Acordos de paz nunca foram aceites e deram origem a «grupos extremistas, fundamentalistas e terroristas» – padre João Lourenço
Lisboa, 30 out 2023 (Ecclesia) – O padre João Lourenço, biblista e investigador dos povos e da história da Terra Santa, considera que “os tempos difíceis” que se vivem no médio-oriente têm origens milenares.
“Ao longo da história, aquele espaço foi de intercâmbio cultural, mas também bélico entre os diferentes povos e habitantes locais”, disse à Agência ECCLESIA o padre João Lourenço.
O Estado de Israel e o grupo Hamas estão em guerra, desde o dia 7 de outubro, porque existe “uma ambição desmedida de alguns chefes que só sobrevivem fomentando o ódio contra o outro”, observa o investigador.
Como os acordos “nunca foram aceites por todos”, o padre João Lourenço realça que nasceram “grupos extremistas, fundamentalistas e terroristas”.
Este drama “não tem apenas um culpado mas dois: uns querem a guerra e outros nada fazem para ter a paz”.
Segundo o entrevistado, o conflito no Médio Oriente conheceu uma “escalada invulgar” de violência e sofrimento.
Quando estes grupos “não tiverem guerra a fazer, deixa, de ter cabimento e os seus líderes não podem viver nos belos hotéis e vivendas do golfo e o Irão não pode exportar a sua satânica presença na região”, esclareceu o docente da Universidade Católica Portuguesa.
A partir do século XII antes de Cristo, aquela região, “a faixa costeira ou Via Maris”, foi tomada por povos “que vinham de fora, chamados filisteus” e, teoricamente, os palestinos “são os descendentes dos filisteus”, frisou o biblista.
Desde o Império Romano que Gaza foi “uma espécie de refúgio de povos sem pátria que ali se foram acumulando”, acrescentou; depois da diáspora dos judeus, “há um vazio da população local” durante vários séculos.
Apenas nos finais do século XIX, com o movimento sionista, a parte dos judeus “regressam a Sião em busca de uma identidade”, salienta, em entrevista ao Programa ECCLESIA emitido esta segunda-feira, na RTP2.
Em 1917, os representantes do governo inglês, através de uma declaração, “prometeram aos judeus um lar, um espaço para eles terem uma identidade”.
O movimento foi “crescendo” e com a ida dos judeus para aquele território “começam as disputas entre residentes e os que chegam”.
“Tudo se agrava, quando em 1947 as Nações Unidas decidem fazer uma conferência e dividir o território em diferentes partes”, acrescenta.
Com o êxodo decorrente da II Guerra Mundial, a população judaica “aumentou enormemente”, explicou o biblista.
O Ocidente, acrescenta, vive “com uma culpabilidade latente”.
O investigador propõe um caderno de encargos entre palestinos e israelitas para que “nasça a paz entre aqueles povos”.
Esta situação só se altera se “houver disponibilidade e cedências de parte a parte, e nesse aspeto Israel também tem grandes culpabilidades, especialmente nesta última fase do seu governo”, sublinhou João Lourenço.
“Isto é um massacre e uma calamidade” e apesar dos “políticos europeus e ocidentais quererem ser sempre bonitinhos, meigos e compreensivos, a maioria deles desconhece o habitat local”, lamenta o docente universitário.
HM/LFS