«Reconhecer o ciberespaço como território da missão concreta onde as distâncias se encurtam e se chega a quem está desligado de Deus» Quando em 2005 João Paulo II escreveu a Carta Apostólica “O Rápido Desenvolvimento”, dirigida aos responsáveis pelas comunicações sociais, já a internet se tinha consolidado de forma sólida por todo o mundo. Já então muitas comunidades marcavam presença na web, adiantando-se ao desafio do Papa: “o uso das técnicas e das tecnologias da comunicação contemporânea é parte integrante da (…) missão [da Igreja] no terceiro milénio”. O que se vai constatando agora, é que é possível que uma página da internet seja mais um espaço onde a comunidade eclesial se faz presente. Dioceses, paróquias, institutos, movimentos, serviços ou até simples grupos de amigos unidos pela fé, mantêm espaços de oração, partilha de experiências ou até para o exercício da caridade. Os bons exemplos são muitos, mas ainda falta muito, sobretudo quanto ao reconhecimento do ciberespaço como território de missão concreta. Criar matrizes Os sites das dioceses portuguesas podem ser um bom aferidor da situação do uso da internet no nosso país, enquanto meio de evangelização. Se já há alguns espaços que disponibilizam, de forma acessível, toda a informação importante, desde documentos oficiais até horários de missas, passando pela listagem do clero ou a actualidade diocesana, outras há que mantêm online conteúdos desactualizados ou se apresentam em formatos pouco amigáveis. Há ainda outros que conseguem criar motivos de interesse a partir de estruturas simples, mantendo um razoável nível de dignidade. Sendo a diocese a célula estruturante da Igreja, seria de esperar que também no que toca a tecnologias da informação, fosse a este nível que se criassem dinâmicas que permitissem manter as comunidades católicas em actividade. Tal como no “mundo real”, a continuidade e a criatividade são peças chave para que a mensagem passe e seja interiorizada. Importa perceber as potencialidades da net na dinamização de actividades já com alguma tradição e como elemento congregador, sobretudo em regiões onde as distâncias físicas são um maior entrave ao encontro presencial. Não é só a possibilidade de celebrar a Eucaristia à distância, como já se faz, à semelhança do que acontece com a televisão. Passa também pela partilha de experiências, pelo conhecimento de outras realidades eclesiais ou pela difusão e divulgação de actividades. E há ainda a necessidade de chegar aos que estão desligados de Deus e da comunidade. Tudo isto exige que haja equipas a trabalhar nos conteúdos, na imagem e nas exigências técnicas. Uma página de internet que não saiba conciliar estas vertentes, acabará por não conseguir afirmar-se. E muitas vezes, a simplicidade é a solução mais eficaz. Importantes são também os portais, na medida em que permitem dar visibilidade e manter interligações entre as diferentes comunidades virtuais, bem como fomentar o espírito de unidade. Nesse aspecto, tanto o portal da Agência Ecclesia, como o “paroquias.org” são elementos de grande importância. Espaço de diálogo Mas nem só a fórmulas institucionais se resume a presença da Igreja na net. A proliferação, nos últimos cinco anos, dos blogues, criou possibilidades de discussão até há pouco inimagináveis. Sem limitações de expressão, qualquer pessoa pode exprimir a sua opinião sobre qualquer assunto. Obviamente que a Igreja e o fenómeno religioso em geral, não escapam a críticas, provocações e até insultos. Por outro lado, há cada vez mais católicos que aproveitam este instrumento para expressarem as suas convicções mais profundas, havendo, inclusivamente, cada vez mais padres entre eles. Neste contexto, tornam-se pertinentes as palavras de João Paulo II no documento acima citado, quando apela a que se promova “na comunidade cristã uma opinião pública rectamente informada e capaz de discernimento”. E mais à frente: “para os crentes e para as pessoas de boa vontade o grande desafio deste nosso tempo é manter uma comunicação verídica e livre, que contribua para consolidar o progresso integral do mundo. É pedido a todos que saibam cultivar um atento discernimento e uma constante vigilância, maturando uma capacidade sadia perante a força persuasiva dos meios de comunicação.” Os princípios e a Mensagem serão os mesmos de sempre, será necessário, cada vez mais, saber dominar a técnica para divulgar a Boa Nova. Rui Almeida