Francisco incentivou a serem «um instrumento de crescimento do conhecimento, de fazer refletir e não alienar»
Cidade do Vaticano, 23 março 2024 (Ecclesia) – O Papa recebeu o grupo de comunicação italiano RAI e refletiu sobre o seu “serviço” e o “público”, palavras que descrevem “a base da missão”, lembrando que entram “todos os dias em tantas casas”, este sábado, 23 de março.
“Caros irmãos e irmãs, a RAI entra todos os dias em tantas casas italianas, praticamente em todas, e é bom pensar na sua presença não como uma ‘mesa de sabichões’, mas como um grupo de amigos que bate à porta para surpreender. E não se esqueçam do seguinte: a verdadeira comunicação é sempre uma surpresa”, disse Francisco, na audiência desta manhã, na Sala Paulo VI, no Vaticano.
Neste contexto, para além de incentivar a “oferecer uma surpresa, a fazer uma surpresa”, o Papa explicou que é bater à porta para oferecer companhia, “para partilhar alegrias e tristezas”, para promover em família e na sociedade “a unidade e a reconciliação, a escuta e o diálogo, para informar e também para ouvir, com respeito e humildade”.
A empresa de comunicação italiana RAI (Rádio Audições Italianas) que comemorou, recentemente, 70 de televisão, no dia 3 de janeiro, e 100 anos de rádio, um “duplo aniversário” que, segundo o Papa, convida a olhar para o passado e para o futuro.
“Por um lado, convida a olhar para a vossa história, tão entrelaçada com a italiana; e, por outro lado, desafia a olhar para frente, para o futuro, para o papel que desempenharão num tempo que ainda está para ser construído”, explicou, realçando ainda que estão no Vaticano e a RAI, desde o início, acompanha “de perto os passos dos Sucessores de Pedro”.
Aos dirigentes e funcionários – jornalistas, artistas, técnicos –, e seus familiares, que foram recebidos no Vaticano, o Papa salientou que a RAI foi testemunha e também é protagonista dos processos de mudança na sociedade, os media influenciam nas “identidades, para melhor e para pior e é aí que reside o significado do serviço público”.
“No campo da informação, ‘servir’ significa essencialmente procurar e promover a verdade, toda a verdade, por exemplo, combatendo a disseminação de ‘fake news’ e os desígnios desonestos daqueles que buscam influenciar a opinião pública de maneira ideológica, mentindo e desintegrando o tecido social”.
O Papa salientou que “a verdade é uma, é harmónica”, e não pode ser dividida com os interesses pessoais, por isso, significa “evitar qualquer redução enganosa”, a verdade é ‘sinfónica’ e compreendida melhor quando se há “variedade das vozes”.
Neste sentido, Francisco destacou também que “servir” na área da informação também significa “garantir um pluralismo que respeite as diferentes opiniões e fontes”, e alertou que, nesta época “rica em tecnologia, mas às vezes pobre em humanidade”, é importante promover “dinâmicas de solidariedade, salvaguardar a liberdade”, considera do ser importante “agir preventivamente, propondo modelos de regulamentação ética” quando à Inteligência Artificial.
Sobre a palavra ‘público’, o Papa recordou à delegação da RAI o trabalho da empresa estatal “ligada ao bem comum, de todos e não apenas de alguns”: “Um compromisso de considerar e dar voz especialmente aos últimos, aos mais pobres, aos que não têm voz, aos descartados”.
“Implica também a vocação de ser um instrumento de crescimento do conhecimento, de fazer refletir e não alienar – refletir e não alienar, a entrar em órbita – de abrir novos olhares para a realidade e não alimentar bolhas de indiferença autossuficiente, de educar os jovens a sonhar grande, com mentes e com olhos abertos. Essa palavra pode assustar: sonhar. Jamais perder a capacidade de sonhar; mas sonhar grande!”
No final da audiência, “depois da bênção”, Francisco observou que antigamente os Papas “usavam a cadeira gestatória”, mas, hoje, “as coisas avançaram” e usa uma “que é muito prática”, lê-se no discurso publicado na sala de imprensa da Santa Sé, referindo-se à cadeira de rodas.
CB