Desafios da robótica e da ética em destaque na mais recente edição do programa «70×7»
Lisboa, 11 mar 2019 (Ecclesia) – A Igreja Católica em Portugal está a acompanhar o desenvolvimento da robótica e da inteligência artificial, cada vez mais presente na vida diária, procurando uma reflexão “humanizadora” sobre um novo mundo.
“De certa forma, há um mundo novo que está em construção e temos de aprender a viver o bem neste mundo novo”, disse à Agência ECCLESIA o padre Bruno Nobre, da Companhia de Jesus (Jesuítas), que defende “uma presença humanizadora” num mundo em que a diferença entre “digital” e “real” se esbate progressivamente.
“Existe o mundo que depois é cada vez mais digital e que precisa de ser humanizado”, sublinha o sacerdote, licenciado em Física Tecnológica.
No programa ‘70×7’ emitido este domingo, na RTP2, o padre Bruno Nobre considera que “não é óbvio” que as máquinas superem o ser humano em termos de inteligência e questiona: “O que é que é a inteligência?”
É interessante que virtudes como a compaixão, a honestidade, a justiça, muitas vezes ficam à porta do digital, não entram, mas têm de entrar”.
O religioso considera que a Igreja “se sente confortável” no meio digital, vendo nele uma “grande oportunidade para anunciar o Evangelho”, uma “presença qualificada”.
Manuela Veloso, investigadora em Inteligência Artificial há 30 anos, considera que “nunca haverá”, necessariamente, “um sistema que seja superior em todos os aspetos a humanos”.
Em diversas situações a Inteligência Artificial e os robôs contribuem para reduzir a atividade humana, como postos de trabalho substituídos pelas máquinas, nas linhas de montagem, nas caixas de supermercado.
“É algo que nos preocupa porque como é que vamos, de alguma forma, compensar aquelas pessoas que não tiveram possibilidade de especializar em determinada áreas, têm trabalhos rotineiros e muito provavelmente irão ficar sem trabalho”, refere Joana Araújo, do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa.
Segundo a entrevistada, a sociedade que está a “investir tanto” nesta área tem que, naturalmente, “investir noutra” que são as pessoas, afinal “são elas que constituem a sociedade”.
“Globalmente vai acabar por melhorar a nossa condição de vida, vai permitir que todos tenhamos melhores serviços, serviços mais baratos, possamos fazer mais com o nosso tempo mas tem alguns riscos, mais relevante é se vai ou não substituir e destruir emprego, criar ou não novos e bons empregos e se vai criar assimetrias nesta sociedade que vamos assistir nas próximas décadas”, assinalou o presidente do Instituto Superior Técnico, Arlindo Oliveira.
A Cáritas Diocesana de Coimbra desenvolve, há vários anos, o projeto ‘Grow Me Up’, um robô inteligente usado para interagir com os idosos no apoio domiciliário, mas que é um complemento ao trabalho desenvolvido pelo cuidador e não um substituto.
Para os responsáveis da instituição sociocaritativa da Igreja Católica, o contacto humano deve ser salvaguardado, independentemente da tecnologia.
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