Iraque: Cristãos ajudam a travar «talibanização»

Arcebispo de Kirkuk, reconhecido pelo seu empenho em favor da paz, está em Portugal para falar numa «Igreja mártir»

Lisboa, 04 nov 2011 (Ecclesia) – O arcebispo iraquiano D. Louis Sako disse hoje que a comunidade internacional deve proteger os cristãos no Iraque para servirem como “ponte” entre o Ocidente e o Islão, evitando a ‘talibanização’ do país.

“Sem cristãos, o que vai acontecer é que restarão apenas talibãs”, alerta, em entrevista à ECCLESIA, o responsável pela diocese caldeia de Kirkuk (300 quilómetros a norte de Bagdad).

Para D. Louis Sako, que em 2010 recebeu o ‘Prémio para a Paz’ do movimento católico internacional ‘Pax Christi’, os católicos iraquianos são uma “Igreja mártir” e uma presença “muito frágil”.

O arcebispo acusa grupos fundamentalistas de quererem “criar um Estado islâmico, com leis islâmicas”, através da violência.

“A democracia não é mágica, não se pode impor pela força, é um longo processo”, indica o prelado, defendendo a “separação entre religião e Estado”.

Neste sentido, D. Louis Sako fala num “inverno árabe”, lembrando que os jovens que defendem a mudança de regime “não têm liderança política” e estão à mercê de “islamitas” interessados em “impor a sua própria agenda”, dando como exemplo a situação da Tunísia e da Líbia.

A comunidade caldeia (rito oriental da Igreja Católica) no Iraque reza na mesma língua de Jesus, o aramaico, e sobrevive há 2 mil anos sem nunca ter tido um rei ou um império cristão no território iraquiano.

Estes fiéis viviam na região antes de Maomé, mas a hostilidade de grupos muçulmanos armados desencadeada com a invasão norte-americana, em 2003, já reduziu o número de cristãos para menos de metade.

“Muitos cristãos iraquianos foram mortos, muitos; muitas igrejas foram atacadas, muitas pessoas foram raptadas e ameaçadas”, assinala D. Louis Sako, para quem “os cristãos estão isolados, não estão protegidos, porque não têm milícias nem fazem parte de tribos”.

O arcebispo de 63 anos encontra-se em Portugal até ao próximo dia 13, a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), para dar uma série de conferências sobre a situação dos cristãos no seu país.

“Quero sensibilizar os nossos irmãos e irmãs, os cristãos em Portugal, a mostrarem solidariedade: não falo só de dinheiro, mas também de obrigar a que os direitos humanos sejam respeitados, de solidariedade espiritual”, precisa.

O prelado admite que os europeus tenham dificuldades em perceber a situação dos católicos que são “minoria”, lamentando que haja quem permaneça “indiferente” diante do sofrimento dos outros.

“Os católicos deveriam estar muito mais próximos uns dos outros”, declara.

Ser cristão, refere o arcebispo, é um “compromisso”, citando o caso de um acólito, de 13 anos, raptado na diocese de Kirkuk, torturado para o levarem a abandonar a Igreja, que resisitiu aos agressores, acabando por ser libertado pelas forças norte-americanas.

D. Louis Sako diz não temer pela própria segurança: “O bispo é um líder, se tiver medo, se temer pela sua vida ou pelos seus privilégios, é melhor resignar. Nunca”.

O arcebispo de Kirkuk vai estar no início da próxima assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, segunda-feira, em Fátima, anunciou a AIS em comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

A Fundação católica vai dedicar a campanha de Natal deste ano aos cristãos perseguidos no Iraque, onde o número de fiéis passou de 850 mil para 300 mil em apenas oito anos, uma realidade que a organização internacional apelida de “genocídio”.

PTE/OC

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Agência ECCLESIA

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