Jejum, oração, renúncia, reconciliação e caminhada para a Páscoa

Mensagem do Bispo do Funchal para a Quaresma O Evangelho da liturgia das Cinzas apresenta três dessas palavras – jejum, esmola, oração. Apesar de tão antigas, elas não perderam a sua actualidade embora pareçam ter passado de moda, mas podemos explicá-las de maneira adaptada ao nosso tempo, contanto que não se transforme o seu núcleo vital, para não se tornarem inofensivas e sem poder de curar as nossas enfermidades e transformar a nossa vida. Quarta feira de cinzas «Convertei-vos a mim de todo o coração» (Joel 2, 12) «Reconciliai-vos com Deus» (2 Cor. 5, 20 ss). Durante a Santa Quaresma, que se inicia nesta quarta feira de cinzas, a liturgia da Igreja vai repetir com frequência estas frases que percorrem toda a Sagrada Escritura. S. Marcos (1, 15) apresenta-nos o mesmo tema por outras palavras: «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Estas foram, segundo o evangelista, as primeiras palavras de Jesus quando iniciou a pregação do Reino de Deus. A Quaresma é um tempo de regeneração. Há palavras de Deus que são sementes da nossa santificação e vida nova e serão repetidas continuamente durante a Quaresma. O Evangelho da liturgia das Cinzas apresenta três dessas palavras – jejum, esmola, oração. Apesar de tão antigas, elas não perderam a sua actualidade embora pareçam ter passado de moda, mas podemos explicá-las de maneira adaptada ao nosso tempo, contanto que não se transforme o seu núcleo vital, para não se tornarem inofensivas e sem poder de curar as nossas enfermidades e transformar a nossa vida. Jesus admoesta-nos para não fazermos delas actos de competição mas de atenção a Deus e ao próximo. Jejuar significa ter o domínio sobre si mesmo, não depender dos aguilhões das paixões nem do que agrada em cada momento sem relação com a eternidade. A esmola ajuda a sentir a beleza e urgência da divisão ou partilha de bens, significa abrir o coração e as mãos para oferecer, sabendo que o Se-nhor em troca nos enche com uma abundância de bens, superior ao que oferecemos e nos concede a alegria e a felicidade que não poderíamos adquirir com o produto daquilo que nos privamos. Partilhar é uma palavra de Deus que nos torna semelhantes a Ele e corpo de Cristo, porque o Senhor é a oferta permanente a Deus Pai, por nós. A divisão de bens leva-nos à acção mas também à oração. Quem dá olha para Jesus Cristo, contempla a sua misericórdia que multiplica cinco pães e dois peixes para alimentar uma multidão, mas antes do milagre, eleva os olhos a Deus Pai em oração. Criai em mim um coração puro 2 – A Quaresma é uma caminhada para a Páscoa e a vinda do Espírito Santo no Pentecostes. Hoje damos o primeiro passo. A liturgia serve-se de sinais para dar o início da partida. Estes sinais mostram uma ruptura com o espírito da vida quotidiana e contribuem para marcar o começo da Quaresma. O sinal mais forte e característico do início da Quaresma são as cinzas sobre as nossas cabeças. Elas mostram a fragilidade da nossa vida e ao mesmo tempo a nossa grandeza, fomos criados para a vida e não para a morte, somos herdeiros da ressurreição de Jesus Cristo. Neste tempo santo a cor dos paramentos da liturgia é o roxo, que não significa luto ou morte, mas sobriedade, preparando-nos para a luz esplendorosa da Páscoa. A sobriedade é uma das características deste tempo santo. São Pedro exorta os cristãos para a vigilância – «sede sóbrios e vigiai …») (Ped. 5, 8). Não se canta o Alleluia que fica reservado para a noite pascal, o órgão só acompanha os cânticos, o silêncio torna-se oração para favorecer a interioridade da audição da Palavra de Deus e torná-la vida ao longo dos dias. As flores nos altares terão o cunho da simplicidade à espera da vigília Pascal para adornar o círio, símbolo de Cristo e perfumar a liturgia da ressurreição. Toda a Quaresma é um convite a dar mais tempo à oração, ao retiro, à meditação da paixão na Via Sacra e procissão dos Passos. Momento importante, para viver uma Quaresma em plenitude, é o sacramento da Reconciliação, para receber individualmente o perdão de Deus misericordioso e, se ofendemos os nossos irmãos pedir-lhes também o perdão e se difamamos o próximo reparar o bom nome. Com a confissão do pecado, proclama-se o Amor de Deus Pai. A Reconciliação é o sacramento da alegria reencontrada, o abraço do Pai misericordioso que acolheu com festa o filho pródigo que retornou à casa paterna. A Reconciliação é um sacramento festivo que faz brotar no coração arrependido e perdoado a alegria da salvação. Renúncia da Quaresma 3 – O Santo Padre Bento XVI na Mensagem para a Quaresma considera a compaixão de Jesus pelas multidões (Mat. 9, 36) e pede-nos para que o nosso «olhar» sobre o homem seja idêntico ao de Cristo. A espiritualidade da Quaresma fez renascer na Igreja várias obras de caridade, tendo em vista o verdadeiro bem do homem em qualquer parte do universo, sendo também um contributo para a Paz. Entre nós apareceu um nome novo chamado «Renúncia da Quaresma», com a finalidade de unir a conversão do coração à caridade em favor de necessidades que promovem o desenvolvimento humano e a evangelização. A nossa diocese tem participado todos os anos nesta espiritualidade de renúncia a bens que não prejudicam a nossa vida e actividade normal de cidadãos, em benefício de outras realidades que dizem respeito à vida da Igreja e das pessoas. A Renúncia da Quaresma deste ano será, como é habitual entre nós, dirigida a duas instituições, uma diocesana, a ajuda na recuperação do edifício do Seminário da Encarnação, recentemente entregue à diocese, e a outra às crianças da catequese da Diocese do Lubango, cidade fundada pelos madeirenses, em Angola. Confiamos a Maria, mãe de Jesus, a Senhora da Piedade e das Dores, a nossa caminhada quaresmal, para que ela nos conduza a Seu Filho Jesus Cristo, nosso Salvador. D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

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