Padre Alberto Brito, que estudou com Arturo Sosa em Roma, destaca uma figura «frontal» que fez frente ao regime de Hugo Chavez
Lisboa, 18 out 2016 (Ecclesia) – O padre Alberto Brito estudou com o novo superior geral da Companhia de Jesus, o sacerdote venezuelano Arturo Sosa, e perspetiva uma liderança “desassombrada e frontal”, apostada num serviço cada vez mais relevante na Igreja e ao mundo.
“Fui colega dele há 40 anos em Teologia, quando fizemos os estudos em Roma, e já naquela altura era um homem alegre, uma mente aberta, inteligente, um tipo sociável em todos os sentidos”, conta o padre Alberto Brito, em entrevista hoje à Agência ECCLESIA.
Desafiado a traçar um perfil do novo responsável pelos jesuítas a nível mundial, eleito durante a última reunião magna da congregação em Roma (3 de outubro), o sacerdote português começa por realçar o seu percurso académico.
Com 67 anos e natural da cidade de Caracas, o padre Arturo Sosa surge como o primeiro não europeu à frente da Ordem religiosa fundada por Santo Inácio de Loyola.
Depois de formar-se em Teologia, tirou um doutoramento em Ciência Política, chegou a provincial da Companhia de Jesus na Venezuela e destacou-se também como reitor da Universidade Católica de Táchira, altura em que “teve alguns problemas com o regime de Hugo Chavez”.
“O regime não tolerava facilmente pessoas que fossem críticas ou não tivessem de acordo, estas acabavam em dificuldades, eram postas de lado. Mas como o Arturo dizia o que tinha a dizer, e como reitor sabia o que estava a dizer, o regime tinha ao mesmo tempo consideração e respeito por ele”, realça o padre Alberto Brito.
Antes de ser eleito como superior geral, o padre Arturo Sosa estava a trabalhar em Roma, como membro do conselho do anterior superior geral jesuíta, Adolfo Nicolás.
“As atitudes é que o vão dizer, mas creio que ele, pela sua formação em Filosofia e Ciência Política, pode ajudar a que a Companhia de Jesus se situe e dialogue com o mundo concreto, se una como corpo, pois a missão de um superior geral é unir”, frisa o padre Alberto Brito, antigo responsável pela província portuguesa da congregação.
A segunda missão passa por “projetar a congregação, de modo a que ela se entregue a um serviço com cada vez mais qualidade à Igreja e ao mundo”.
Para este sacerdote jesuíta, “a Igreja não pode viver só dentro dos seus muros”, fechada da realidade, tem de saber conviver com uma sociedade feita de “muitas forças, correntes de pensamento, regimes políticos”.
E nesse sentido, uma figura como Arturo Sosa, “desassombrada e frontal”, pode ajudar a Companhia a ser “fiel” aos seu carisma, a “ir contra a corrente das coisas que não se compaginam com os critérios do Evangelho, a ir mais além, com uma visão mais ampla”, sublinha o padre Alberto Brito.
Sobre os principais desafios que o novo superior geral dos jesuítas vai ter de enfrentar, o sacerdote português aponta por exemplo “um contexto cultural cada vez mais secularizado onde a tradição cristã vai deixando de ser um quadro referencial para muita gente”.
Também “uma sociedade marcada por divisões políticas, étnicas, religiosas, pela pobreza e exclusão social, pelo fenómeno dos migrantes e refugiados”, pela falência da família, dos “laços conjugais”, pelo desafio da “educação dos jovens” para os valores.
“Há aqui uma série de apelos que vêm deste contexto em que vivemos, um pouco por todo o mundo, que estão aí, que gritam, que pedem ajuda e que importa lidar”, com “respeito pelo outro” mas também com “coragem profética e critica”, conclui o padre Alberto Brito.
JCP