Realidades e possibilidades que se abrem à Igreja através da utilização da Internet foi tema da conferência organizada pelo Centro de Reflexão Cristã. O objectivo era convidar os cristãos a pensar sobre o instrumento, neste caso a Internet, que possibilita a comunicação nos dias de hoje. Uma organização que quis reflectir “sobre a aproximação que os cristãos estabelecem à rede”, explica à Agência ECCLESISA Ana Claudia Vicente, vogal da direcção. Tendo em conta que “a rede é uma múltipla realidade, e em constante mutação”, a conferência partiu de três experiências pessoais para ilustrar essa aproximação. Carlos Cunha, é um blogger. Leigo católico, como descreve Ana Claudia Vicente, “tem participado nos blogs colectivos. A ele se juntou Tiago Cavaco, da Igreja Evangélica Baptista, também um blogger. Ana Vicente, enquanto moderadora na conferência, é uma “observadora do fenómeno e intervenho em alguns blogs”, explica. A reflexão apontou que existem duas dimensões na concepção e participação na “rede portuguesa”: “uma postura institucional e outra informal, e noutra medida uma intervenção individual e outra colectiva”. Ana Vicente aponta que nos últimos cinco anos, há uma evolução tecnológica do meio por parte de diferentes congregações e confissões religiosas, mas existe uma “grande quantidade de expressões individuais, talvez amadoras também, que utilizam os blogs para expressar a sua opinião”. Estas duas dimensões da utilização da rede são “positivas”, mas nota-se “uma desarticulação entre ambas”, aponta Ana Vicente, que exemplifica com o facto de existirem blogs de discussão interconfessional que “são conhecidos dentro da blogosfera, mas não têm uma articulação com os sites institucionais”. A multiplicidade de vozes que se expressam “são, apesar de um risco, uma riqueza”, pois existem expressões muito diferentes, “algumas mais conservadoras ou críticas que outras”, mas são “uma frescura porque, desta participação espontânea, aparecem expressões francas”. A reflexão na conferência indicou que os portais e os sítios são mais utilizados pelas instituições e os blogs sobretudo por leigos. “Isto mostra uma diferença no discurso”, evidenciando também que as discussões eclesiológicas “têm passado mais pelo meio blog do que pelo meio institucional”. Uma realidade notada como contrastante em outras partes do mundo, “como em locais latino americanos”, destaca Ana Vicente. “Existe uma riqueza e profundidade maior que em Portugal ainda não conhecemos”, afirma a vogal da direcção. “No aprofundamento do pensamento e experiência cristão em Portugal e da utilização da Internet, temos ainda muito caminho para fazer”. A Internet “já é um bom cartão de visita” e Ana Vicente acrescenta ainda que “em nada enfraquecia a Igreja torná-lo mais interactivo”. A informação potenciada pelo meio “está já disponível”, afirma, dando exemplo das Encíclicas ou Cartas Pastorais disponíveis na Internet. No entanto, a “reflexão é que falta”. A Internet é em si um espaço “importante pela sua imediatez”. Ana Vicente aponta que esta iminência comporta riscos, mas que sendo utilizado por pessoas, tem “virtualidades e riscos”. Como exemplo e experiência positiva, foi recordada uma experiência “colectiva, iniciada por católicos, mas a que aderiram outras confissões” – o blog “A Terra da Alegria”. Este foi um espaço de “reflexão mais aprofundada, com substância”, sublinha Ana Vicente. Este poderia ser uma forma “de ajudar crentes e não crentes a fazer o seu itinerário de fé”, adianta. Ana Vicente aponta que os participantes na blogosfera são “pessoas mais descomprometidas com as diferentes hierarquias, dai talvez se sintam mais à vontade para discutir com mais calor, as suas convicções”. “Seria interessante e positivo perceber uma maior participação das hierarquias nestes espaços”, afirma. “Este é um caminho a descobrir”. Ana Vicente, enquanto vogal da direcção do Centro de Reflexão Cristã não rejeita as possibilidades que este tema ainda abre para reflexão. É um tema “que não é novo, mas está ai para ser enriquecido e explorado”.