Israel/Hamas: Fundação pontifícia alerta que «situação humanitária e condições de vida» dos cristãos se deterioraram com a guerra

«Em quatro meses, 30 cristãos morreram em Gaza com o agravamento da situação humanitária», contabiliza AIS

Lisboa, 16 fev 2024 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) denunciou que a “situação humanitária e as condições de vida” da comunidade cristã na Faixa de Gaza de “deterioraram” nos últimos meses, com o conflito entre Israel e o grupo Hamas.

“Dizem que 62% das casas foram totalmente destruídas e que a reconstrução durará até 2093, de acordo com algumas agências internacionais e das Nações Unidas ativas no terreno”, explicou o diretor do Gabinete de Desenvolvimento de Projetos do Patriarcado Latino de Jerusalém, à Fundação AIS.

“Com tudo isto, há que perguntar que futuro têm os cristãos neste país? O que é que vai acontecer? Ninguém sabe. Por favor, rezem por nós, não esqueçam o sofrimento dos Cristãos nesta parte do mundo”, acrescentou George Akroush, na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA, pelo secretariado português da Ajuda à Igreja que Sofre.

Através deste relato, a fundação pontifícia adianta que a situação em Gaza está a se tornar, cada vez mais, “desesperada, com a região dividida em duas partes distintas, norte e sul”; no norte, “continua a ser muito difícil” encontrar alimentos e combustível, os “preços exorbitantes” tornam a vida ainda mais difícil para os residentes.

“20 litros de gasóleo custam 200€ e só fornecem energia para os geradores durante duas horas”, exemplificou George Akroush.

Neste contexto, acrescenta que a falta de combustível e de eletricidade significa que as bombas de água já não funcionam e têm de extrair a água dos poços manualmente.

“A higiene tornou-se um problema grave, especialmente para as crianças, que estão a adoecer devido à falta de água e de produtos básicos, como farinha e fraldas”, alerta o diretor do Gabinete de Desenvolvimento de Projetos.

Um padre e sete consagradas, de três congregações religiosas, continuam a apoiar os cristãos que encontraram refúgio no complexo da Paróquia católica da Sagrada Família, que chegou a dar proteção a 700 pessoas, mas, atualmente, são 184 famílias, 560 cristãos católicos e ortodoxos, incluindo 140 crianças com menos de 18 anos – 60 com deficiência – e 84 pessoas acima dos 65 anos.

“Qualquer movimento suspeito ou perigoso colocará a sua vida em risco e poderá ser o último. Depois de quatro meses sob cerco, estão cansados e muitos estão doentes”, explicou o responsável no Patriarcado Latino de Jerusalém sobre estes cristãos deslocados.

A AIS destaca que o Papa Francisco continua a “manter um contacto quase diário” com o padre e as religiosas que cuidam dos refugiados.

Segundo George Akroush, morreram 30 cristãos desde o ressurgir do conflito entre o Estado de Israel e o grupo palestiniano Hamas, que controla a Faixa de Gaza; neste número estão as 17 vítimas do ataque à Paróquia Ortodoxa Grega, em outubro de 2023, as duas mulheres mortas pelo Exército de Israel na Paróquia Católica da Sagrada Família, e 11 pessoas por causa de doenças crónicas que não puderam ser tratadas adequadamente.

A fundação pontifícia destaca a história de Hani Abu Daud, de 48 anos, que necessitava de fazer diálise regular e “morreu sozinho, longe da mulher e dos filhos”, quando se deslocou do norte para o sul de Gaza à procura de um hospital em funcionamento, e, depois, não foi permitido regressar para junto da família.

Neste contexto, alertam que os cuidados médicos também “atingiram níveis críticos e mais 10 pessoas estão em risco de morrer por falta de tratamento adequado”.

Os residentes na Faixa de que têm uma segunda nacionalidade optaram por deixar o território palestiniano e procuraram segurança em países na região, como o Egito, a Jordânia, ou noutros continentes, como o Canadá.

Com a ajuda de organizações como a Ajuda à Igreja que Sofre, o Patriarcado Latino de Jerusalém – que continua a pagar os salários dos professores e de outras pessoas que trabalham para instituições religiosas – consegue fornecer medicamentos, alimentos e financiar alguns procedimentos médicos.

A 7 de outubro de 2023, militantes do Hamas atacaram o sul de Israel, onde mataram cerca de 1200 pessoas e fizeram centenas de reféns.

Como consequência da retaliação israelita, a Faixa de Gaza, com 2,3 milhões de habitantes, tem estado sob bombardeamento e ataques que provocaram mais de 27 mil mortos, segundo as autoridades do Hamas.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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