Irmãs Salesianas deixam Évora com amargura

As Irmãs do Instituto Filhas de Maria Auxiliadora (Irmãs Salesianas) desenvolveram a sua missão educadora no Convento Novo (Casa Pia Feminina), em Évora, desde 15 de Janeiro de 1940 até ao final do passado mês de Julho. Saem de Évora com mágoa porque, segundo nos explicaram, deixaram “de ter condições para desenvolver o seu processo educativo” porque “a organização interna foi toda posta em causa devido às muitas intromissões” que sofreram por parte das técnicas ali colocadas pelo Centro Distrital de Segurança Social de Évora e pela equipa do Projecto ADOS, da Associação Chão dos Meninos. As cinco irmãs colocadas em Évora, em 1940, respondendo ao pedido do então Arcebispo de Évora, D. Manuel Mendes da Conceição Santos, traziam o carisma da Congregação, conforme dizia S. João Bosco, “educar para formar um bom cristão e um honesto cidadão”. Com esta missão, as Irmãs Salesianas assumiram a responsabilidade da secção feminina da Casa Pia de Évora, sedeada no Convento Novo, e começaram a acolher apenas meninas, dos 6 aos 12 anos, oriundas de famílias problemáticas. Actualmente a Casa Pia Feminina acolhe cerca de 30 raparigas e está sob a responsabilidade do Centro Distrital de Segurança Social de Évora, sendo que a presença das Irmãs no Convento Novo resulta de um acordo com esta Instituição. Quase 70 anos depois, a Irmãs Salesianas deixam Évora com mágoa, como informou ao jornal “a defesa” a directora, Ir. Maria Aduília Moreira. “Saímos porque houve muita intromissão no processo educativo”, aponta a responsável da comunidade religiosa que nos explicou que a organização interna da Casa estava sob a sua responsabilidade. Segundo apurou “a defesa”, o ambiente de indisciplina e de desrespeito provocado por um grupo de meninas começou a meio do ano lectivo transacto, coincidindo com a entrada de uma técnica social do Centro Distrital de Segurança Social de Évora e com a entrada em funcionamento de uma equipa do Projecto ADOS, promovido pela Chão dos Meninos – Associação de Amigos da Criança e da Família, composta por três técnicas, cujo trabalho individualizado e de grupo feito com as meninas começou a ser desconhecido das Irmãs. Formação humana e cristã Segundo explicou a Ir. Maria Aduília Moreira, a Casa estava organizada para que as meninas colaborassem com algumas tarefas como, por exemplo, “fazer cada uma a sua cama e arrumar o seu quarto antes de sair para a escola”. Depois da escola, havia um momento de recreio, seguido da “hora do estudo, que decorria das 18h às 19h30m”. Em relação à prática religiosa, ao acordar “uma Irmã rezava com elas uma pequenina oração de apenas um ou dois minutos”, havia catequese e, aos domingos, Eucaristia, sendo que as meninas eram “estimuladas a participar e nunca obrigadas”. Com a entrada das novas técnicas, “a organização interna foi toda posta em causa”, aponta a Ir. Maria Aduília Moreira, revelando que um grupo de sete meninas começaram a recusar-se em ajudar nas tarefas da casa e de participar nas orações e na Eucaristia. “Deixaram de participar na hora do estudo, para ficarem a ver televisão ou saírem à rua”, explica a responsável, esclarecendo que esses comportamentos eram conhecidos das técnicas. Perante aquele ambiente, as Irmãs manifestaram-se sentir sem autoridade e sem condições mínimas para educar, dando a conhecer a situação ao Conselho da Província Portuguesa do Instituto Filhas de Maria Auxiliadora, que se decidiu pela saída das Irmãs da cidade de Évora. As situações descritas foram também comunicadas ao Centro Distrital de Segurança Social de Évora que, segundo as Irmãs, “não tomou as medidas necessárias para alterar a situação”, apesar de terem sido ouvidas pelos responsáveis da delegação de Évora. No momento da despedida, as Irmãs confessaram que “saímos magoadas e muito tristes com todas as situações, parecendo que o nosso modelo educativo está ultrapassado”, apontam, denunciando que “houve uma estratégia montada para entregar a Casa a outra Instituição”. As oito irmãs que formavam a comunidade de Évora serão agora distribuídas por outras casas do Instituto, nomeadamente, Viana do Castelo, Porto, Cascais e Estoril. Vamos embora muito tristes porque gostaríamos de sair de outra forma”, disse a Ir. Maria Aduília Moreira, adiantando que “desejamos que nesta Casa se continuem a criar boas cidadãs e que quem ficar faça o melhor possível pelas meninas”. Segurança Social Perante as situações descritas, o jornal “a defesa” contactou via fax o director do Centro Distrital da Segurança Social de Évora, José Alberto Oliveira, pedindo um comentário à saída das Irmãs e indagando sobre o projecto educativo que a Segurança Social propõe para educar aquelas jovens e a nova organização interna da Casa Pia Feminina de Évora. O director respondeu, comentando que a “saída das Irmãs resulta do pedido destas em abandonar a Instituição alegando falta de condições para exercer uma acção educativa de acordo com os princípios religiosos e salesianos, e pela falta de Irmãs com formação específica para crianças e adolescentes com o grau de risco que as mesmas apresentam”. Neste sentido, o director escreve, “com base no exposto este Centro Distrital não pode deixar de aceitar o pedido e agradecer a dedicação e empenho com que as Irmãs colaboraram ao longo dos últimos 70 anos.” O projecto que o Centro Distrital da Segurança Social de Évora propõe para a Casa Pia Feminina de Évora assenta, segundo o director, “na educação das jovens que é assegurada pelos meios existentes na comunidade, ao nível da educação, formação profissional e demais necessidades, de acordo com a oferta formativa existente. No estabelecimento irá funcionar um conjunto de técnicos adequados para a formação dos deveres que não sejam devidamente apreendidos nos meios referidos anteriormente, nomeadamente valores sociais, cidadania, etc… e para acompanhamento das necessidades por eles manifestadas.” Por fim, quando questionado sobre quem irá substituir as Irmãs na Casa Pia Feminina de Évora, José Alberto Oliveira não adianta nomes de possíveis Instituições ou Associações, dizendo apenas que “irá ser protocolado com instituição idónea, que já tenha demonstrado capacidade para trabalhar nesta área. Assegurando as tarefas básicas, alimentação, limpeza e higiene das roupas, assegurando o necessário acompanhamento técnico e a articulação com os Tribunais no âmbito dos processos de promoção e protecção, e com as famílias”, sendo que, segundo o director da Segurança Social, “o serviço funcionará 24 horas por dia”. Contudo, “a defesa” sabe que a secção feminina da Casa Pia de Évora ficará sob a responsabilidade da Chão dos Meninos – Associação de Amigos da Criança e da Família e que o Convento Novo entrará em obras de requalificação do espaço para acolher novamente àquela secção.

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