Instituições Sociais ao serviço dum novo modelo
Ao introduzir os trabalhos do II Fórum das Instituições quero primeiramente dirigir uma saudação amiga e fraterna a todos vós que incansavelmente vos dedicais aos mais desfavorecidos da nossa sociedade.
O crescimento diário de situações dramáticas está a exigir dos diversos organismos sociais respostas concretas e concertadas. Porém, esta urgência social não pode levar-nos a um activismo assistencialista nem tolher a reflexão necessária para uma resolução fundamentada dos problemas. A força das circunstâncias não pode impedir-nos de pensar na melhor forma de exercermos a nossa missão junto dos mais carenciados.
No meio de contributo de tantas Instituições de intervenção social, as de matriz cristã terão que pautar a sua acção pela diferença que advém da fé em Cristo Jesus. Espera-se uma acção não tanto centrada na quantidade da ajuda mas no encontro e acompanhamento personalizado com a história de cada rosto. Isso exigirá uma menor institucionalização da caridade e mais voluntariado disposto a percorrer as ruas das nossas cidades à procura dos que vivem indigna e solitariamente a sua condição social. Sublinho a importância da articulação de sinergias entre Organismos e pessoas no combate às situações precárias.
Sob o lema pastoral “Vivemos da Palavra”, a Arquidiocese de Braga quer fazer do Evangelho de Jesus Cristo a força de toda a acção. Esta proposta deveria comprometer os cristãos e as comunidades na realização de um mundo mais justo e fraterno. Responsabilidade essa que o Papa Bento VXI, na sua Exortação Pós Sinodal Verbum Domini, sintetiza do seguinte modo: “No nosso tempo, detemo-nos muitas vezes superficialmente no valor do instante que passa, como se fosse irrelevante para o futuro. Diversamente, o Evangelho recorda-nos que cada momento da nossa existência é importante e deve ser vivido intensamente, sabendo que cada um deverá prestar contas da própria vida… O Filho do Homem considera como feito ou não feito a Si aquilo que tivermos feito ou deixado de fazer a um só dos seus “irmãos mais pequeninos” (Mt 25, 35) (V.D. 107).
Que caminho percorrer? Na esteira do nosso Programa Pastoral, respondo, novamente, com palavras do Papa: “Quando a Igreja anuncia a Palavra de Deus sabe que é preciso favorecer um “círculo virtuoso” entre a pobreza “que se deve escolher” e a pobreza “que se deve combater”, redescobrindo “a sobriedade e a solidariedade como valores simultaneamente evangélicos e universais (…). Isto obriga a opções de justiça e de sobriedade” (V.D. 107).
Espero que os trabalhos que agora se iniciam nos ajudem a sintetizar toda a acção que está ser desenvolvida ao nível das Instituições Sociais. Muito tem sido realizado ao longo dos tempos pelas diversas Instituições Sociais. Parar e pensar para adequarmos as estratégias às necessidades do momento actual. A aposta hoje não estará tanto em criar novas infra-estruturas mas sim prepararmos pessoas dispostas a agir segundo a lógica da fé, da esperança e da caridade para com todos.
Termino com S. Paulo, apóstolo apaixonado por Cristo e pelos irmãos, na firme convicção: “Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A Caridade é paciente, a Caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 12).
Braga, 01 de Dezembro de 2010
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
