todos os homens! AMEN! ALELUIA! D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu