Indonésia: Papa e grão-imã assinam declaração conjunta, perante as crises da «desumanização» e das alterações climáticas

Texto assinado após visita ao «Túnel da Amizade», entre mesquita e catedral de Jacarta

Jacarta, 05 set 2024 (Ecclesia) – O Papa e o grão-imã da Mesquita Istiqlal assinaram hoje na Indonésia uma declaração conjunta, na qual os líderes religiosos se comprometem a combater as crises provocadas pela “desumanização” e as alterações climáticas.

“Como se pode ver pelos acontecimentos das últimas décadas, o nosso mundo está claramente a enfrentar duas graves crises: a desumanização e as alterações climáticas”, refere o texto, assinado, simbolicamente, após uma visita ao ‘Tunel da Amizade’, que une a mesquita à catedral de Jacarta.

A declaração comum alerta para a violência e os conflitos que atingem a humanidade, provocando “um número alarmante de vítimas”, denunciando a instrumentalização da religião, neste contexto.

“O papel da religião, porém, deve incluir a promoção e a salvaguarda da dignidade de toda a vida humana”, pode ler-se.

O texto pede ainda o fim da “exploração” dos recursos naturais, alertando para as “consequências destruidoras” das alterações climáticas, como “as catástrofes naturais, o aquecimento global e padrões imprevisíveis”.

“Esta crise ambiental atual tornou-se um obstáculo à coexistência harmoniosa dos povos”, denunciam os responsáveis religiosos.

Em abril de 2019, o governo anunciou o plano para transferir a capital administrativa de Jacarta, na ilha de Java, para a ilha do Bornéu; Jacarta, 40% abaixo do nível do mar, tem vindo a afundar-se cerca de 7,5 centímetros por ano, em média.

A declaração conjunta, a que se associaram outros líderes religiosos presentes, convida à partilha dos valores das várias comunidades, “a fim de derrotar a cultura da violência e da indiferença”.

“Os valores religiosos devem ser orientados para a promoção de uma cultura de respeito, dignidade, compaixão, reconciliação e solidariedade fraterna, a fim de superar tanto a desumanização como a destruição ambiental”, sustentam os responsáveis.

Apelamos sinceramente a todas as pessoas de boa vontade para que tomem medidas decididas, no sentido de manter a integridade do ambiente natural e dos seus recursos, pois herdamo-los das gerações passadas e esperamos passar aos nossos filhos e netos”.

O Papa proferiu uma saudação, após a visita ao ‘Túnel da Amizade’, elogiando o clima de “harmonia” que se vive entre as comunidades religiosas, na Indonésia, o país com maior número de muçulmanos no mundo, onde os católicos representam cerca de 3% da população.

“Nós, que acreditamos, pertencendo a diferentes tradições religiosas, temos um papel a desempenhar: ajudar todos a atravessar o túnel com o olhar voltado para a luz. Assim, no final da viagem, poderemos reconhecer, naqueles que caminharam ao nosso lado, um irmão, uma irmã, com quem partilhar a vida e em quem apoiar-se reciprocamente”, apelou.

Francisco falou em “sinais de ameaça”, no mundo contemporâneo, aos quais se devem responder com o “o sinal da fraternidade que, acolhendo o outro e respeitando a sua identidade, o incentiva a percorrer um caminho comum, feito de amizade e rumo à luz”.

“Desejo que as nossas comunidades possam estar cada vez mais abertas ao diálogo inter-religioso e ser um símbolo da coexistência pacífica que caracteriza a Indonésia”, referiu.

Após a passagem pelo túnel, decorreu um encontro, na grande tenda da Mesquita Istiqlal, onde foram proferidas passagens do Corão e do Evangelho, antes da leitura e assinatura da declaração conjunta.

O grão-imã Nasaruddin Umar explicou aos presentes que o edifício da mesquita de Istiqlal foi desenhado pelo arquiteto Friedrich Silaban, um indonésio cristão, num terreno de 13 hectares, que pode acolher até 250 mil fiéis.

“Esta não é apenas uma casa de culto para os muçulmanos, mas também uma grande casa para a humanidade”, declarou.

Istiqlal tem a missão de orientar mais de um milhão de mesquitas e salas de oração espalhadas pelo arquipélago, o quarto país mais populoso do mundo, com mais de 275 milhões de pessoas.

Nasaruddin Umar considerou que a presença do Papa na maior mesquita do sudeste asiático, e a terceira maior do mundo depois de Meca e Medina, é “uma grande honra” para a Indonésia.

OC

Notícia atualizada às 03h55

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Agência ECCLESIA

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