«Sinto-me um pároco. De uma paróquia planetária», afirmou o Papa Francisco
Cidade do Vaticano, 29 jan 2024 (Ecclesia) – O Papa afirmou hoje que “a verdadeira paz permanece distante” em Israel e na Palestina, sem a “solução de dois Estados”, ao jornal ‘La Stampa’, onde falou sobre o decreto ‘Fiducia supplicans’, a saúde e viagens em 2024.
“Havia o acordo de Oslo, muito claro, com a solução de dois Estados. Enquanto esse acordo não for aplicado, a verdadeira paz permanece distante”, disse Francisco, na entrevista ao jornal italiano ‘La Stampa’, divulgada esta segunda-feira, 29 de janeiro, informa o portal ‘Vatican News’.
O Papa alertou para a necessidade de um “cessar-fogo global”, a parar imediatamente as bombas e os mísseis e “pôr fim às atitudes hostis” em todos os lugares, lembrando os numerosos conflitos em curso, o diálogo é o único caminho e convidou a rezar pela paz.
“Estamos à beira do abismo”, salientou na entrevista ao jornalista Domenico Agasso, vaticanista do ‘La Stampa’.
Sobre a guerra entre Israel e o grupo palestiniano Hamas, o Papa evita “justificar as guerras, que são sempre erradas”, observando que é legítimo se defender, revela que teme uma escalada militar mas cultiva alguma esperança porque “estão a ser realizadas reuniões reservadas para tentar chegar a um acordo”, “uma trégua já seria um bom resultado”.
Outro conflito que está presente nos apelos do Papa é a guerra na Ucrânia, que começou após a invasão russa, a 22 de fevereiro de 2022, onde a Santa Sé está a tentar “mediar a troca de prisioneiros e o regresso dos civis ucranianos”, recordando as missões de paz do cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, e o trabalho “para o repatriamento de crianças ucranianas”.
O Papa respondeu também a perguntas sobre a Declaração ‘Fiducia supplicans’, do Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé), relativa a bênçãos de casais em situação irregular, destacando que “Cristo chama todos: O Evangelho é para santificar a todos”.
“Desde que exista boa vontade, e é necessário dar instruções precisas sobre a vida cristã – sublinho que não se abençoa a união, mas as pessoas – mas pecadores somos todos: Por que então fazer uma lista de pecadores que podem entrar na Igreja e uma lista de pecadores que não podem estar na Igreja? Este não é o Evangelho”, desenvolveu.
Sobre as críticas ao documento, divulgado em dezembro, Francisco salientou que “aqueles que protestam veementemente pertencem a pequenos grupos ideológicos”, as conferências episcopais africanas, como a de Moçambique e a CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé), são “um caso à parte” porque, “a homossexualidade é algo ‘negativo’ do ponto de vista cultural, não a toleram”.
“Confio que gradualmente todos se tranquilizem em relação ao espírito da declaração, visa incluir, não dividir. Convida a acolher e depois confiar as pessoas e confiar-nos a Deus”, acrescentou.
Francisco reafirmou, mais uma vez, que não está a pensar em renunciar, que se sente bem de saúde, apesar de algumas dores, e recordou ao jornal ‘La Stampa’ as próximas viagens internacionais – Bélgica, Timor Leste, Papua Nova Guiné e Indonésia, em agosto.
O portal ‘Vatican News’ divulga ainda que o Papa colocou “entre parênteses” uma viagem à Argentina, a sua terra natal, adiantando que após a canonização da Santa argentina ‘Mama Antula, fundadora da Casa de Exercícios Espirituais de Buenos Aires, prevista para 11 de fevereiro, vai encontrar-se com o novo presidente Javier Milei.
Francisco comentou também a sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2024, assinalou ainda o Dia Mundial das Crianças [a I Jornada Mundial das Crianças é em maio de 2024], o seu sonho de uma “Igreja em saída” e as suas palavras durante as congregações gerais que precederam o conclave que o elegeu como Papa, em março de 2013, afirmando que se sente como “um pároco”.
“De uma paróquia muito grande, planetária, é claro, mas gosto de manter o espírito de um pároco e estar entre as pessoas. Onde sempre encontro Deus”, concluiu o Papa.
CB/PR