Os institutos religiosos do mundo enfrentam, actualmente, a ameaça da extinção. «Se não ousarem colocar de parte velhos compromissos e passarem a dar resposta a novos desafios» esse será o destino de muitas congregações, avisou ontem o padre Adélio Torres Neiva, no Colégio Teresiano, em Braga. O director da revista “Vida Consagrada”, que falava para uma assembleia constituída quase totalmente por religiosas, abordou o tema dos “Desafios da Vida Religiosa”, numa conferência que marcou o início da programação do Secretariado Diocesano dos Institutos Religiosos. Foi recordado que a maior parte das congregações da actualidade nasceram no século XIX e conheceram um enorme crescimento já no século XX. Contudo, Adélio Torres Neiva refere que, há alguns anos, estas organizações da Igreja Católica entraram num período de regressão. «Pela Europa, todos os institutos estão a encerrar casas », asseverou o conferencista, acrescentando que «algumas das congregações já perderam mais de metade dos seus membros e há outras, na Bélgica e Holanda que estão a preparar a sua extinção». Perante este cenário, o conferencista, que é sacerdote da Congregação do Espírito Santo, salienta a necessidade de todos os institutos «fazerem uma leitura cristã» e reflectirem sobre o que o futuro exige da sua missão. Um dos factores para a queda vertiginosa de vocações para a vida consagrada reside na baixa taxa de natalidade e o progressivo envelhecimento do continente europeu. «Em Itália, em apenas sete anos, as congregações religiosas viram o noviciado diminuir 60 por cento», apontou o padre Adélio Torres Neiva. Do ponto de vista cultural e sociológico, o conferencista lembrou que «estamos no final de uma era em que tudo girava em torno da cristandade e a sociedade era estruturada em função dos valores cristãos ». Actualmente, «a concorrência é maior», asseverou o religioso espiritano, apontando que algumas das grandes instituições mundiais foram fundadas sob a matriz cristã mas que, já colocaram de parte tal identidade. São os casos da Cruz Vermelha, dos Médicos Sem Fronteiras, do “Green Peace”, entre outros, indicou o conferencista. O padre Adélio Torres Neiva abordou depois as transformações conceptuais e doutrinais impostas pelo Concílio Vaticano II à vida religiosa para lembrar a importância que foi dada à vocação laical. Embora numa cada vez mais acentuada minoria, o conferencista afirmou que todos aqueles que consagraram a sua vida a Deus têm de entender a sua vocação como uma forma de «serem ossos e carne do Evangelho no mundo». E acrescentou: «a vocação religiosa é ser fermento e sal no mundo e não a própria massa». Ainda a respeito do Concílio Vaticano II, o conferencista avisou que, a partir dessa «revolução da Igreja Católica, mesmo teologicamente, os institutos religiosos perderam motivos para serem tão numerosos ». Perante os desafios da actualidade, o padre Adélio Torres Neiva desaconselha as congregações a enveredarem por uma «estratégia de sobrevivência» e a apostarem mais na «estratégia do discernimento», fazendo deste «tempo de deserto » numa oportunidade para repensar a sua missão no mundo.