Israel/Palestina: «Tudo o que está a acontecer está a aumentar o ódio entre as partes», alerta cardeal Pietro Parolin

Secretário de Estado do Vaticano reforça necessidade de negociações de paz, também na Ucrânia, sublinhando disponibilidade para receber «contactos diretos»

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 14 set 2025 (Ecclesia) – O secretário de Estado do Vaticano reforçou hoje o apelo a negociações no Médio Oriente e na Ucrânia, afirmando que a guerra entre Israel e o Hamas, em Gaza, está a “aumentar o ódio”, na região.

“Tudo o que está a acontecer está a aumentar o ódio entre as partes. Quando não há um mínimo de confiança, um mínimo, de abertura em relação ao outro, tudo se torna muito mais difícil”, disse à Agência ECCLESIA o cardeal Pietro Parolin, em entrevista na Nunciatura Apostólica (embaixada da Santa Sé), em Lisboa.

O colaborador do Papa denunciou a “situação desumana” que vivem as crianças de Gaza, após a intervenção militar de Israel.

“Como poderão pensar em termos de paz e respeito também por Israel, respeito pelo povo judeu, quando passaram por experiências tão traumáticas? É preciso evitar criar estas situações que depois se tornam insolúveis”, advertiu.

Para o cardeal Pietro Parolin, o caminho passa por “ajudar as pessoas a sentir-se irmãs, a superar esta dimensão do inimigo e do adversário”, criando “as condições que possam levar à paz”.

“Não acredito que as condições atuais consigam resolver o problema do conflito e da guerra”, insistiu.

Questionado sobre o trabalho da Santa Sé na mediação do conflito na Ucrânia, o secretário de Estado destacou o “aspeto humanitário”, com trocas de reféns e devolução de crianças que tinham sido levadas para a Rússia.

“A Santa Sé, desde o início, tem-se empenhado fortemente para tentar ajudar a pôr fim à guerra. Basta pensar em tudo o que o Papa Francisco fez e quantas vezes apelou ao fim da guerra”, observou.

O responsável diplomático recordou ainda que o Papa Leão XIV “ofereceu e continua a oferecer o Vaticano, a Santa Sé, como espaço para eventuais contactos diretos entre as duas partes”.

Acredito que estamos a fazer tudo o que é possível, mas vejo que não há muita disposição para ouvir. Infelizmente, estamos a ir na direção contrária, no sentido de intensificar esta guerra, estas hostilidades.”

O cardeal Parolin insiste na disponibilidade da Santa Sé para uma mediação: “Continuamos a ter contactos com as partes e a tentar convencê-las a pôr fim, a chegar a um cessar-fogo e, em seguida, a uma negociação que permita uma solução permanente”.

O responsável está em Lisboa a convite do Patriarcado, tendo participado na celebração do Jubileu das Autoridades, após uma homenagem às vítimas do acidente no Elevador da Glória; a viagem incluiu uma deslocação a Fátima, para a celebração da peregrinação aniversária de setembro.

A respeito dos encontros de sábado, com representantes políticos e da sociedade civil, o secretário de Estado do Vaticano destacou que “há muitas razões e muitos motivos para perder a esperança hoje”.

“É preciso continuar a acreditar, porque os meios pacíficos para resolver controvérsias e conflitos, que hoje se encontram um pouco em crise, devem ser acima de tudo objeto de forte convicção por parte daqueles que querem ajudar”, declarou.

Para o cardeal italiano, as “escolhas que estão a ser feitas, escolhas de destruição e de morte, vão contra a própria humanidade e a razão

“A primeira coisa é continuar a acreditar que realmente podemos tocar o coração do homem e que podemos adotar estes sistemas para conseguir encontrar uma solução para os problemas e, acima de tudo, uma paz justa e duradoura”, concluiu.

D. Pietro Parolin foi hoje recebido no Palácio de Belém pelo presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.

OC

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