Indonésia: Papa lança apelos ao diálogo entre religiões, no discurso inaugural da viagem

Francisco sublinha importância da paz e da justiça social para promover a democracia e a estabilidade

Jacarta, 04 set 2024 (Ecclesia) – O Papa lançou hoje um apelo ao diálogo entre religiões, no primeiro discurso da sua viagem à Indonésia, perante responsáveis políticos e representantes da sociedade civil, reunidos no Palácio Presidencial de Jacarta.

“A Igreja Católica deseja incrementar o diálogo inter-religioso. Desta forma, podem eliminar-se preconceitos e desenvolver um clima de respeito e confiança mútuos, indispensável para enfrentar desafios comuns, entre os quais o combate ao extremismo e também à intolerância”, referiu Francisco, que chegou ao país na terça-feira, dando início à viagem mais longa do seu pontificado.

O discurso inicial desta visita ao país com mais muçulmanos no mundo destacou a importância de promover uma “harmonia pacífica e construtiva” que garanta a paz e ajude a combater “desequilíbrios e bolsas de miséria”.

O terceiro Papa a visitar a Indonésia, onde os católicos representam 3% da população (mais de 275 milhões de pessoas), Francisco sustentou que a Igreja “está ao serviço do bem comum e deseja reforçar a cooperação com as instituições públicas”

“Mas nunca fazendo proselitismo, nunca. [A Igreja] Respeita a fé de cada pessoa”, declarou.

A fé em Deus, infelizmente, é muitas vezes manipulada, não servindo já para construir a paz, a comunhão, o diálogo, o respeito, a colaboração, a fraternidade, mas para fomentar divisões e aumentar o ódio”.

A intervenção foi lida em italiano, com tradução simultânea, tendo o pontífice sublinhou a importância de promover a “fraternidade” numa nação, que considerou algo “muito bonito”.

“Tal como o oceano é o elemento natural que congrega todas as ilhas indonésias, assim o respeito mútuo pelas características culturais, étnicas, linguísticas e religiosas específicas dos grupos humanos que compõem a Indonésia é o indispensável tecido conetivo que torna o povo indonésio unido e orgulhoso”, realçou.

Após elogiar a “grande biodiversidade” presente neste arquipélago, ameaçado pelas alterações climáticas, o Papa deixou votos de que cada grupo étnico e confissão religiosa possa agir com “espírito de fraternidade, procurando o nobre objetivo de servir o bem de todos”.

Francisco citou a Constituição da Indonésia, de 1945, que faz referências a Deus e à necessidade da “justiça social”, observando que, a nível internacional, “uma parte considerável da humanidade é deixada à margem, sem meios para viver dignamente e sem defesa para enfrentar graves e crescentes desequilíbrios”.

“A unidade na multiplicidade, a justiça social, a bênção divina são, portanto, princípios fundamentais destinados a inspirar e orientar os programas específicos”, indicou.

A viagem à Indonésia, primeira de um Papa desde a visita de São João Paulo II em 1989, tem como lema ‘Fé, fraternidade, compaixão’.

Francisco assinalou que, no mundo contemporâneo, há “tendências que dificultam o desenvolvimento da fraternidade universal”, dando origem a conflitos e tensões, dentro dos países e entre eles.

Numa das nações mais populosas do mundo, o Papa elogiou a quantidade de famílias numerosas, em contraste com leis que promovem o aborto e a quebra demográfica noutras regiões do mundo.

“Que Deus abençoe a Indonésia com a paz, para um futuro de esperança”, concluiu.

Joko Widodo, presidente cessante da Indonésia, sublinhou por sua vez a aposta do país na “paz e na tolerância”, elogiando a “diversidade” da população da terceira maior democracia do mundo.

Foto: Vatican Media

Os dois responsáveis tinham-se encontrado em privado, no Palácio Presidencial, onde Francisco assinou o Livro de Honra: “Imerso na beleza desta terra, lugar de encontro e de diálogo entre diferentes culturas e religiões, desejo que o povo indonésio cresça na fé, na fraternidade e na compaixão”.

No fim da cerimónia oficial de boas-vindas, o Papa foi saudado por centenas de pessoas, entre elas muitas crianças com bandeiras do Vaticano e da Indonésia, retribuindo com acenos desde a janela do carro que o transporta, um utilitário branco.

OC

A agenda papal prossegue na Nunciatura Apostólica, pelas 11h30 (05h30 em Lisboa), para um encontro privado com jesuítas, gesto habitual nas viagens internacionais do primeiro Papa da Companhia de Jesus na história da Igreja.

Já de tarde, Francisco vai encontrar-se com os bispos, membros do clero e de institutos religiosos, seminaristas e catequistas, na Catedral de Nossa Senhora da Assunção.

Pelas 17h35 decorre o encontro final desta quarta-feira, que reúne o Papa com jovens das ‘Scholas Occurrentes’, na Casa da Juventude “Grha Pemuda”, onde Francisco vai repetir um gesto feito em Portugal, em agosto de 2023, para concluir uma obra de arte coletiva que celebra a diversidade.

Em Jacarta, Francisco vai visitar esta quinta-feira a Mesquita Istiqlal, a maior do sudeste asiático, com capacidade para mais de 120 mil pessoas.

A viagem mais longa do atual pontificado leva o Papa à Indonésia (3-6 de setembro), Papua-Nova Guiné (6-9 de setembro), Timor-Leste (9-11 de setembro) e Singapura (11-13 de setembro).

 

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