Igreja: «Deus não tem medo da nossa liberdade» – Diácono Francisco Costa Macedo

Ordenado Diácono permanente no Patriarcado de Lisboa, Francisco Costa Macedo recorda «o encontro inicial» com um «mistério que o ultrapassou» até à certeza de estar disponível para servir a Igreja e levar às pessoas, também aos reclusos que acompanha, «a certeza que Deus nunca deixa de confiar» no ser humano 

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 25 dez 2024 (Ecclesia) – Francisco Costa Macedo, ordenado diácono permanente no Patriarcado de Lisboa, disse que “Deus não tem medo da liberdade” das pessoas e confia nelas.

“Há uma passagem do Evangelho que se revelou uma descoberta muito grande: perceber que Deus pode dormir na barca da minha vida. Deus confia na nossa capacidade para levarmos esta barca a bom porto. Ele está lá e não precisa de ser acordado. Deus nunca deixa de confiar em nós, e nunca deixa de se alegrar na nossa liberdade, não tem medo da nossa liberdade. A liberdade é algo que se exercita, e que se vai aprendendo”, conta à Agência ECCLESIA.

Depois de cinco anos de formação no Seminário dos Olivais, no patriarcado de Lisboa, Francisco Costa Macedo foi ordenado diácono permanente, juntamente com outros cinco homens, para estar ao serviço da Igreja, procurando afirmar às pessoas que “ter interrogações é bom”.

“Às vezes nós andamos à procura de Deus longe demais e procuramos em coisas onde Ele não está. Isso conduz-nos a uma certa desilusão, às vezes uma certa tristeza mais ou menos latente no nosso quotidiano, e é uma pena, porque a vida vale a pena em toda a sua riqueza, e aquilo que tem de bênção, passa-nos um bocadinho ao lado”, lamenta.

Francisco Costa Macedo recorda a sua Primeira Comunhão, em Luanda, onde vivia com os pais, e após formação com o jesuíta Luís Rocha e Melo, como um momento “inicial”, tinha então cerca de nove anos.

“Tenho a primeira comunhão ainda muito presente porque me senti bastante ultrapassado por aquela celebração, por um Deus que se faz nosso alimento e que passa a ser um de nós. Aquilo acompanhou-me sempre no regresso a Portugal, na minha juventude e infância, como uma questão mais ou menos escondida e quase envergonhada, mas as questões primordiais aparecem quando nos começamos a interrogar”, recorda.

Francisco esteve 10 anos no noviciado da Companhia de Jesus, numa entrada “não para experimentar”, como sublinha, mas com “muita entrega e generosidade”, convicto que um dia seria padre jesuíta.

“Temos que ser autênticos, connosco próprios e ir escutando aquilo que parte do nosso coração, porque se andarmos a fugir a estas questões, penso que andamos sempre um bocadinho desencontrados. E foi algo que eu persegui sempre e que continuo a perseguir, porque, no final do dia, estamos sempre dentro de um mistério muito grande que nos ultrapassa e à medida que vamos mergulhando nesse mistério descobrimos que há mais questões, que há mais caminho a percorrer e que nada se esgota numa resposta definitiva”, defende.

Nesse tempo, “muito rico”, descobriu a linguagem “do silêncio, onde Deus também dá luta”, foi operário fabril e conheceu o trabalho dos irmãos de São João de Deus, num hospital psiquiátrico.

Sair do noviciado da Companhia de Jesus foi “uma decisão séria, muito rezada e muito acompanhada” que, quando assumida, trouxe paz a Francisco Costa Macedo, apesar de “todas as incertezas no futuro”.

“Diante de Deus estamos sempre despidos. A relação com Deus, ou é uma relação autêntica e verdadeira, ou então é algo que nos aliena. Se é só um conjunto de verdades e de doutrinas que nos ajudam a fazer a minha vidinha sem me questionar verdadeiramente, acho que não estamos ainda naquilo que Jesus veio anunciar, de um Deus que quer ter a ver connosco e que se mete connosco verdadeiramente nas nossas vidas, respeitando sempre a nossa liberdade, mas não deixando de nos incomodar e de nos questionar”, traduz.

Casado há 30 anos, pai de cinco filhos, Francisco Costa Macedo assume que essa é a sua verdadeiramente identidade – “um homem casado e pai de família”.

Em Mainz, paróquia alemã com uma comunidade portuguesa, onde Francisco e a família viveram durante cinco anos, foi-lhe depositada a pergunta sobre o seu serviço à Igreja enquanto diácono permanente mas a resposta foi só dada em Portugal, junto da comunidade conventual dos frades dominicanos, com o frei Filipe Rodrigues a colocar-lhe novamente a questão.

Francisco integra, há seis anos, uma equipa que visita o Estabelecimento Prisional de Lisboa: “Vamos lá perder tempo. Estamos ali, sem agenda, para escutarmos. As pessoas são carentes disso. Custa-me sempre lá entrar, mas agradeço sempre ter ido”.

A conversa com Francisco costa Macedo pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, no programa Ecclesia, emitido depois da meia-noite, e disponibilizado no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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