Jesuítas abertos ao mundo

Provincial português deixa um balanço a propósito da 35ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, após dois meses de trabalhos Um fogo que acende outros fogos A 35ª Congregação Geral da Companhia de Jesus foi, em primeiro lugar, uma forte experiência espiritual para os 225 jesuítas de todo o mundo que nela participaram. Creio poder dizer-se que esta experiência espiritual, em que nos sentimos conduzidos pelo Espírito Santo, foi profundamente marcada pela eclesialidade e pela universalidade. Eclesialidade, em primeiro lugar, porque o Papa Bento XVI quis manifestar-nos a sua proximidade e confiança, ao afirmar que a Igreja continua a contar com a Companhia de Jesus e que deseja ver os jesuítas presentes nas encruzilhadas que são decisivas para os destinos da Humanidade. Esta presença em situações de fronteira – lembrou o Santo Padre – tem de estar alicerçada numa fé sólida e numa formação profunda que tornem possível o confronto e o diálogo em contextos sociais e culturais muito diversificados, como são os do mundo de hoje. O Santo Padre, por outro lado, encorajou a Companhia de Jesus a permanecer fiel ao trabalho “entre os pobres e com os pobres” como exigência que decorre do Evangelho e que se concretiza, por exemplo, no serviço e acompanhamento dos refugiados. A importância do ministério dos Exercícios Espirituais foi, igualmente, sublinhada pelo Papa como um dom recebido e preservado pela Companhia de Jesus mas que se destina a toda a Igreja. A proximidade cordial e a confiança exigente do Sucessor de Pedro marcaram, de forma indelével, os trabalhos da Congregação Geral e levaram-nos a querer corresponder-lhes com a manifestação do nosso afecto e a renovação da nossa fidelidade e disponibilidade. Ao fazê-lo, estamos, afinal, a reviver o que foram os inícios da Companhia de Jesus, quando Santo Inácio de Loiola e os seus companheiros se puseram à disposição do Papa Paulo III para melhor poderem servir a Igreja universal. É esse desejo de universalidade que nos anima também hoje, quando desejamos pôr ao serviço de toda Igreja os dons que o Senhor nos concede. Nesse sentido, no mundo globalizado em que vivemos, ainda mais importante se torna a disponibilidade para servir onde for mais necessário e urgente, ultrapassando as fronteiras que tantas vezes nos dividem artificialmente. Um testemunho particularmente significativo, neste contexto, é o da comunhão de quem se sente chamado e enviado por Cristo, apesar das muitas diferenças que nos caracterizam. Foi neste ambiente de eclesialidade e universalidade que a 35ª Congregação Geral da Companhia de Jesus aceitou a renúncia do P. Peter-Hans Kolvenbach, Superior Geral desde 1983, e elegeu o P. Adolfo Nicolás para lhe suceder. Em diversas ocasiões, a Congregação Geral manifestou, com emoção, a profunda gratidão da Companhia de Jesus ao P. Kolvenbach e também o Santo Padre o quis fazer com palavras particularmente significativas. Na figura do P. Kolvenbach e, igualmente, na do P. Nicolás, a Companhia de Jesus revê, afinal, a sua vocação missionária. Ambos deixaram os seus países de origem para viverem e trabalharem em culturas muito diferentes: o Líbano, no caso do P. Kolvenbach, e o Japão, no caso do P. Adolfo Nicolás. Os documentos programáticos aprovados pela Congregação Geral têm todos, igualmente, a marca da eclesialidade e da universalidade, mesmo quando se debruçam sobre temas tão diferentes como: a identidade e a missão; a obediência na Companhia de Jesus; a colaboração na missão; ou as estruturas de governo. O documento que reafirma, no contexto do mundo de hoje, a identidade do jesuíta intitula-se, significativamente, “Um fogo que acende outros fogos”, citação de uma frase de Santo Alberto Hurtado, jesuíta chileno do século XX, canonizado pelo Papa João Paulo II. Esse fogo continua a ser, para o jesuíta de hoje, alimentado na relação pessoal com Jesus Cristo e leva-nos a dedicar-nos, na Igreja, ao serviço da fé e à promoção da justiça, numa proclamação inculturada do Evangelho e no diálogo com outras tradições religiosas. É, afinal, a missão de sempre e, como sempre também, exige humildade e um grande esforço de adaptação à cultura e à linguagem do tempo em que nos é dado viver. É uma missão que ultrapassa as nossas forças e diante da qual sentimos as nossas debilidades e limites. Encoraja-nos o facto de nos reconhecermos “servidores da missão de Cristo” e de podermos partilhar esta missão com muitos outros – sobretudo leigos – entusiasmados pelo mesmo ideal de servir o Senhor e a Sua Igreja. Nuno da Silva Gonçalves S.J. (Provincial da Companhia de Jesus) Notícias relacionadas • Reunião magna dos Jesuítas chega ao fim

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