«Incitamento à guerra, os comportamentos de ódio, a violência e o derramamento de sangue são incompatíveis com os ensinamentos religiosos» – Francisco
Cidade do Vaticano, 05 mar 2021 (Ecclesia) – O Papa homenageou hoje em Bagdade as vítimas do atentado terrorista que matou 48 pessoas, na Catedral siro-católica de Sayidat al-Nejat (Nossa Senhora da Salvação), a 31 de outubro de 2010.
“A sua morte lembra-nos fortemente que o incitamento à guerra, os comportamentos de ódio, a violência e o derramamento de sangue são incompatíveis com os ensinamentos religiosos”, declarou Francisco, na mesma igreja, perante cerca de uma centena de bispos, sacerdotes, religiosas, seminaristas e catequistas.
As vítimas do ataque da Al-Qaeda têm aberta a causa de beatificação.
“Que a recordação do seu sacrifício nos inspire a renovar a nossa confiança na força da Cruz e da sua mensagem salvífica de perdão, reconciliação e renascimento”, referiu o pontífice.
O Papa sublinhou que as dificuldades fazem parte da “experiência diária” dos cristãos iraquianos, cujas comunidades perderam mais de 80% dos seus membros, nas últimas duas décadas, por causa da emigração, da guerra e do terrorismo.
“Nas últimas décadas, vós e os vossos concidadãos tivestes de enfrentar os efeitos da guerra e das perseguições, a fragilidade das infraestruturas básicas e uma luta contínua pela segurança económica e pessoal, que muitas vezes levou a deslocamentos internos e à migração de muitos, inclusive cristãos, para outras partes do mundo”, assinalou.
Francisco foi recebido pelo patriarca de Antioquia dos sírios, Inácio III Younan, e outros responsáveis católicos, tendo cumprimentado um grupo de pessoas com deficiência que o esperava junto à igreja – com lotação limitada devido à pandemia de Covid-19.
A Catedral de Nossa Senhora da Salvação, uma das maiores da capital iraquiana, tem hoje um memorial dedicado às vítimas.
O Papa recordou todos os que morreram por causa da violência e da perseguição, “pertencentes a qualquer comunidade religiosa”.
“Amanhã, em Ur, vou encontrar-me com os líderes das tradições religiosas presentes neste país, para proclamarmos mais uma vez a nossa convicção de que a religião deve servir a causa da paz e da unidade entre todos os filhos de Deus”, apontou.
Num território marcado pela diversidade de ritos católicos e comunidades cristãs, “com o seu secular património histórico, litúrgico e espiritual”, a intervenção destacou a necessidade de uma “união fraterna”.
“Que o vosso testemunho, amadurecido nas adversidades e fortalecido pelo sangue dos mártires, seja uma luz que resplandece dentro e fora do Iraque, para anunciar a grandeza do Senhor e fazer exultar o espírito deste povo em Deus nosso”, desejou Francisco.
A assembleia dos bispos católicos do Iraque reúne responsáveis da Igreja de rito caldeu, siro-católico, arménio-católico, melquita e latino, sendo presidida pelo cardeal Louis Sako, patriarca de Babilónia dos Caldeus
Este responsável recordou o ataque “criminoso” de 2010 e sublinhou que, quatro anos depois, o Estado Islâmico obrigou à fuga de todos os 120 mil cristãos da planície de Nínive e Mossul.
“Agradecemos a Deus, porque essas áreas foram libertadas em 2017 e quase 50% dos seus habitantes regressaram”, realçou o cardeal Sako.
Já o patriarca Inácio III apelou ao Papa para “acelerar” o processo de beatificação dos “48 mártires massacrados durante a celebração da Divina Liturgia dominical”, nesta catedral.
A viagem de Francisco ao Iraque, que começou esta tarde e decorre até segunda-feira, tem como lema ‘Sois todos irmãos’, passagem do Evangelho de São Mateus.
OC
(Mensagem do Papa no livro de honra da Catedral de Sayidat al-Nejat) |