Jesuitas/Coimbra: Universidade acolheu reflexão sobre «aquilo que pode ser tóxico ou está a mais na vida contemporânea»

28.ª edição do encontro «Fé e Cultura» teve como mote a pergunta «O que guardas no teu coração»

Foto: 28.ª edição do encontro ‘Fé e Cultura’, organizada pelo Centro Universitário Manuel da Nóbrega, Companhia de Jesus

Coimbra, 25 mar 2019 (Ecclesia) – O Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN), em Coimbra, promoveu um encontro promovido pela Companhia de Jesus sobre a sociedade atual, e o desafio de valorizar o essencial da vida sobre o acessório.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o provincial dos jesuítas em Portugal, padre José Frazão, destacou um convite a “olhar para aquilo que, na vida contemporânea, pode ser tóxico, que está a mais ou acaba por ser quase um veneno” para as pessoas.

Com o lema ‘O que guardas no coração’, este evento procurou “perceber que caminhos podem ajudar o Homem a reapropriar-se de uma vida boa, de uma vida sã”, explicou aquele responsável.

Esta foi a 28.ª edição do projeto ‘Fé e Cultura’, que nasceu para colocar a sociedade em diálogo com a fé, aberta a crentes, não crentes e a pessoas ainda em busca da sua espiritualidade.

Este ano, a iniciativa contou entre os oradores com figuras como o juíz Álvaro Laborinho Lúcio, a jornalista Paula Moura Pinheiro, o escritor e cronista Jacinto Lucas Pires, o chef Kiko Martins, o psicólogo clínico Eduardo Sá, e a religiosa Irene Guia, da congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus.

Um dos temas que mais marcaram o evento foi o uso das novas tecnologias, como por exemplo os telemóveis e as redes sociais, que são um bem da sociedade mas, quando utilizadas em excesso, podem comprometer a autonomia e até mesmo a liberdade das pessoas.

“Parece que o tédio está em vias de extinção, já não sabemos estar sozinhos com o nosso tempo, temos de estar sempre entretidos, sempre a comunicar, sempre autoconscientes de cada gesto que fazemos, sempre em modo selfie”, realçou Jacinto Lucas Pires.

Foto: Um dos painéis de debate do encontro ‘Fé e Cultura’, que se estendeu à Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

O escritor e cronista frisou também as repercussões que uma excessiva dependência das tecnologias pode ter ao nível do relacionamento humano.

“Até a linguagem parece contaminada, desaprendemos de falar, e como o Nanni Moretti (realizador italiano) se nós não falarmos bem não conseguimos pensar bem, não conseguimos viver bem”, completou.

A jornalista Paula Moura Pinheiro abordou em declarações à Agência ECCLESIA o papel atual dos media, que sem regras ou controlo também se podem tornar um elemento tóxico na sociedade.

“Desde que há imprensa há sensacionalismo, há manipulação, há falsas notícias. Mas à escala que temos hoje, isso tem a ver com a mercantilização que hoje é feita de tudo, incluindo da informação, que atropela muitas vezes a mais básica observância do método jornalístico”, referiu a atual apresentadora do programa ‘Visita Guiada’, na RTP2.

Dividido entre o auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra e diversos espaços da Faculdade de Direito, o evento procurou estimular o diálogo em três momentos diferentes: Centrar, Consertar e Concentrar.

O padre Nuno Branco, da organização deste projeto, explicou a referência no tema ao “coração” por ser aquilo que “anima, que dá vida, que dá alma à pessoa”, e também por envolver “a vida interior, que hoje em dia por um lado é muito descuidada, mas por outro também é muito procurada”.

Uma das palavras que foi muito ouvida durante a 28.ª edição do encontro ‘Fé e Cultura’ foi a palavra silêncio.

“De facto o silêncio é uma palavra que hoje aterroriza as pessoas em geral, a ausência de ruído, de relação, de comunicação, quando no fundo ele não é apenas um exercício de introspeção, ele abre-nos para o exterior, alerta-nos para o exterior”, sustentou aquele responsável.

JCP

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