Jesuítas: «100 dias de guerra na Ucrânia» e relação com a religião em destaque no novo número da revista «Brotéria»

«Tornou-se insuportável ver o cristianismo associado, de novo, ao imaginário da cruzada que une o braço da cruz ao braço da espada» – Padre José Frazão Correia

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 03 jun 2022 (Ecclesia) – O novo número da revista ‘Brotéria’, lançado hoje, destaca a guerra na Ucrânia, iniciada há 100 dias, e o papel desempenhado pelas várias Igrejas cristãs neste conflito.

“Se tanta violência poderia ser evitada nesta guerra e, dramaticamente, não o é, aos cristãos e às Igrejas, sejam elas católicas, ortodoxas ou protestantes, cabe realizar a justiça – não menos do que a justiça – de um amor que também não pode ser exigido, mas que é livremente escolhido, mesmo se contra a própria carne”, escreve o padre José Frazão Correia, no editorial da publicação dos Jesuítas em Portugal.

Num texto intitulado ‘Quando se perde a razão e se corrompe a religião’, o diretor da ‘Brotéria’ afirma que a razão e a religião, “se fossem fiéis à sua verdade mais íntima”, seriam dispositivos à altura de “inibir as disposições humanas à violência e de interromper o seu decurso”, mas são “facilmente” usadas para a justificar e a promover”.

O padre José Frazão Correia, que assumiu a coordenação da ‘Brotéria’ no início deste ano, afirma que qualquer “justificação e o apoio à guerra são perturbadores” e que entre os derrotados, “estão certamente o Evangelho e o cristianismo”, considerando “insuportável” ver o cristianismo associado, de novo, ao “imaginário da cruzada que une o braço da cruz ao braço da espada”.

Até aos nossos dias, a história da guerra cruza-se demasiadas vezes com a experiência religiosa, deixando a religião em dificuldade diante de quem a acusa de ser, à partida, causa e fator potenciador de violência. A razão, por seu lado, que tende a apresentar-se livre de crenças e de paixões e, por isso, capaz de ver clara e distintamente, suporta demasiadas vezes ideologias que defendem a arbitrariedade de uma suposta verdade que não tem de dar razões de si, nem tem de persuadir da sua justiça – acaba, ela mesma, por legitimar a violência mais irracional, gratuita e bruta”.

Neste número da ‘Brotéria’ é publicado um artigo de Kathy Rousselet, diretora de pesquisa da SciencesPo-CERI (Paris).

A autora evoca uma intervenção do patriarca ortodoxo de Moscovo, Cirilo, aquando da separação da Igreja Ortodoxa da Ucrânia em relação à Rússia (2019), na qual o líder cristão afirmava que a defesa do “único povo ortodoxo da Santa Rússia unida” não seria uma “tarefa geopolítica” ou uma “ideia imperial” de Moscovo, mas uma “ideia espiritual”.

A historiadora menciona, por exemplo, que Onúfrio, o metropolita ortodoxo de Kiev e de toda a Ucrânia (em comunhão com Moscovo), condenou mais do que uma vez a guerra, “distinguindo os decisores do conjunto do povo russo”

No início de maio, a Companhia de Jesus em Portugal informava que tinha disponibilizado duas casas para receber famílias refugiadas da Ucrânia, num total de cerca de 60 pessoas, respetivamente em Esposende e na Charneca de Caparica, na Diocese de Setúbal.

CB/OC

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