Indivíduos e Estados sem verdade moral objectiva tornam o mundo «um lugar perigoso para viver»

Em Chipre, Bento XVI discursou às autoridades civis e ao Corpo Diplomático

O Papa lembrou este Sábado que “as experiências trágicas do século XX” evidenciaram a falta de humanidade que derivou da “supressão da verdade e da dignidade humana”.

“Mesmo nos nossos dias somos testemunhas de tentativas de promover pseudovalores com o pretexto da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos”, alertou Bento XVI.

A política ao serviço do bem comum e inspirada na verdade moral foi o tema principal do discurso que Bento XVI dirigiu às autoridades civis e ao Corpo Diplomático no Palácio presidencial de Nicósia, em Chipre.

Os políticos e diplomatas são chamados a “agir de modo responsável sobre a base do conhecimento dos factos reais”, a fim de conseguirem uma “visão objectiva e integral” dos acontecimentos e alcançarem “a verdade plena de uma questão específica”.

A promoção da verdade moral na vida pública exige ainda “um esforço constante para fundar a lei positiva sobre os princípios éticos da lei natural”, perspectiva que em tempos era considerada “evidente” mas que se encontra ameaçada pela “onda de positivismo na doutrina jurídica contemporânea”.

“Indivíduos, comunidades e Estados sem o guia da verdade moral objectiva tornam-se egoístas e sem escrúpulos”, tornando o mundo “um lugar perigoso para viver”.

Promoção do bem comum: um desejo transversal a todas as culturas

Bento XVI procurou articular o pensamento de autores de diferentes culturas com a doutrina católica, tendo recordado as palavras dos filósofos gregos Platão e Aristóteles e dos “grandes filósofos islâmicos e cristãos que seguiram os seus passos”.

Para eles, afirmou o Papa, “a prática da virtude consistia no agir segundo a recta razão, na persecução de tudo o que é verdadeiro, bom e belo”.

A preocupação de Bento XVI em estabelecer pontos de diálogo com as várias civilizações estendeu-se à dimensão religiosa: “Somos membros de uma única família humana criada por Deus, e somos chamados a promover a unidade e a construir um mundo mais justo e fraterno fundado sobre valores duradouros”.

“Na medida em que cumprimos o nosso dever, servindo os outros e aderindo ao que é justo, a nossa mente torna-se mais aberta à verdade mais profunda e a nossa liberdade reforça-se na sua adesão ao que é bom”, sublinhou o Papa.

“A obrigação moral – afirmou Bento XVI recordando palavras de João Paulo II – não deve ser vista como uma lei que se impõe exteriormente e que exige obediência, mas sobretudo como uma expressão da própria sabedoria de Deus, à qual a liberdade humana se submete com prontidão.”

“Os antigos filósofos gregos ensinaram-nos além disso que o bem comum é servido precisamente através da influência de pessoas dotadas de clara visão moral e de coragem. Desta forma, a acção política purifica-se dos interesses egoístas ou das pressões”, assinalou o Papa.

Para Bento XVI, a “rectidão moral e o respeito imparcial dos outros e do seu bem-estar são essenciais ao bem de qualquer sociedade” por contribuírem para “um clima de confiança no qual todas as relações humanas, religiosas ou económicas, sociais e culturais, ou civis e políticas ganham força e substância”.

Relações pessoais são o primeiro passo para a paz

O discurso frisou também a importância das “relações pessoais”, que constituem “o primeiro passo para construir a confiança” e, com o tempo, “vínculos sólidos de amizade entre indivíduos, povos e nações”, um objectivo que é “parte essencial” do trabalho dos políticos e diplomatas.

Em países que se encontram em “situação política delicada, uma tal relação pessoal, honesta e aberta, pode ser o início de um bem maior para toda a sociedade e população”.

O encontro com as autoridades civis e o Corpo Diplomático seguiu-se a uma visita de cortesia ao presidente da República de Chipre, Dimetris Christofias, encontro que abriu o segundo dia da viagem de Bento XVI ao país.

O Papa depôs uma coroa de flores diante do monumento ao arcebispo Makarios III, primeiro presidente da República de Chipre de 1960 até à sua morte, em 1977.

Bento XVI vai almoçar com o arcebispo ortodoxo Crisóstomo II de Chipre, e pelas 15h30 preside à missa com o clero, religiosos, catequistas e responsáveis de movimentos católicos da Igreja Católica de Chipre.

Com Rádio Vaticano

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Agência ECCLESIA

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