«Estou a abrir caminho em terreno que ainda está muito por desbravar», afirma padre Júlio Grangeia
Travassô, Aveiro, 12 Fev (Ecclesia) – O padre Júlio Grangeia preside hoje, pela primeira vez, a uma missa com a participação em directo de pessoas que seguem a celebração através de vídeo pela Internet.
O sacerdote já se tinha estreado na transmissão ao vivo das eucaristias, mas neste sábado, a partir das 17h00, espera que a rede social Facebook acrescente maior interactividade entre quem vê a missa à distância e a celebração que decorre na paróquia de Travassô, 250 km a norte de Lisboa.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Júlio Grangeia sublinha que vai ser possível dirigir “uma palavra amiga” às pessoas que seguem a transmissão por computador e incluir as suas intenções, “se forem em número razoável”, na ‘oração dos fiéis’, momento da celebração em que se reza pelas necessidades da Igreja e do mundo.
Além de oferecer “um cantinho na eucaristia” a quem segue a emissão através da Internet, a referência ao seu nome e local de residência durante a missa evidencia que o catolicismo é “universal”, vivendo-se “dentro das quatro paredes da igreja mas não só”, acentua o sacerdote de 52 anos.
“Para muita gente que está retida, emigrada ou que arrefeceu na fé mas nunca perdeu as suas referências, as transmissões podem ser uma espécie de cheirinho a água viva”, e também um convite: “Se quiseres experimentar mais e melhor, aparece”.
O sacerdote diz-se estimulado pelas reacções que vai recebendo, especialmente vindas dos emigrantes, que “vibram com qualquer coisa que seja da sua terra” e se emocionam ao seguir a missa pela Internet, como é patente neste testemunho escrito: “Dei por mim a chorar e a cantar os cânticos daí”.
Para Júlio Grangeia, as emissões, difundidas todos os sábados à mesma hora, podem “ser o rastilho que leve a pessoa a algo mais, a sentir que mesmo longe está perto, a sentir que mesmo à distância continua no coração de Deus”.
“Tanto quanto julgo saber, não estou a fazer nenhum atentado à liturgia, nem nada que se pareça; pelo contrário, julgo que estou a abrir a porta a quem está ausente”, acentua o sacerdote, acrescentando: “Sinto que estou a abrir caminho em terreno que ainda está muito por desbravar”.
Júlio Grangeia, que diz não querer ser visto como “um padre ‘especial de corrida’”, gostava que a sua aposta fosse vista como “um instrumento de evangelização”, e não “apenas uma mania”.
A dedicação à Internet nem sempre tem sido acolhida favoravelmente: “Costumo relativizar as críticas porque muitas vezes vêm de pessoas que não sabem o que estão a dizer, dado não possuírem experiência a este nível; e quando a têm, criticam por não haver mais nada por onde pegar, atirando-se ao elo que pensam ser mais fraco”.
A emissão exige um operador de câmara de vídeo e um responsável por monitorizar as reacções das pessoas que acompanham a celebração à distância, além da ligação à Internet através de uma antena colocada na torre da igreja.
O pároco de Travassô, Ois da Ribeira e Espinhel, comunidades da diocese de Aveiro situadas em meio rural, considera que seria “um êxito” ter “15 ou 20 pessoas” a seguir a missa pelo Facebook, embora já se tenham atingido 300 visualizações numa celebração que ficou disponível em arquivo.
A conversa com Júlio Grangeia começou e terminou com a mesma insistência: “Não quero fazer concorrência à missa presencial, que é mesmo para ser celebrada em comunidade e não para ser virtual”.
RM