Jesuítas: «Campinácios», o Movimento dos Acampamentos de Férias dos Colégios está a celebrar 35 anos

«É aproveitar, estar, ter tempo para rezar, estar na natureza, sem filtro» – Diogo Simões Pereira

Coimbra, 07 abr 2025 (Ecclesia) – O ‘Campinácios’, o Movimento dos Acampamentos de Férias dos Colégios da Companhia de Jesus (Jesuítas) em Portugal, está a celebrar 35 anos, e realizou um encontro nacional intergeracional, no antigo Colégio da Imaculada Conceição (CAIC), em Cernache.

“É um tempo despreocupado. Eu venho para aqui e não se pensa em mais nenhuma coisa, temos os nossos jogos, temos os momentos de oração, as Missas. Estávamos agora a ter um tempo só de estar em que podemos fazer o que quisermos. É um campo de férias, é aproveitar, estar, ter tempo para rezar, estar na natureza, sem filtros”, explicou Diogo Simões Pereira, aluno 12.º ano do Colégio São João de Brito, em Lisboa, à Agência ECCLESIA.

O jovem entrevistado, estudante do colégio jesuíta há dois anos, desde o 10º, explica o ‘Campinácios’ “não é uma daquelas atividades a que ninguém vai”, porque a maior parte das pessoas inscreve-se, e “é uma coisa muito boa para ter novas amizades”.

O Movimento de Acampamentos de Férias dos Colégios da Companhia de Jesus mobiliza, durante dez dias, por escalões, os alunos do 5º ao 12º ano do Colégio de São João de Brito (Lisboa) e do Instituto Nun’Alvres (INA), que faz parte do Centro Educativo do Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso, que, “com o tempo”, vão “criando amizades”.

“No início confesso que era um bocado tímido, ainda não me dava muito com os do INA, mas, eventualmente, os grupos vão-se fundindo, há até muitos grupos que depois combinam coisas, eles até costumam vir à festa das famílias do nosso colégio, às vezes, nós também vamos às deles”, acrescentou Diogo Simões Pereira.

Os campos de férias ‘Campinácios’ estão a celebrar os seus 35 anos, em 2025, e realizaram um encontro nacional integeracional com alunos e animadores, antigos estudantes/animadores e famílias, este fim de semana, de 4 a 6 de abril, no antigo Colégio da Imaculada Conceição, dos jesuítas em Cernache (Coimbra).

“Estes 35 anos cobre-se de uma importância mais forte porque também partiu muito da ideia dos antigos animadores, que nós chamamos os nossos ‘dinossauros’, que gostavam muito de recordar, por um lado, também de agradecer o tanto que receberam com este movimento”, explicou o assistente nacional do Movimento dos Acampamentos de Férias dos Colégios Jesuítas em Portugal.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Neste contexto, o padre Carlos Miranda destaca que é um “aniversário muito significativo para muita gente”, onde realmente tiveram “a sorte” de conseguir juntar pessoas “desde a fundação do movimento, até aos dias de hoje, “e é uma alegria também poder aqui agradecer com Deus e também agradecer uns com os outros esta história.

Já o coordenador nacional dos Campinácios, antigo aluno do colégio de Cernache, recordou que “do 5.º ao 12.º não houve um único ano que não tivesse inscrito”, e adianta que “uma parte essencial de um campo é desinstalar uma pessoa da sua realidade habitual”.

“Ou seja, nós estamos habituados a viver num ritmo assim muito acelerado, redes sociais, interações rápidas, e um campo é um convite a abrandar, de certo modo, e a ter um contacto muito mais centrado naquilo que são os pilares dos Campinácios – eu, os outros, Deus e a natureza -, que são pilares essenciais para a vivência de qualquer pessoa e que se vão perdendo neste ritmo de vida”, desenvolveu Guilherme Balhau.

O padre Carlos Miranda salienta que um dos pilares da educação dos colégios Jesuítas é formar o ser humano “como um todo, ou seja, em todas as dimensões, não só académicas”, mas também formação humana, e acreditam que “fora dos muros dos colégios” há dimensões que podem ser muito mais trabalhadas.

“Em particular, este contacto com a natureza, com a ecologia, que o próprio Papa Francisco hoje em dia tem apelado tanto, também a dimensão espiritual, a dimensão também das relações, em que os miúdos, quando estão num campo de férias, estão dez dias, 24 horas ou 24 horas, a interagir com os seus pares, e aprendem também a desenvolver muitas capacidades sociais, capacidades de interação, de trabalho de equipa, e, acima de tudo, também a reconhecer a amizade, a riqueza que há na diferença”, acrescentou o assistente nacional dos Campinácios’.

“Como o projeto educativo do colégio também é muito à volta da pastoral e da religião, os ‘Campinácios’ também puxam muito por isso, e puxam muito pela fé, e é uma maneira de aprofundar isso quer nos campos, quer nestas atividades mais ao longo do ano”, acrescentou Diogo Simões Pereira.

As inscrições para os campos de férias ‘Campinácios’ 2025 abriram este sábado, no serão, e foram também anunciadas na Missa do encontro nacional, no domingo, a vice-coordenadora nacional destacou que “há um grande entusiasmo à volta desta forma de viver dez dias no verão”, e já têm as equipas fechadas, “com animadores prontos”.

“O animador faz acontecer, mas mais que isso é exemplo, e é isso que nós também procuramos nos nossos animadores, que sejam um exemplo da fé cristã, que sejam um exemplo do espírito de campo inaciano, que consigam estar num campo desapegados, por exemplo, de um telemóvel. Que consigam viver em paz, que procurem Jesus nas suas vidas e nas suas decisões, e que representem esta alegria dos ‘Campinácios’ que nós queremos passar”, desenvolveu Sofia Ângelo.

Para a antiga aluna do Colégio São João de Brito, os ‘Campinácios’ foram “uma descoberta no 9.º ano”, e não largou mais, porque “são mesmo um bocadinho para respirar durante o ano”, uma experiência tão diferente de tudo aquilo que costuma acontecer na vida normal, “que uma pessoa sente que é mesmo bom voltar”.

CB/OC

O encontro nacional dos 35 anos dos ‘Campinácios’ juntou antigos animadores, o ‘museu’ com fotografias, vídeos, t-shirts e cartazes foi um dos pontos de reunião, e muitos levaram a família, como Ivo Reis, antigo aluno do CAIC que estava a viver uma “experiência nostálgica”, começou como participante, em 2001, e animou o último campo, em 2014.

“A experiência mesmo dos campos de férias é como animador, acho que como participante é só um pulinho até se fazer mesmo a experiência que é ser animador, mas, acima de tudo, é aqui uma experiência de gratuitamente, tentar levar os participantes a uma experiência diferente de viver o dia a dia, sobretudo uma experiência de comunidade”, salientou, à Agência ECCLESIA.

O antigo aluno explicou que a “grande luta do crescimento dos campos de férias”, ao longo do tempo, foi como passar “de uma experiência bonita, de passar 10 dias no meio da floresta a tomar banho num rio, sem casas de banho, até transformar isto numa experiência ao longo do ano”.

“E conseguiu-se construir ao longo dos anos uma relação entre aquilo que era o projeto educativo dos colégios e a experiência vivida nos campos de férias. E isto tem muito a ver com os alicerces da espiritualidade inaciana, onde nós estamos todos alicerçados”, acrescentou Ivo Reis.

Os antigos animadores Madalena Ramalho e Francisco Maia, alunos do Colégio São João de Brito, são um dos casais que começou uma relação a partir de um campo de férias dos ‘Campinácios’.

“Eu era diretor adjunto nesse ano, em 2017, e a Madalena era animadora pela primeira vez, e foram uns amigos nossos, que também estavam a animar esse campo, que nos foram juntando; há um momento no campo que é a novela, em que nós fazemos um teatro para os miúdos, e puseram-nos como casal, depois aproveitámos, a seguir ao campo, e íamos combinando coisas juntos”, recordou Francisco Maia.

Para Madalena Ramalho, “a grande coisa que realmente ficou foram as pessoas e os amigos”, e conta que do que tem “mais saudades” é da natureza, de estar 10 dias fora de casa, “desligada, do telemóvel, só com pessoas que são boas”, e a fazer coisas que, “noutra situação qualquer da vida” não fariam, “como tomar banho no rio todos os dias, lavar a loiça no rio, ir à casa de banho numa latrina”, coisas que desafiavam e tiravam estas “crianças muito sortudas” da zona de conforto.

Francisco Maia destaca a “capacidade de adaptabilidade”, porque “há campos de férias que têm incêndios pelo meio”, e têm que se adaptar, conseguir juntar a GNR, a proteção civil, coordenar entre todos, “conseguir mudar de um dia para o outro o local de campo de férias” e que os miúdos “estejam seguros e estejam a aproveitar”, sem passar essa preocupação para os alunos.

“E depois este sentido de comunidade que temos entre animadores também, estas ligações que vamos criando entre animadores que são muito, muito fortes, são dez dias, depois ainda temos dias, três dias antes e depois, (9:21) de preparação e depois de desmontagem, que criam aqui ligações muito fortes e amizades que ainda hoje se mantém e estamos cá hoje por causa disso, dos ‘Campinácios’”, desenvolveu o entrevistado.

 

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