Jerusalém: Acreditar na paz depois de sete guerras e duas intifadas

Frei Artemio Vítores, há 43 anos na região, alerta para risco de desaparecimento das comunidades cristãs na Terra Santa

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA, na Terra Santa

Jerusalém, 30 out 2013 (Ecclesia) – O franciscano Artemio Vítores, da Custódia da Terra Santa, está há 43 anos na região e continua a acreditar no diálogo entre povos e religiões, depois de ter passado por guerras e intifadas, em Jerusalém.

“Sete guerras e duas intifadas mostram que a situação é muito difícil”, disse hoje à Agência ECCLESIA o religioso espanhol, há 43 anos na Terra Santa.

O autor do livro ‘Francisco e a Terra Santa’ recorda a chegada do Santo de Assis na 5ª Cruzada, liderada pelo cardeal Paio Galvão (Pelagius), português, na qual decorreu o diálogo com o sultão Al-Malik al-Kamil.

“O que Francisco fez há oito séculos é o que a Igreja tem de fazer hoje”, acrescenta.

Artemio Vítores destaca que o simples gesto de “cumprimentar” pode mudar relações e abrir caminho ao diálogo.

“Criou-se infelizmente o muro do coração, onde o outro foi recusado, já não existe. Um muro fomentado nas sinagogas, nas mesquitas, nas escolas”, lamenta.

Os franciscanos estão presentes na Terra Santa desde o século XIII para “recuperar os Lugares Santos e os próprios cristãos”, tendo sido os únicos católicos no território ao longo de quatro séculos.

Hoje em dia, os religiosos temem um regresso à situação que encontraram à sua chegada, dado o êxodo sistemático de cristãos.

“Caminhamos para uma situação muito difícil: em 1948, data de criação do Estado de Israel, os cristãos que viviam em Jerusalém eram 19,4 por cento; hoje não chegam a 1,4 por cento, ainda por cima divididos em 20 grupos. Em Belém, os cristãos eram 70 por cento da população, em 1967, mas hoje não chegam aos 12 por centro”, relata.

O religioso espanhol calcula que nos últimos 43 anos, os peregrinos tenham faltado em pelo menos 10.

“Se não fizermos alguma coisa, a Terra Santa vai ficar sem cristãos”, adverte.

Sem peregrinos, prossegue, “não há trabalho” e manifesta a sua preocupação ainda pela dificuldade que os cristãos sentem em encontrar habitação.

“Comprar ou alugar uma casa em Jerusalém é muito caro, há uma luta por apoderar-se delas, porque quem tiver mais casas vai controlar a cidade, judeus ou muçulmanos, porque os cristãos estão de fora”, explica.

As responsabilidades da Custódia da Terra Santa, missão franciscana internacional, estendem-se a 12 países, com grandes preocupações pela situação atual na Síria.

“Este é hoje o grande problema, a situação é dramática”, revela frei Artemio Vítores, apontando o dedo a “grupos radicais” de várias proveniências.

Até agora, duas igrejas franciscanas foram destruídas e há um êxodo dos cristãos, incluindo muitos padres de rito oriental ou protestantes que são casados e partem com as suas famílias.

“Os nossos frades estão a fazer de párocos dos católicos, dos ortodoxos e até dos protestantes”, relata.

Para o religioso espanhol, os franciscanos permanecem na Síria porque “a partir do momento em que os frades partirem, não vai sobrar uma única igreja, não vai ficar nada”.

OC

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