IPSS precisam de financiamentos alternativos ao do Estado

Participantes do congresso «Entre o Passado e o Presente» consideram que apoio das empresas permitirá encontrar novos modelos de actuação e responder a mais necessidades

A sujeição das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) aos recursos do Estado está a prejudicar a resposta que aqueles Organismos prestam às comunidades em que estão inseridos.

“O peso do financiamento público é tão grande, que acaba por moldar todas as respostas sociais”, afirmou Carlos Azevedo, coordenador do congresso «Entre o Passado e o Futuro», que se realizou esta Quarta-feira, no Porto.

Para aquele responsável, a “dependência exagerada” dos fundos estatais impõe um modelo operativo que nem sempre se adequa às necessidades das comunidades, porque “o país não é todo igual”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, Carlos Azevedo mencionou o exemplo dos cuidados prestados às pessoas mais velhas para ilustrar as consequências da aplicação de soluções semelhantes em realidades e locais distintos.

“Os idosos estão a ser tratados da mesma maneira, o que não promove a autonomia e perpetua a sua dependência, que é exactamente aquilo que não queremos que aconteça”, explicou. Esta perspectiva resulta da passagem de uma concepção “assistencial” para um conceito que privilegia a “inclusão”.

As IPSS presentes no primeiro congresso do distrito do Porto sobre inovação social concordaram que era fundamental passarem a concentrar os seus recursos nas prioridades locais, em vez de promover acções criadas em função dos incentivos do Estado.

Os cerca de 320 participantes constataram, por outro lado, que há necessidades locais que não estão a ser satisfeitas.

A resolução destes problemas passa por complementar os recursos estatais com o apoio das empresas, que, segundo Carlos Azevedo, estão cada vez mais próximas das dificuldades sociais, conhecem a dimensão do trabalho realizado pelas instituições de solidariedade e querem apostar nele, investindo em projectos com impacto a nível regional e local.

Mas a cooperação do sector privado só poderá ser obtida quando as IPSS aprenderem “a prestar contas, não só à Segurança Social e ao Estado, mas também às empresas, que querem saber exactamente a repercussão de cada euro que investem”, indicou o responsável.

Gerir com a razão e o coração

Carlos Azevedo recordou que em 1974 havia cerca de um milhar de instituições dedicadas ao apoio social; actualmente são mais de cinco mil.

Há 35 anos, aquelas estruturas baseavam-se no “amadorismo e no voluntariado”, mas também nos “laços de solidariedade e de vizinhança”, que hoje “não são tão robustos”.

Ao longo destas três décadas e meia cumpriu-se a primeira fase de transição para o profissionalismo, através da qualificação dos recursos humanos, nomeadamente com a integração de psicólogos e assistentes sociais, entre outros especialistas.

A etapa seguinte, considerou Carlos Azevedo, consiste em prever uma organização assente em duas vertentes.

A “gestão estratégica” deve ser confiada ao voluntariado, que “tem o coração e a emoção, e sabe espelhar as necessidades da comunidade”. A “gestão operacional” passará a ser assegurada pelos profissionais, que conseguem temperar a muita emoção que existe nos voluntários com alguma racionalidade na afectação de recursos”.

“Só o encontro destas duas competências é que nos vai levar à maior eficácia e eficiência”, sintetizou o responsável.

Será que estas mudanças assinalam o reconhecimento de que as instituições de solidariedade não estão a administrar devidamente os financiamentos estatais? Carlos Azevedo nega esta tese: “As IPSS gerem muito bem os recursos públicos. Se o Estado fosse obrigado a fazer o que elas fazem, estaríamos muito mais pobres”.

“Se as instituições fechassem – acrescentou – o Estado gastaria provavelmente mais do quíntuplo do que despende hoje para assegurar a mesma conciliação da vida profissional e familiar de quem está no mercado de trabalho.”

O equilíbrio entre os sentimentos e a razão aplica-se também aos resultados alcançados na melhoria das condições de vida dos mais carenciados. À análise objectiva proporcionada pelos índices económicos e financeiros, o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Pe. Lino Maia, acrescentou outro componente, não menos necessário: o número de “sorrisos que conseguimos criar todos os dias, porque essa é a medida do retorno social do trabalho realizado pelas IPSS”.

Obter sinergias com parcerias

Para Carlos Azevedo, os dirigentes dos Organismos de apoio social devem consciencializar-se de que “estamos numa transição da abundância para a escassez”.

A actual conjuntura económica e social esteve na origem de uma das decisões mais importantes do encontro: a criação de uma «incubadora» de projectos sociais.

Esta plataforma vai funcionar como uma rede de serviços partilhados, aproveitando a economia de escala proporcionada pelas cerca de 370 organizações e mais de 15 mil trabalhadores que integram a União das IPSS do distrito do Porto. A dimensão desta estrutura garante um poder negocial que cada uma das instituições que a compõe não tem quando considerada isoladamente.

A incubadora vai também possibilitar a execução de projectos comuns, como é o caso da implementação de sistemas de gestão de qualidade, da encomenda de estudos de viabilidade económico-financeira ou da angariação de fundos.

O desconhecimento dos subsídios que a União Europeia disponibiliza para algumas das actividades desenvolvidas pelas IPSS é uma das consequências da ausência da cooperação “em rede”.

“É preciso chegar rapidamente a estas novas oportunidades, que serão cada vez mais desperdiçadas se não criarmos um ambiente de procura de informação”, defendeu Carlos Azevedo.

No decorrer dos trabalhos foi também sugerida a necessidade de melhorar a comunicação das instituições de solidariedade com a sociedade e os media.

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