Primeiro discurso da viagem defende respeito pela diversidade religiosa, cultural e étnica do Médio Oriente
Bagdade, 05 mar 2021 (Ecclesia) – O Papa condenou hoje o fundamentalismo religioso, evocando vítimas da guerra e do terrorismo no Iraque, falando em Bagdade, no primeiro discurso da sua viagem ao país do Médio Oriente, que se iniciou esta tarde.
“Chega de violências, extremismos, fações, intolerâncias! Dê-se espaço a todos os cidadãos que querem construir juntos este país, no diálogo, no confronto franco e sincero, construtivo”, declarou, no Palácio Presidencial, perante cerca de 150 pessoas, reunidas no grande salão do palácio: autoridades políticas e religiosas, membros do corpo diplomático, empresários, representantes da sociedade civil e do mundo da cultura.
Francisco citou a declaração sobre a fraternidade humana, que assinou em 2019 com Ahmad Al-Tayyeb, grande-imã de Al-Azhar, sublinhando que “o nome de Deus não pode ser usado para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão”.
“Deus, que criou os seres humanos iguais em dignidade e direitos, chama-nos a difundir amor, benevolência, concórdia”, prosseguiu.
O discurso evocou todos os que perderam familiares e entes queridos, casa e outros bens “por causa da violência, da perseguição e do terrorismo”, bem como quem procura segurança e os meios necessários para sobreviver.
“Venho como penitente que pede perdão ao Céu e aos irmãos por tanta destruição e crueldade. Venho como peregrino de paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz”, assinalou.
O primeiro Papa a visitar o Iraque sublinhou que este país tem sido vítima da violência, apontando o dedo a um “fundamentalismo incapaz de aceitar a convivência pacífica de vários grupos étnicos e religiosos, de ideias e culturas diferentes”.
O discurso deixou uma palavra particular à minoria yazidi, “vítima inocente duma barbárie sem sentido e desumana”, que colocou em risco a sua própria sobrevivência.
Francisco defendeu que todas as comunidades religiosas tenham igual “reconhecimento, respeito, direitos e proteção”, para quem ninguém seja “cidadão de segunda classe”.
“Nestes anos, o Iraque procurou lançar as bases para uma sociedade democrática. Neste sentido, é indispensável assegurar a participação de todos os grupos políticos, sociais e religiosos e garantir os direitos fundamentais de todos os cidadãos.”, observou.
Hoje o Iraque é chamado a mostrar a todos, especialmente no Médio Oriente, que as diferenças, em vez de gerar conflitos, devem cooperar harmoniosamente na vida civil”.
O Papa falava depois de uma audiência privada com o presidente do Iraque, Barham Ahmed Salih Qassim.
Francisco admitiu que esta é uma viagem “longamente esperada e desejada” ao berço duma civilização “estreitamente ligada, através do Patriarca Abraão e de numerosos profetas, à história da salvação e às grandes tradições religiosas do Judaísmo, Cristianismo e Islão”.
O discurso deixou saudações aos católicos, às outras comunidades cristãs, aos muçulmanos e representantes de outras tradições religiosas.
“Que Deus nos faça caminhar juntos, como irmãos e irmãs”, desejou o pontífice.
A intervenção aludiu à crise provocada pela Covid-19 e pediu “esforços conjuntos” para a superar, “incluindo uma justa distribuição das vacinas para todos”.
O Papa destacou o papel da comunidade internacional para assegurar a paz no Iraque e no Médio Oriente, elogiando quem presta assistência aos refugiados e deslocados internos, com uma palavra de estímulo às organizações católicas “que há anos assistem com grande empenho as populações civis”.
O presidente Barham Ahmed Salih Qassim saudou, na sua intervenção, o “esforço” do Papa em favor do diálogo e da convivência pacífica, recordando as audiências no Vaticano, com Francisco, e a atenção que este dedica ao Iraque.
“O Oriente não pode ser imaginado sem os cristãos”, sustentou.
A agenda do Papa nesta sexta-feira conclui-se na Catedral siro-católica de Sayidat al-Nejat (Nossa Senhora da Salvação), também em Bagdade, uma das maiores igrejas da cidade.
OC