«Verdadeiramente só haverá paz na Terra Santa quando forem satisfeitos os direitos legítimos quer do povo israelita, quer do povo palestiniano» – Pedro Vaz Patto
Lisboa, 19 out 0223 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) manifestou a condenação “veemente do terrorismo” no conflito entre Israel e a Palestina, bem como a “reação que vai para além da legítima defesa”.
“Quer do ponto de vista moral, quer do ponto de vista jurídico, do Direito Internacional, há regras que têm de ser respeitadas e têm a ver com a defesa das pessoas inocentes, alheias ao conflito, que não são agressores”, disse Pedro Vaz Patto, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O juiz desembargador recordou que o Vaticano e a Organização das Nações Unidas (ONU) já alertaram para o bloqueio do fornecimento de água e de eletricidade à Faixa da Gaza, por parte do Estado de Israel, que “afeta as populações civis que são alheias ao terrorismo”.
“Não se pode culpabilizar toda uma comunidade”, acrescenta o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz.
O movimento islamita Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, lançou um ataque contra o território israelita, sob o nome de operação ‘Tempestade al-Aqsa’, no dia 7 de outubro; em resposta, Israel bombardeou várias posições naquele território da Palestina, numa operação que batizou como ‘Espadas de Ferro’.
A CNJP, organismo da Igreja Católica em Portugal, publicou uma nota que põe em relevo “a condenação veemente do terrorismo”, porque esta guerra foi iniciada, foi desencadeada, “por uma ação terrorista que não se justifica mesmo que se considere estar em causa a defesa da causa palestiniana”, os direitos legítimos do povo palestiniano.
“Esse facto não se justifica a morte de inocentes, que é o que carateriza o terrorismo”, realçou Pedro Vaz Patto, acrescentando que também condena “uma forma de reação que vai para além da legítima defesa”, porque a defesa para ser legítima “tem de obedecer a critérios de proporcionalidade, e não entrar no âmbito da retaliação”.
O juiz desembargador assinala que o Hamas não libertar os reféns israelitas, podendo usar essas pessoas como escudos humanos, “é instrumentalizar a pessoas em função de uma estratégia política”, mas “é injusto, amoral” mas reagir a isso, através de outra forma de chantagem, também é “cair no mesmo erro de instrumentalizar”.
“Há sempre que distinguir a situação em que há um propósito deliberado de atingir civis, daquela outra em que se aceitam como danos colaterais em situações que não deviam ser aceites”, desenvolveu, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).
Segundo o presidente do organismo de leigos da Igreja Católica, numa situação destas, “é difícil pensar numa mediação mas não se deve desistir”, como tem feito o Papa Francisco e outras entidades porque “há sempre que ter em vista qual é a raiz do problema e qual é a forma de enfrentar”.
“Verdadeiramente só haverá paz na Terra Santa quando forem satisfeitos os direitos legítimos quer do povo israelita, quer do povo palestiniano”, refere a nota da Comissão Nacional Justiça e Paz, recordou o entrevistado.
A paz assenta na justiça, é uma ideia que não pode deixar de ser sublinhada. Mesmo que pareça distante, e cada vez mais distante, porque todos estes acontecimentos parece que tornam mais distante a perspetiva de haver dois povos reconhecidos nos seus direitos, com dois Estados e a viverem em paz e segurança, deve ser esse o horizonte da nossa perspetiva”.
Pedro Vaz Patto alertou para um “espiral que não termina”, e que se pode “alastrar a outros países”, realçando que é importante ter presente, e “não confundir as perspetivas”, que este “é um conflito político”, e não se deve transformar em religioso.
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