Há uma semana atrás, no dia 9 de novembro, a Europa acordou sensibilizada com história de uma mulher espanhola de 53 anos, que se suicidou, ao atirar-se de uma janela, no momento em que estava prestes a ser alvo de um mandato de despejo por causa de um crédito bancário. Ora, esta imagem espelha na perfeição o novo paradigma político-social: a economia sobrepôs-se à dignidade da vida humana!
A curta-metragem “Momentos” de Nuno Rocha, que passou no recente ciclo de cinema do Auditória Vita, recorda-nos, porém, que a vida tem sempre valor, mesmo para aquele sem-abrigo que perdeu o emprego e, por inerência, o dinheiro, a alimentação, a roupa, a casa e a família. O valor da vida congrega-nos, assim, naquilo que somos e pensamos! Por ele somos chamados a uma disposição fundamental para projetar, dum modo novo, o mundo que habitamos. E o melhor método a usar para tal projeto é o método do diálogo.
Por isso, o desejo de realizar o evento do “Átrio dos Gentios” visa somente, como objetivo principal, chamar para a arena do diálogo as diversas áreas e vertentes de pensamento da sociedade, nomeadamente crentes, ateus e filósofos, para em conjunto oferecermos ao país uma nova maneira de pensar a organização da sociedade, a partir de um indicador comum: o valor da vida humana!
Nesta arena do diálogo nunca partimos dum ponto zero! Cada um, na sua diferença, é portador dum tesouro intelectual que herdou e produziu. E ao contrário das arenas dos romanos, nesta arena do diálogo, típica do Átrio dos Gentios, todos saem vencedores!
De facto, é chegado o tempo de mobilizar as diversas sensibilidades culturais na procura de horizontes de vida, que mitiguem o escândalo confrangedor da miséria humana. É este “imaginário cultural partilhável”, no dizer de Eduardo Lourenço, que nos assegura a capacidade de sair de uma mentalidade de contraposição, para chegar a uma terceira via de diálogo entre a inteligência da fé e a inteligência cultural. Esta terceira via terá de ser uma nova modalidade, capaz de desenhar novos critérios de referencialidade e sentido num quadro plural, mas unanimemente compreendido na defesa do ser humano e da obra da criação. Mais do que converter, a Igreja deseja sair dos seus muros, projetos e conceitos, para dialogar com a cultura, como sendo um dos grandes desafios da tão desejada nova-evangelização.[1]
Deste ponto de vista, creio que a importância deste Átrio dos Gentios está muito para além daquilo que aqui será comunicado e partilhado. Na verdade, estou convicto de que ele proporcionará uma esperança responsável para o povo português!
Deste modo, quero saudar e agradecer a sua Eminência, o Senhor Cardeal Gianfranco Ravasi, pelo contributo precioso que dará a este Átrio dos Gentios e, particularmente, por permitir que a Arquidiocese de Braga, por ocasião de Guimarães, Capital Europeia da Cultura e Braga, capital Europeia da Juventude, possa usufruir desta original presença da Igreja no mundo da Cultura. Uma saudação e gratidão que se estende a todas as autoridades presentes, nomeadamente à Universidade do Minho, na pessoa do seu Magnífico Reitor, pelo apoio incondicional e estímulo reconfortante, bem como a todo o mecenato e à equipa coordenadora deste ambicioso projeto.
Para terminar, quem visita a famosa “Capela Árvore da Vida”, sita no Seminário Conciliar de Braga, repara como a obra da criação não é fruto do acaso, mas submete-se a uma lógica do amor divino, percetível nas várias artes, temas e materiais ali inscritos. Portanto, se o presente está grávido do futuro, como afirma o filósofo Leibniz, temos o dever humano de construir, segundo esta melodia do valor da vida, uma sociedade salutar para as gerações futuras, de modo a que tragédias como a da semana passada não voltem a acontecer.
Por fim, agradeço a presença de todos vós e, no fim deste evento, espero que fiquemos mais enriquecidos, para dar continuidade àquelas sábias palavras do humorista Raúl Solnado: “acima de tudo, façam o favor de serem felizes!”
Auditório da Universidade do Minho, Guimarães, 16 de novembro de 2012
D. Jorge Ortiga