Israel/Palestina: Guerra tem na origem a «ambição desmedida de alguns chefes que só sobrevivem fomentando o ódio»

Para o padre João Lourenço, biblista e investigador dos povos da Terra Santa, conflito na região deve-se a diferenças culturais e religiosas

Foto EPA/Lusa

Lisboa, 10 out 2023 (Ecclesia) – O padre João Lourenço, biblista  e investigador dos povos e da história da Terra Santa, considera que a escalada de “violência e ódio” na região deve-se “às diferenças” entre israelitas e palestinianos e à “ambição desmedida de alguns chefes”.

 “Há razões que estão estruturalmente ligadas à identidade destes povos porque são dois mundos, culturas diferentes, e também um pouco religioso, mas o religioso nem é fundamental, mas serve de capacete e cobertura para disfarçar ambições assolapadas”, referiu à Agência ECCLESIA o padre João Lourenço que já realizou múltiplas viagens de estudo à Terra Santa.

O Estado de Israel e o grupo Hamas estão, desde o dia 07 deste mês, em guerra porque existe “uma ambição desmedida de alguns chefes que só sobrevivem fomentando o ódio contra o outro”.

Esta situação só se altera se “houver disponibilidade e cedências de parte a parte, e nesse aspeto Israel também tem grandes culpabilidades, especialmente nesta última fase do seu governo”, sublinhou João Lourenço.

Como o diálogo não tem acontecido, os “grupos assanhados pelo ódio” criam destas situações.

“Isto é um massacre e uma calamidade” e apesar dos “políticos europeus e ocidentais quererem ser sempre bonitinhos, meigos e compreensivos, a maioria deles desconhece o habitat local”, lamenta o docente.

As interferências externas existem e “toda a gente sabe que o Irão é um poço satânico de ódio e fel em toda a região”.

Os grupos são alimentados “pelos subsídios” porque em Gaza “não há projetos de vida, não existem estruturas de trabalho e tudo ali é alimentado por uma falsa caridade internacional”, afirma o biblista João Lourenço que estudou na Terra Santa.

As pessoas daquela região necessitam “de ter formação e conceitos humanos que alarguem os seus horizontes” e não a falsa caridade que só alimenta a indústria do ódio e da guerra”.

As culpas estão, “profundamente, nos dois lados” e “não se deve pensar que uns são mártires e outros os tiranos”.

Israel presta-se a que, “com o andar dos tempos”, também “apareçam grupos com a mesma ideologia”, aponta João Lourenço.

O docente não entende como é que Israel “tendo uma estrutura militar das mais sofisticadas do mundo, com serviços secretos e de espionagem avançados tecnologicamente, não estão atentos a estes fenómenos” porque “Gaza invadiu Israel por mar, terra e ar”. “Isto é incompreensível”, conclui.

Ao olhar para a “tensão histórica” entre palestinianos e israelitas, João Lourenço considera que “ela é secular e perpetuou-se ao longo de várias gerações” e que conheceu “um agravamento muito intenso na primeira parte do século XX e em meados do mesmo século com a chegada a Israel de muitos grupos da diáspora judia”.

A formação, em 1948, do Estado de Israel forçou a que “parte significativa da população local, dita palestiniana, tivesse de migrar e ser quase acantonada em alguns espaços”, explicou.

Até esta segunda-feira, número de mortos em Israel e em Gaza por causa do conflito que iniciou com o ataque do Hamas, no sábado dia 7, é superior a 1300 e são mais de 5500 os feridos.

LFS/PR

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