Índios de Roraima celebram conquista

Num clima de alguma apreensão e incerteza, vai realizar-se a festa da homologação Raposa Serra do Sol, o reconhecimento oficial do direito à terra que os índios desta região desde há séculos habitam. Os festejos iniciam a 20 de Setembro em Maturuca, prolongando-se até 25 na região das Serras. A 26 e 27 continuam em Surumu, na comunidade Canta Galo; a 29 e 30 na região do Baixo Cotingo, na comunidade Camará; e a 2 e 3 de Outubro na região da Raposa, na comunidade Bismark. Com cantos, danças e muita animação os índios Ingarikó, Macuxi, Taurepang,Patamona e Wapichana recordam mais de três décadas de luta para recuperar as terras que lhes foram usurpadas, assim como pelo reconhecimento do direito de posse das mesmas. Foram convidados os líderes de vários povos indígenas do Brasil e do estrangeiro. Para prevenir eventuais desordens da parte de grupos contrários à homologação, as autoridades afirmam que vão tomar medidas a fim de garantir a segurança no local dos festejos e no trajecto que de Boa Vista vai a Maturuca. Recorde-se que nas primeiras horas da madrugada de 17 de Setembro centena e meia de pessoas assaltaram e destruíram a escola indígena de Surumu. As reacções contra um acto tão bárbaro que destruiu as instalações da escola e da missão, não têm parado, designadamente a da própria administração da escola. Luta ainda não terminou Invadida por garimpeiros e fazendeiros, a terra dos índios foi reconquistada com uma luta pacífica e persistente de mais de 30 anos. Mais do que isso, os índios celebram a homologação da terra, isto é, o reconhecimento do direito de posse por decreto do presidente brasileiro Lula da Silva, de 25 de Abril passado, apesar da oposição de políticos e interesses económicos. O próprio governador do estado de Roraima decretara oito dias de luto aquando da homologação. A contestação à decisão presidencial tem-se mantido e culminou com a invasão e destruição da missão de Surumu a 17 de Setembro. Trata-se de uma campanha bem orquestrada que conta com o apoio dos meios de comunicação social da Boa Vista. Ainda ontem, 19 de Setembro, um pseudo-jornalista, claramente ao serviço dos interesses económicos locais, tentava deitar poeira nos olhos, insinuando que teria sido a Igreja (“a ordem da Consolata”) a destruir e queimar a missão de Surumu. Para tal recorria a uma “analogia comum a um facto histórico e criminoso: Adolfo Hitler mandando queimar o parlamento alemão, atribuindo tal facto ao partido comunista, promovendo intensa campanha na imprensa para justificar a a perseguição que faria aos comunistas, como de facto fez e, com isso, consolidando a ditadura nazista”. A sanha “jornalística” insurgia-se contra a presença do ministro da justiça, Márcio Tomás Bastos, na celebração da homologação. Com algum sarcasmo desejou ao ministro “que a dengue e a malária lhe seja leve”! Hoje começam as celebrações da homologação, mas dizia bem um missionário: “A festa dahomologação só deveria ser feita quando o último cultivador de arroz deixar a área indígena agora demarcada”. Ou ele se engana muito, ou ainda vai correr muita tinta – e que não passe disso! – sobre o caso da Raposa Serra do Sol.

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