Índios brasileiros querem o seu espaço sagrado

Representantes dos povos indígenas macuxi e uapixana procuram apoios para a campanha de defesa da sua terra Agosto será um “mês decisivo para os povos indígenas” – disse à Agência ECCLESIA Pierlangela Nascimento da Cunha, a representante dos povos indígenas macuxi e uapixana da reserva brasileira Raposa Serra do Sol, em Roraima (Norte do país). Esta manhã, Jacir José de Souza, de 61 anos, e Pierlangela Nascimento da Cunha, de 32, falaram à Comunicação Social sobre os problemas que os índios daquele Estado brasileiro enfrentam e promoveram a campanha «Anna Pata, Anna Yan» (Nossa Terra, Nossa Mãe) que procura apoios para esta causa. “Esperamos que a decisão de Agosto seja favorável porque não aguentamos sofrer mais”. “Somos um povo muito resistente e conseguimos resistir até ao último índio” – frisou aquela representante que foi nomeados pelo Conselho Indígena de Roraima. E avança: “queremos estudar para ajudar e defender os direitos do nosso povo”. A Terra Indígena Raposa Serra do Sol foi homologada pelo presidente Lula a 15 de Abril de 2005, por decreto presidencial, após 38 anos de luta organizada dos povos indígenas para conseguirem a homologação da sua terra. O decreto homologatório estabeleceu o período de um ano (até Abril de 2006) para a retirada de todos os não-indígenas da área mediante contrapartidas do governo federal. No entanto, os fazendeiros recusam-se a sair e continuam a ocupar grandes áreas do local. “Eles resistem a tudo e à lei” – disse Pierlangela Nascimento. Os nativos daquela região estão na sua própria terra com pessoas “que nos ameaçam e humilham o tempo o tempo todo” – denuncia. Neste conflito entre os índios e os fazendeiros, a Igreja tem sido fundamental. “Foi através dos missionários que nós começamos a pensar numa organização”. O primeiro grito foi: “não à bebida alcoólica”. O outro representante, Jacir José de Souza, sublinhou que “quando os fazendeiros foram para lá já sabiam que aquela região estava demarcada”. A produção “é deles”, mas a terra é nossa”. Estes dois representantes dos povos indígenas estiveram também, dia 2 de Julho, na Sala Paulo VI, do Vaticano, onde se encontraram com o Papa e entregaram-lhe o seu manifesto, no final da audiência. “Faremos tudo o possível para vos ajudar a protegerem as vossas terras”, afirmou Bento XVI, durante o encontro que foi mantido em sigilo a pedido do Vaticano, segunda adiantou a Rádio Vaticano. A campanha decorre em vésperas de uma decisão do Supremo Tribunal Federal do Brasil, que se pronuncia em Agosto sobre um recurso contra o “decreto de Homologação” assinado por Lula. As autoridades de Roraima consideram que as comunidades indígenas são muito pequenas para ocupar tanto terreno – 7% do Estado – e apresentaram um recurso judicial para recuperar parte da terra. Uma luta que trouxe mortes. Desde Maio de 2003, “alguns índios foram assassinados, casas incendiadas e foram destruídas missões”. O Pe. Mário Campos, missionário da Consolata, que trabalha com os índios daquele estado denunciou que “a polícia federal sabe o que se passa, mas os agressores não são punidos”. Por outro lado, os media brasileiros “também não prestam muita atenção a este tema”. Caso recuperem os terrenos, Jacir José de Souza salienta que haverá “festa com carne de boi”. E conclui: “aquele espaço é sagrado para nós”.

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