Intervenção de D. António Marcelino na manifestação promovida pelo «SOS Movimento Educação»

A primeira palavra que vos quero dirigir ao saudar-vos é de apreço, estimulo e apoio. A luta é justa. Não podeis desistir. Nas lutas justas da vida ou por causas válidas, só perde quem desiste.

As vitórias dos políticos são sempre passageiras, como eles próprios. Nunca são definitivas quando não assentam na verdade e não respeitam valores. A nossa vitória pode não ser imediata, mas porque estamos do lado da verdade, da justiça, da liberdade, da família, pelo apreço pela escola em que acreditamos, ela chegará a seu tempo.

Os políticos agem mal quando põem o euro à frente de tudo. Aí o que contestamos: terem apagado injustamente a história e teimosamente terem desconhecido a realidade; não terem respeitado as nossas escolas e as suas provas no campo do ensino e da educação, bem como a sua influência positiva no meio social onde se situam; terem desprezado os direitos dos pais, de quem dirige as nossas escolas e de quem nelas trabalha e, de maneira louca e injusta, as consideraram supletivas, dispensáveis e sem direitos; por dizerem que os pais que não são ricos, não têm direito a escolher a escola para os seus filhos com o seu projecto educativo, esquecendo que estas escolas são o meio normal de mostrar que somos um país democrático e igual para todos; por esquecerem, ao tomarem-se decisões absurdas, que o povo vai pagar, construindo novas escolas onde não se justifica e, por um novo-riquismo, tolo ou mal intencionado, gastam o que não têm, não podem, e sem que isso seja necessário; ao entregar-se nas mãos da Banca, dona do Parque Escolar, a que pagam milhões, o que quer dizer que o Estado como que privatiza o património nacional e se torna um eterno dependente; terem esquecido que a Lei de Bases que continua em vigor diz expressamente que o ensino obrigatório deve ser gratuito para todos, independentemente da escola ser estatal ou privada; por encobrirem a verdade dos gastos com o ensino privado e o estatal, não obstante os desafios directos e contundentes feitos a ministra da Educação e seus secretários ante as afirmações feitas; por estarem a enganar o país e  manipularem a opinião pública com argumentos falaciosos, inconsistentes, ao considerarem a batalha ganha, usando atitudes de prepotência e asfixiantes para a escolas…

A missão do governo de um país é servir, e só se serve com verdade e justiça quando se ouvem os intervenientes, os interessados no processo, e se apreciam as suas razões, o que o governo não fez. Agir ante os factos consumados por um poder político arbitrário, é uma técnica marxista, que não aceitamos, que já deu os seus resultados negativos e mostrou que, porque não respeita nem as pessoas, nem a realidade, nem a liberdade, nem a justiça, está sendo banida por todo o lado, apenas persistindo, por enquanto e pela força, nos governos totalitários.

O problema que nos une numa luta que não termina é dos acordos que deixaram as escolas sem meios para satisfazerem, como sempre fizeram, os seus deveres. Mas é sobretudo uma luta contra os direitos fundamentais amarfanhados, contra uma democracia ao jeito dos governantes, contra a maneira como se desprezam as pessoas e o que para elas é essencial.

É tudo absurdo nesta luta por parte do governo. Por isso não responde, não dialoga, esconde as verdadeiras razões porque age de maneira tão pouco racional. O governo perdeu o rumo, porque perdeu a razão e o não quer reconhecer, porque perdeu o sentido do direito e da justiça, do serviço e do bem comum.

Queridos amigos! Os filhos são dos pais, não do Primeiro-ministro ou da ministra da Educação, ou coisa anónima do Estado. Os regimes totalitários das antigas colónias, após a independência retiraram os filhos aos pais e mandaram-nos para Cuba, para a Rússia e países satélites, para a China, a fim de serem formatados segundo a ideologia pretendida. Agora, a pretexto de uma crise económica de que não está inocente, o governo socialista quer também formatar a seu jeito a gente nova do país, retirando-lhe a escolha de um projecto educativo que a eduque e liberte e de uma escola que já conhece e que ama. Não podemos permitir que tal aconteça!

É preciso que os pais e os encarregados de educação contestem e façam acordar este governo e qualquer outro que lhe suceda. Governar é um serviço ao país, a todos os portugueses, não um favor a uma clientela interessada, tantas vezes inútil e vazia de ideias, nem é um pretexto para impor uma ideologia contrastante com a história e as liberdades legítimas. A história tanto guarda o nome dos santos, como dos tiranos e dos inúteis, ainda que eleitos pelo povo.

Pais e jovens aqui presentes. A hora é vossa, é nossa. Pelo vosso bem, dos vossos filhos e de um país com dignidade não desistais. Muitos vos criticam, vos julgam, deturpam as vossas e nossas razões. Se são honestas, a vossa persistência os acordará e verão a razão do SOS que gritais convictos.

Estais escrevendo uma página importante na história do país e da educação, da vossa própria história e das vossas escolas. Por favor. Ainda que percais algumas batalhas e escaramuças, acabareis por ganhar. Não somos contra ninguém, mas a favor da liberdade e da justiça, da família e dos que estudam nas escolas que representais.

Se a luta é justa, a vitória será certa. Coragem, força. Para a frente sem medo. Desistir é proibido. As nossas armas não matam gente, defendem valores e direitos.

Estou convosco. Um abraço a todos!

Aveiro, 19 de Fevereiro de 2011

António Marcelino, bispo emérito de Aveiro

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