Intervenção de D. Jorge Ortiga no II Fórum das Instituições Sociais

Instituições Sociais ao serviço dum novo modelo

Ao introduzir os trabalhos do II Fórum das Instituições quero primeiramente dirigir uma saudação amiga e fraterna a todos vós que incansavelmente vos dedicais aos mais desfavorecidos da nossa sociedade.

O crescimento diário de situações dramáticas está a exigir dos diversos organismos sociais respostas concretas e concertadas. Porém, esta urgência social não pode levar-nos a um activismo assistencialista nem tolher a reflexão necessária para uma resolução fundamentada dos problemas. A força das circunstâncias não pode impedir-nos de pensar na melhor forma de exercermos a nossa missão junto dos mais carenciados.

No meio de contributo de tantas Instituições de intervenção social, as de matriz cristã terão que pautar a sua acção pela diferença que advém da fé em Cristo Jesus. Espera-se uma acção não tanto centrada na quantidade da ajuda mas no encontro e acompanhamento personalizado com a história de cada rosto. Isso exigirá uma menor institucionalização da caridade e mais voluntariado disposto a percorrer as ruas das nossas cidades à procura dos que vivem indigna e solitariamente a sua condição social. Sublinho a importância da articulação de sinergias entre Organismos e pessoas no combate às situações precárias.

Sob o lema pastoral “Vivemos da Palavra”, a Arquidiocese de Braga quer fazer do Evangelho de Jesus Cristo a força de toda a acção. Esta proposta deveria comprometer os cristãos e as comunidades na realização de um mundo mais justo e fraterno. Responsabilidade essa que o Papa Bento VXI, na sua Exortação Pós Sinodal Verbum Domini, sintetiza do seguinte modo: “No nosso tempo, detemo-nos muitas vezes superficialmente no valor do instante que passa, como se fosse irrelevante para o futuro. Diversamente, o Evangelho recorda-nos que cada momento da nossa existência é importante e deve ser vivido intensamente, sabendo que cada um deverá prestar contas da própria vida… O Filho do Homem considera como feito ou não feito a Si aquilo que tivermos feito ou deixado de fazer a um só dos seus “irmãos mais pequeninos” (Mt 25, 35) (V.D. 107).

Que caminho percorrer? Na esteira do nosso Programa Pastoral, respondo, novamente, com palavras do Papa: “Quando a Igreja anuncia a Palavra de Deus sabe que é preciso favorecer um “círculo virtuoso” entre a pobreza “que se deve escolher” e a pobreza “que se deve combater”, redescobrindo “a sobriedade e a solidariedade como valores simultaneamente evangélicos e universais (…). Isto obriga a opções de justiça e de sobriedade” (V.D. 107).

Espero que os trabalhos que agora se iniciam nos ajudem a sintetizar toda a acção que está ser desenvolvida ao nível das Instituições Sociais. Muito tem sido realizado ao longo dos tempos pelas diversas Instituições Sociais. Parar e pensar para adequarmos as estratégias às necessidades do momento actual. A aposta hoje não estará tanto em criar novas infra-estruturas mas sim prepararmos pessoas dispostas a agir segundo a lógica da fé, da esperança e da caridade para com todos.

Termino com S. Paulo, apóstolo apaixonado por Cristo e pelos irmãos, na firme convicção: “Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A Caridade é paciente, a Caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 12).

Braga, 01 de Dezembro de 2010

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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