«Jesus de Nazaré»: Papa «iliba» judeus pela morte de Cristo

No seu novo livro, Bento XVI atribui condenação à «aristocracia do templo» de Jerusalém

Lisboa, 02 Mar (Ecclesia) – O novo volume da obra de Bento XVI sobre «Jesus de Nazaré» defende que a condenação de Cristo à morte não pode ser imputada aos judeus, mas à «aristocracia do templo» de Jerusalém, no século I.

“No quarto Evangelho (segundo S. João, ndr), o círculo dos acusadores que pretendem a morte de Jesus é descrito com precisão e claramente limitado: trata-se precisamente da aristocracia do templo” de Jerusalém, escreve o Papa numa passagem da obra que a Agência ECCLESIA divulga hoje.

A respeito desta questão, muito discutida ao longo da história da Igreja, Bento XVI refere que, no Evangelho de João, quem acusa Jesus “são simplesmente «os judeus»”, sem que isso indique “de modo algum – ao contrário do que o leitor moderno talvez se sinta inclinado a interpretar – o povo de Israel enquanto tal”.

O Papa acrescenta que esta citação não se reveste de “um carácter «racista»”, sublinhando que “em última análise, o próprio João, quanto à nacionalidade, era israelita, tal como Jesus e todos os seus”.

Bento XVI cita também uma passagem do Evangelho de Marcos sobre o julgamento de Jesus que coloca “ao lado dos «judeus», isto é, do círculo das autoridades sacerdotais”, o grupo dos “apoiantes de Barrabás, mas não o povo judeu enquanto tal”.

Neste contexto, o Papa admite que uma “amplificação” deste grupo de pessoas, feita pelo evangelista Mateus, foi “fatal nas suas consequências”, dado que este “fala de «todo o povo», atribuindo-lhe o pedido da crucifixão de Jesus”.

“O verdadeiro grupo dos acusadores é o dos círculos contemporâneos do templo, tendo-se-lhes associado, no contexto da amnistia pascal, a «massa» dos apoiantes de Barrabás”, afirma Bento XVI.

No capítulo dedicado ao «processo de Jesus», o Papa cita outra frase do Evangelho de Mateus, na qual o «povo” afirma, a respeito da condenação de Cristo: “Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos”.

“O cristão há-de recordar que o sangue de Jesus fala uma linguagem diferente da do sangue de Abel: não pede vingança nem punição, mas é reconciliação. Não foi derramado contra ninguém, mas é sangue derramado por muitos, por todos”, alerta.

Por isso, acrescenta Bento XVI, a morte de Jesus “não é maldição, mas redenção, salvação”.

A declaração «Nostra aetate» (1965), do Concílio Vaticano II afirmou a respeito da morte de Jesus que “o mal praticado na sua paixão não pode ser atribuído indiscriminadamente a todos os judeus que viviam então, nem aos judeus dos nossos tempos”.

A segunda parte da obra «Jesus de Nazaré» é lançada no Vaticano, a 10 de Março, e vai ser apresentada em várias dioceses de Portugal, a partir de dia 11.

O primeiro volume tinha sido publicado em 2007 e era dedicado à vida de Cristo (desde o Baptismo à Transfiguração) e uma terceira parte está a ser escrita por Bento XVI, que vai abordar os chamados «Evangelhos da infância», sobre os primeiros anos da vida de Jesus.

Toda a obra começou a ser elaborada nas férias de 2003, antes da eleição de Joseph Ratzinger como Papa.

OC

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